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Gorila. Por Inocêncio Nóbrega


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Inocêncio Nóbrega
Jornalista
inocnf@gmail.com

Se montássemos nossa ascendência, indefinidamente, como seres humanos, esbarraríamos no topo dos primatas, os quais surgiram em terras africanas, há milhões de anos. Constituem um grupo de mamíferos, de semelhantes características, do qual fazem parte, entre outros, o chimpanzé, gorila, orangotango e o próprio ser humano. Nós, conquanto animal racional, portanto, pertencemos a uma espécie que evoluiu na sua formação física, esbelteza e inteligência, enquanto as demais estacionaram no monos, feios e macambúzios. Nesses dois grupos pode estar a comparação, ou mera aparência, entre o gorila e o homem militarmente fardado, de cuja ferramenta são as armas que trazem na cinta, manifestada pelos oprimidos durante os negros tempos da ditadura brasileira. Na prática, os militares eram discretamente vociferados, logo farejados por argutas pessoas carentes de liberdade, em forçados e incontidos murmúrios, evitando-se possíveis repressões. Davam-se os habituais confrontos no caminhar a seus quartéis, a pé ou de ônibus. Poucos, os automóveis. Os mais afoitos, arriscavam-se à sonorização da afronta.





Estivesse sob farda o soldado, ou oficial qualquer das forças armadas, e até da polícia, embora que no seu interior pudessem bradar sentimentos de brasilidade e de democracia, contudo resignados com espinhosa missão, naquelas horas, de cumpridores das ordens de um regime autoritário. Muitos deles saiam ciosos de casa por conta de inamistosos assédios de trocistas, carregados de justa indignação de que se revestia a população civil ordeira e mais politizada, jovem e adulta, que lhes dispensava, diariamente. Eu assisti a vários desses episódios, comungando com eles, embora moderadamente. Deixávamos para comentá-los, por vezes impiedosamente, numa linguagem coloquial no recesso de nossos lares, ou dividindo o feito com nossos amigos.

Não é assim que vemos, no atual cenário de mais um golpe de estado, um militar, salvo os Bolsonaro da vida e “golpistas de pijama”, no dizer da argentina Estela de Carlotto. Polidos e redemocratizados os verde-oliva da sua vestimenta ante nossos olhos já não representam o ódio, e sim a paz e a confiança. Ao invés do “gorila” e o “milico”, ontem, infelizmente o “golpista”, hoje, referimo-nos a outra casta de usurpadores do poder, por esse mesmo povo, parte do qual agora mais envelhecido, onde está uma juventude politicamente consciente, todos na defesa de seus interesses e da soberania da Pátria. Mesmo preterido na sua expectativa de futuro, por ver a democracia conspurcada, aos soltos grita nas ruas, praças, repartições, aeroportos, não poupando a ninguém, nem mesmo o ilegítimo presidente Temer, no Congresso Nacional, numa normal reação que chamamos de escrache, uma semântica de “gorila”. Acredito que inúmeros políticos e seus asseclas, salvo os que covardemente se escondem, alguns acenam com cinismo, já receberam esse tipo de  batismo. São saudosistas dos idos de 1964, tais como os mamíferos nossos parentes primatas, regrediram no pensamento de servir à humanidade, com justiça social. Cresceram, sim, na arte de diminuir o País, quebrando seu prestígio internacional, sucateando nossas riquezas.

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