Pioneiras do futebol feminino do Araguari A.C. ganham espaço no Museu do Futebol
Por Teresa Cristina Cunha
Com o tema "Visibilidade para o Futebol Feminino" a exposição que fará parte do acervo do Museu do Futebol, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, tem o objetivo de enriquecer o acervo do museu com a história da participação das mulheres no esporte. A abertura é dia (19) de maio, às 10h, em São Paulo, capital.
Fachada do Museu do Futebol. Foto: Divulgação |
De acordo com os organizadores, um espaço especial será reservado às Pioneiras do Futebol Feminino no Brasil, que marcaram sua presença nos campos oficiais na década de 50, colocando o futebol feminino no cenário só então reservado aos homens, e incomodando os machistas de plantão. As moças faziam parte de um time ligado à Federação Mineira de Futebol (FMF), Araguari Atlético Clube situado na cidade de Araguari (MG), e a intenção do criador do time, Ney Montes, que já foi até comparado com Charles Miller do futebol feminino, era de profissionalizar a modalidade. Após quase um ano de jogos, incluindo no roteiro três capitais, a CND - Confederação Nacional dos Desportos enviou em ofício embasado numa lei de 1940, proibindo a intenção de Ney.
Pioneiras do futebol feminino, foto em 1959 acima, e abaixo em 2009, reencontro após 50 anos. Fotos: Teresa Cristina Cunha |
Para Ormezinda da Silva Rodrigues, uma das jogadoras do time pioneiro, na época com 15 anos e hoje com 72, a notícia da participação da história das jogadoras araguarinas no Museu do Futebol em São Paulo veio com dose dupla de alegria "Fico muito feliz com a notícia da participação do nosso time pioneiro na exposição do museu do futebol. Primeiro porque é uma homenagem muito importante para todas nós pois a história ocupará um espaço muito importante. E segundo porque estará na minha cidade do coração, São Paulo, onde morei de 1961 a 1979, e guardo boas recordações", explica a lateral esquerda com um largo sorriso.
Já para Zalfa Nader, capitã do time, o espaço dará oportunidade aos visitantes de verem um trabalho que teve que ser interrompido drasticamente "Todas nós, que participamos na época do time, ficamos sem ação ao sabermos através da diretoria do Araguari Atlético Clube da proibição dos jogos.", afirma a ex-jogadora. Ainda, segundo Zalfa, o ano passado em 2014, as Pioneiras do Futebol Feminino, como são chamadas pela importante passagem e divulgação do futebol pelo Brasil na década de 50, duas ONGs reconheceram a história como autêntica e elas receberam homenagens "Em Belo Horizonte, recebemos homenagem durante a Copa do Mundo de Futebol Masculino, através ONG Cinefoot, na 5ª edição de mostra de cinema com o tema exclusivo sobre o futebol, e no Rio, no Palácio do Catete, mesmo lugar que foi decretada a lei de proibição do futebol feminino, fomos reconhecidas, pelas ONGs Redeh e Street Foot Ball World com uma exposição", informa a ex-lateral direita que depois de muitos anos de angústia vê que todas dificuldades que enfrentaram na época não foram em vão. "Hoje estamos agradecidas pelo reconhecimento da história e felizes por ver o futebol feminino conseguindo conquistar novos espaços", completa a pioneira.
Para Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do museu, o novo projeto visa atender a uma necessidade solicitada pelos frequentadores do espaço "Ouvimos os pedidos do nosso público e superamos uma lacuna do Museu do Futebol. Tornar mais conhecida a história da participação feminina no principal esporte do país visa também colaborar para o reconhecimento das atletas que há muito tempo batalham pelo direito de jogar bola”, diz a diretora.
A exposição traz novo formato de intervenções, onde o visitante tem a oportunidade de passar pelas salas, e descobrir as novidades, sinalizadas com uma medalha. Essa nova proposta tem o intuito de mostrar ao público que as mulheres sempre fizeram parte da trajetória do futebol brasileiro, mas quase nada se conhece sobre o tema.
Parte dos acervos foi garimpada junto às próprias atletas, com as quais se compartilhou a curadoria. Buscou-se o apoio de clubes e centros de memória no Brasil e no exterior. Centenas de fotografias, recortes de jornais e documentos pertencentes aos arquivos pessoais das jogadoras estão sendo digitalizados pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro para integrar os acervos do Museu do Futebol e da UFRGS.
Salas especiais e homenagens
A primeira intervenção é no Foyer do Estádio, onde serão homenageadas 24 jogadoras da Seleção Brasileira desde 1988 – a primeira formação - até 2015. Na Grande Área, hall de entrada do Museu, estão incluídas reproduções de objetos colecionados pelas atletas, como a primeira medalha da Seleção Brasileira no torneio internacional da China, em 1988.
Na sala Anjos Barrocos, as jogadoras Marta, eleita cinco vezes a melhor do mundo pela FIFA, e Formiga, há 20 anos na Seleção Brasileira, finalmente entrarão no panteão de ídolos do nosso futebol, como Pelé e Garrincha.
Na sala das Origens, será contada a trajetória dos primeiros times femininos no Brasil até a proibição, pelo Estado Novo, a partir de 1941. Reproduções de documentos e fotos do Reino Unido, França e Estados Unidos indicam que as mulheres jogam futebol desde os primórdios do esporte.
A mostra também abre espaço para histórias fora dos campos, como a de Anna Amélia Carneiro de Mendonça, poeta e entusiasta do esporte desde muito antes de seu casamento com o goleiro do Fluminense nos anos 1920, Marcos Carneiro de Mendonça. Ana Amélia publicou o poema “O Salto”, em 1922, introduzindo o tema do futebol na poesia brasileira.
Na sala Dança do Futebol, com roteiro do jornalista e escritor Marcelo Duarte, três vídeos mostram a história dos Clubes e Campeonatos nacionais; o jogo bonito de muitas atletas profissionais e amadoras e as pioneiras no esporte, com destaque a Léa Campos, a primeira árbitra FIFA no mundo.
A exposição conta com a parceria da Epson, Getty Images Brasil, da Rádio Central 3, do coletivo Guerreiras Project e do Centro de Memória e Esporte da UFRGS. A TV Bandeirantes cedeu as imagens para os vídeos. Também estão no apoio a jornalista Luciane Castro, a ex-jogadora e medalhista Juliana Cabral e o técnico René Simões que colaboraram com a programação do evento do museu e defendem a bandeira da visibilidade para o futebol feminino.
Ainda de acordo com os organizadores um site será lançado no dia (19) também com objetivo de trazer a agenda de atividades, vídeos, textos e acervos que serão pesquisados até o final do ano com o endereço: www.futebolfeminino.museudofutebol.org.br. A intenção é contribuir para a ampliação das fontes e registros sobre o futebol feminino.
SERVIÇO
Exposição Visibilidade para o futebol feminino
Onde: Museu do Futebol
Data: 19 de maio até 30 de dezembro 2015
Endereço: Praça Charles Miller, s/n – Estádio do Pacaembu
Preço dos ingressos: R$ 6 (inteira) /R$ 3 (meia-entrada para estudantes, idosos e professores).
Horário de funcionamento do Museu: 9h às 17h (permanência até as 18h)
* Pessoas com deficiência não pagam
* Crianças até sete anos não pagam
* Todos os sábados a entrada é gratuita
* Estacionamento no local com Zona Azul – R$ 5,00 válido por três horas. A venda na bilheteria do Museu
* Teresa Cristina Cunha é jornalista
* Teresa Cristina Cunha é jornalista
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