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Pirataria

Por Inocêncio Nóbrega
       Jornalista - inocnf@gmail.com    

Das constantes incursões estrangeiras, sobre o território brasileiro, praticadas a partir de 1555, pelos mentores da França Antártica, chegando-se a 1808, cuja abertura das Cortes, aqui instaladas, permitindo a vinda de inúmeras comissões científicas, criou-se  nos governos da Colônia, do Império e da República o hábito de omissão quanto à preservação de nosso patrimônio.  Sejam nossas riquezas do subsolo, da flora, da fauna e da cultura, ainda restam vulneráveis ante as nações mais poderosas.  Contabilizam-se, ao longo daquele período, cerca de 266 viajantes, nunca faltando dentre eles intenções de pirataria. Até a inteligência de nossos  patrícios sofreu algum tipo pilhagem.

A história do invento da máquina de escrever insere-se nesse contexto. No ano de 1823 o Governo da Província da Parahyba abre edital a aprendizes da arte tipográfica, a fim de atuarem numa tipografia moderna, que acabara de importar da Inglaterra. Francisco João de Azevedo preenche as exigidas condições e é logo contratado para compor e imprimir a Gazeta do Governo da Parahyba do Norte,  que surgiu em fevereiro de 1826. Para auxiliá-lo nessa tarefa levou consigo seus filhos, um deles mais se afina à arte. Ao mesmo tempo vocacionava-se ao serviço sacerdotal, ordenando-se pelo Seminário de Olinda, em 1838. Tornara-se, também, maçom, professor, musicista e mecânico. Assim era o padre Francisco João de Azevedo Júnior, nascido na Paraíba. A ele cabe, a bem da verdade, a primazia de idealizar a primeira máquina de escrever do mundo, observando a mecânica de um piano. Compunha-se de 24 teclas de madeira, as quais ao ser comprimida cada uma imprimia-se uma letra, e na sequência uma sílaba, uma palavra. A extraordinária invenção chegou a ser exposta no Recife e na exposição nacional do Rio de Janeiro, em dezembro de 1861, merecendo medalha de ouro do Imperador Pedro II.  Sem a ajuda oficial e doente não pôde participar, mais tarde, das amostras de Londres e de Filadélfia.

A criação de nosso inventor logo correu fronteiras. Certa feita recebe a visita de um tal John Pratt, que veio conhecer os detalhes de seu projeto a quem ingenuamente foram entregues, e só muito depois devolvidos, faltando os principais componentes.  Na terra dos galegos norte-americanos ele foi desenvolvido, comercialmente, pela E. Remington & Sons, constituindo-se puro ato de pirataria. Há quem atribua, ainda, a outro norte-americano, Christopher Lathan Sholes, veiculando-a a 1867. O  João de Azevedo morreu solitário, em 1880, decepcionado  com o descaso dos governantes. É hora de repararmos tamanha injustiça.

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