Header Ads

Gritos da República, por Inocêncio Nóbrega

Inocêncio Nóbrega
Jornalista
inocnf@gmail.com

Gritar pela República, ao contrário da Independência, não foi privilégio de um só, embora representado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Muitos foram quem o fizeram em várias partes e ocasiões neste País. Assim, ninguém sabe, com exatidão, qual o primeiro deles, nem de onde partiu. Na guerra civil dos Mascates, (1710), Bernardo Vieira de Melo propôs aos nobres de Olinda que a capitania de Pernambuco se erigisse em República. A manifestação de Felipe dos Santos, no governo do Conde Assumar (1720) e a Conjuração Mineira, de 1789, também tiveram inspirações nitidamente revolucionárias e republicanas, mas foram rechaçadas com violência e mortes. Na Revolução de 1817 perguntava-se qual a melhor forma de governo para o Brasil, e o armador Paes de Andrade respondia: “República e só República”! No Ceará, a Vila do Crato cedo proclamou a Independência, com sinais de republicanismo. No R. Grande do Sul, declara-se a República Rio-grandense (1835).  O manifesto de 1870 teria influenciado os goianos, os quais tinham em Oscar Leal seu líder maior, disseminando a ação republicana.






O discricionário ato de dissolução da Constituinte de 1823, por  Pedro I, aguça o espírito conspiratório,  rapidamente se espalhando por um sem número de sociedades secretas.  Para dar-lhe sustentação política o monarca cria o grêmio Coluna do Trono. Os patriotas respondem com as lojas Jardineira ou Carpinteiros de S. José. A maçonaria traz a experiência da França, e na freguesia de S. Gonçalo, Rio de Janeiro, funda a unidade maçônica “Distintiva”, porém foi impedida de funcionar pelos serviçais da “Guarda Negra”, legião secreta do Império. 

 Afloram periódicos, 74 deles em todo o Brasil, com variações de títulos, em função do ideário republicano, os quais sofreram implacáveis perseguições. O jornalista e agitador Borges da Fonseca editava o seu O Repúblico, ora na Paraíba, onde nasceu, no Recife e no Rio de Janeiro, ele que foi responsável pela abdicação de abril de 1831.  A Escola Militar aderira à causa, que tinha apostolado positivista.  Na Proclamação de 15 de Novembro havia 237 Academias Republicanas.

Na República, por sua própria conceituação, concebe-se a coisa pública diante do interesse privado. Essa, sua essência. Desse novo sistema nossos patriotas esperavam somente vantagens para o povo e para o País, a começar que não haveria mando hereditário. Iludiam-se por acreditar numa população unida sob pensamento único, que se transformaria num poder social supremo, cujo exercício de governo seria coletivo.  As vocações culturais, políticas, antropológicas, numa inabalável fé de futuro, superariam as forças partidárias e opostas. Conjugado com a liberdade e a democracia, numa convivência salutar, a prosperidade da Nação viria, inevitavelmente. Não contavam seus sonhadores que as turbulências econômicas e políticas, mais tarde expressas em sucessivos golpes de estado, pudessem inverter justamente aquele conceito. Ao contrário, prioriza-se a iniciativa privada, a dominar um estado mínimo, conduzido por pessoas sem compromissos com o crescimento do País, isto é, uma prática anti-republicana, e que  está ocorrendo, hoje, no Brasil, presidido por um constitucionalista que traz a história nos pés. 

Nenhum comentário

Os comentários neste blog passam por moderação, o que confere
ao editor o direito de publicá-los ou não.