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Explique isso!

Neiton de Paiva Neves (*)

“A mídia social dá voz a uma legião de imbecis, que antes falava apenas no bar depois de beber uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade. Hoje, eles têm o mesmo direito de um Prêmio Nobel. É a invasão dos imbecis... O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”.

As palavras acima não são minhas. São de Umberto Eco, talvez o mais brilhante intelectual vivo, de saber multifacetado, escritor, romancista, filósofo, semiólogo, linguista, bibliófilo e provocador de acirrados debates.

Uma de suas obras, de 1964,lançada no Brasil no final da década de 70 , “Apocalípticos e Integrados”, é fundamental e revolucionou o conceito então predominante sobre a chamada cultura de massa.

 No livro, ele faz profundas e sérias reflexões a respeito, através de curtos ensaios, de leitura que não é fácil, porém, é agradável e estimulante.

Como se sabe, a cultura de massa nasceu dos meios de comunicação de massa, principalmente da televisão, e a todos e em qualquer lugar chegam com igual conteúdo, sem levar em conta a diversidade cultural existente.

Por isso, diz Eco, apocalípticos são aqueles queabominam osmeios de comunicação de massa,porque estão a serviço e são instrumentos do acasalamento entre o poder econômico que produz bens e a necessidadede vende-los, através de ostensiva e maciça propaganda e anúncios ou subliminarmente em seus programas, como os de auditório, telenovelas e  noticiários.

Os integrados, mais tolerantes, entendem que os meios de comunicação de massa têm aspectos positivos, pois possibilitam ao grande publico acesso às informações que nunca teve, assim contribuindo para sua formação cultural e ajudando a moldar certa unidade entre as manifestações artísticas, sociais, comportamentais etc., das variadas e diferentes classes que integram a massa.

Umberto Eco censura os dois lados, e vale a pena saber os motivos, mas não aqui.  O interessante é que, passados 40 anos, ele agora lida não com os clássicos meios de comunicação de massa, mas com o mais recente, ainda se fazendo, contudo de incalculável poder e influência, que é rede mundial de computadores, conhecida como internet, hospedeira das incontroláveis e incontroladas, redes sociais que critica.

São fenômenos deste tempo, sobre os quais se debruça e estuda Umberto Eco, com a vitalidade, a jovialidade, a lucidez e a independência de seus 83 anos, e certamente não devem ser sumariamente censuradas, mas carecem de efetiva fiscalização e de eficaz repressãopor abusos e destemperos de seus usuários.

Quando fez 80 anos e perguntaram a ele como se sentia, respondeu: “Mais velho”. Tem hoje 83 anos e fisicamente pode estar alcançado. Entretanto, cada vez mais lúcido e produtivo.

É testemunha e artífice de parte da história do século passado e deste, com direito de escrever e lançar agora seu novo romance intitulado “Número Zero”, no qual aborda não os meios de comunicação de massa e nem a internet, mas um jornal impresso e seu editor corrupto e chantagista, coisa antiga e atualíssima.

Quando surgiram o rádio e depois a televisão, os agoureiros disseram que jornais e livros iriam acabar; quando veio a internet, de novo anunciaram o mesmo.

No entanto, estes continuam firmes, vendidos nas livrarias do mundo inteiro e, surpresa, como e-books, disponíveisna rede. Livros e jornais, impressos e virtuais, convivem satisfatoriamente, para frustração dos profetas.
Continua acirrado o debate sobre os efeitos prejudiciais do uso desmedido do computador e afins sobre as pessoas em geral e os jovens em especial, mas isso é outra história.

E, curiosamente, hoje os livros mais vendidos nas livrarias não são aqueles escritos para serem lidos, mas os com desenhos dos mais variados temas, para serem coloridos!

Explique isso, se puder..

(*) Advogado. Membro da Academia de Letras e Artes de Araguari

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