Olé!
Marília Alves Cunha
Desta vez para os touros. Os legisladores da Catalunha, região nordeste da Espanha, tornaram ilegal a realização de touradas. A região é a primeira a tomar a iniciativa de proibir esta terrível forma de crueldade contra os animais. É um passo pequeno na direção de extinguir a antiga tradição, pois lá existe apenas uma arena de touradas e são realizadas 15 por temporada. No país inteiro realizam-se quase 1000 por temporada. No entanto, talvez seja o início de uma luta para que a proibição estenda-se por todo o país.
“Há algumas tradições que não podem continuar congeladas no tempo conforme a sociedade se transforma. Não temos de banir tudo, mas as coisas degradantes devem ser extintas”, fala Josep Rull, deputado da região. Alguns propugnam pela continuidade da tradição, aos moldes de Portugal, onde o touro não é ferido ou morto e que constitui um espetáculo ridículo e insano, onde um monte de gente sem graça atiça os touros e depois sai correndo deles... Como a frequência às touradas tem se reduzido bastante, muitos acreditam que elas deveriam desaparecer por si mesmas, ao invés de se criar uma legislação específica, cabendo às pessoas o direito de escolher ou não comparecer à arena. Deveria também, por justiça, ser dado ao touro o direito de escolher o seu destino. À medida que se eleva o nível cultural de um povo aumenta o amor pelos animais e aquele sentimento justo de querer preservá-los e defendê-los. Um pensamento de Alberto Schweitzer sempre me vem à mente quando penso no assunto: ”Não me importa saber se um animal pode raciocinar. Só sei que é capaz de sofrer e por isso o considero meu próximo”.
Assisti, quando menina (há muitos e muitos anos atrás) alguns filmes envolvendo touradas. Tudo se passava num ambiente cheio de música “caliente”, capas vermelhas e espadas reluzentes, trajes típicos coloridos enfeitando os corpos esguios e flexíveis dos toureiros. Lembro-me especialmente do filme “Sangue e Areia”, em que o bonitão Tyrone Power fazia o papel de Juan Gallardo, famoso toureador dividido entre o amor de duas lindas mulheres. O mocinho morria no fim, pendurado nos chifres do altivo animal. Apesar de ser apaixonada pelo fascinante artista, para mim foi “happy end”. Sempre torci pelos touros...
Ao mesmo tempo em que vibramos com as boas novas, coisas outras nos entristecem profundamente. Navegando pela Internet, dia desses, vi uma notícia massacrante: no distante Afeganistão, meninos jogavam futebol. Até aí tudo bem. Apenas crianças brincando. Com uma diferença: a bola era um infeliz filhotinho, um pequeno cachorrinho maltratado e indefeso. Final da história: o pobrezinho foi salvo por um soldado e passava bem. Graças!
Que posso dizer destes meninos afegãos que não fazem diferença entre uma bola e um bichinho todo carne, ossos e sentimentos? Que posso dizer diante da miséria em que vivem, diante do escombro em que suas vidas se transformaram cercados pela crueza da guerra, diante de seus olhos sombrios acostumados a conviver com a morte e a violência? O que posso dizer do filhote, usado à guiza de bola?
Só posso pedir que nos perdoem mil e mil vezes pela nossa desumanidade, que expõe crianças e animais ao tormento de não serem mais crianças e não serem mais animais.
Marília, embora quase sempre em desvantagem, o touro tem um mínimo de chance em se defender. De vez em quando eles arremessam o toureiro para a cova ou para a desmoralização. Estou contigo nesta empreitada de proteção aos animais, pois legalmente chegaram à Terra primeiro que nós, segundo a Bíblia ou qualquer teoria de evolução das espécies. O homem não evoluiu. Ouvi uma história daqui que me deixou arrepiado e tal deve acontecer similar em todo canto e com requintes variados. O fazendeiro pra ganhar peso no gado de corte, no caso as vacas, deixam elas emprenharem e vendem como se gordas fossem. Pois bem, no matadouro, outro dia, uma vaca pariu no meio do caminho do abate. Jogaram a cria para o lado e empurraram a vaca pra seu cruel destino que ainda chorava mais forte. Tenha certeza que, Aquele que eu Louvo, não deixa isto impune.
ResponderExcluirMarília,
ResponderExcluirSua defesa reforça entre nós a luta da atriz francesa Brigitte Bardot, famosa por sua defesa dos direitos dos animais e que também comemorou a decisão catalã. As poucas arenas catalãs devem ser desativadas até 2012. Entre elas está a única arena ainda em atividade na capital regional, Barcelona. Com 68 votos a favor, 55 contra e 9 abstenções, o Parlamento catalão acatou um projeto de iniciativa popular com 180.000 assinaturas. Na Espanha o astro principal não é o touro é o toureiro ou matador, sempre premiado como herói e considerado como ídolo nacional. Em Madrid as touradas foram declaradas pelo governo da comunidade como “Bem de Interesse Cultural (BIC)”, semelhante ao nosso “patrimônio histórico e cultural”, com a finalidade proteger o valor “social e ecológico” da festa brava, como eles chamam a tourada. Daí se vê como é difícil para nós respeitar a cultura de povos distantes, quando para isso somos obrigados a tolerar crueldades. Talvez isso sirva de modelo para a nossa sociedade proibir os nossos rodeios, que semelhantes às touradas também é crescente o número daqueles que pretendem abolir essa festa. Os espanhóis já reconhecem que o número de pessoas nas praças de touradas está cada vez menor e aqui as praças de rodeios tem atraído público por conta da apresentação de artistas, desta vez com a presença de uma famosa cantora mexicana. Enfim, a humanidade, como disse o nosso filósofo, em nada progrediu a não ser na sofisticação da aparência tecnológica.