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Carta de meu padim


Por Inocêncio Nóbrega
       Jornalista - inocnf@gmail.com

Cícero Batista Romão, na graça do povo nordestino “meu padim, pade  Ciço”.  Intelectual, messiânico, líder espiritual de um catolicismo popular, considerado milagreiro, o que, ainda hoje, faz levar milhares de romeiros à Juazeiro do Norte. Vivente no estado oligárquico da República Velha, com o qual, salvo algumas restrições, se acomodava. Chefe político na sua cidade e prestígio em toda a região do Cariri cearense. Valia-se de sua coragem para embates políticos no Ceará, tomando partido, quando necessário, na defesa do Brasil. Surge, então, sua qualidade de nacionalista, claramente manifestada na carta que em dezembro de 1927 endereçou ao senador paraibano Epitácio Pessoa. Denuncia, em nome de Deus e da Pátria, negociatas e concessões feitas pelo Governo Federal a organismos estrangeiros, altamente lesivos aos interesses nacionais. Prega, na sua epístola, um “nacionalismo inteligente”.  Nela fala da exploração de nossas matas, do solo, das minas, enfim, de todas as riquezas da Nação.

Têm sentido tais revelações se as compararmos com as abundantes citações de Osny Duarte, em seu livro “Desnacionalização da Amazônia”, em relação aos tempos dos seringais.  Segundo ele, havia absoluta alienação da soberania brasileira, que premiava todo um esforço norte-americano de nos reconduzir, na prática, à condição de colônia. Basta lembrar o interesse do planeta pela internacionalização do Rio Amazonas. Bombástica a declaração de um presidente yankee (período 1909/13), em Congresso Pan-americano de Lima, de que “todo o hemisfério sul será nosso”! Certamente o servilismo do ministro Macedo Soares, praticado no ano anterior, de partilha da Amazônia em favor dos trustes do petróleo, tocou no coração do sacerdote.

Cem anos para frente esse cenário pouco muda. A Vale do Rio Doce, leiloada a preço de banana no governo de FHC, é dono absoluto das longas faixas de terra, as quais ocupa com sua mineração de ferro. Regendo-se por uma subconstituição nada amedronta descumprir a legislação do País. Ignorando a autoridade do DNPM atua em função de suas próprias leis. Há cinco anos estava inscrita no Cadim, deixando de recolher R$ 400 milhões em tributos, a começar pela Prefeitura de Paraupebas-PA, ICMS, PIS e Confins. Ninguém pode protestar em seus domínios, contra algo de errado que faz. Trem, que opera na sua área, tem provocado rachaduras em casas dos moradores da Casa Azul, que conduzidos por lideranças comunitárias reivindicam reparações, porém estão sendo processados. A multa, arbitrada pela empresa, de 50 mil reais, depois reduzido para R$ 5 mil, diários, pelo MP, no caso de infração. Situação que “padim Ciço” denunciaria, mas através de José Serra?

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