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O bullying e o exemplo

Marília Alves Cunha -

Assistimos, nos últimos anos, a vários massacres ocorridos em escolas. Quem não se lembra de Beslan, quando morreram 385 pessoas, entre adultos e crianças ou de Columbine, quando dois estudantes descarregaram suas armas contra professores e estudantes? Nós nos sentíamos imunes a isto, este terror não era característico do Brasil, tudo acontecia em países distantes, bem longe de nós, apesar de nos afetar profundamente.

De repente, o choque: o Brasil entra numa trágica lista. No Rio de Janeiro, em Realengo, um jovem de 24 anos comete o massacre, atirando em várias crianças, com frieza e oportunismo, provocando 12 mortes e suicidando-se em seguida, a exemplo do que tantas vezes aconteceu em lugares distantes. Infelizmente, deixamos de estar entre as exceções.

O comportamento do criminoso e os motivos que o levaram a tal ato extremo é assunto para especialistas. Mas o acontecimento na escola de Realengo trás à baila um assunto importante e que pode ter efeitos catastróficos na formação de nossas crianças e jovens: o “bullying”, palavra inglesa que designa um tipo de violência mascarada sob forma de brincadeira, intencional e persistente e que vem acontecendo frequentemente em nossas escolas. Num curto espaço de tempo tomei conhecimento de vários episódios, entre eles o de uma adolescente que, cansada das críticas e agressões por parte de colegas, pede insistentemente à mãe que lhe dê remédios para parar de crescer. A escola, para a menina que adora estudar, transformou-se num inferno e a auto estima desapareceu... Em outro caso um garotinho de apenas 4 anos passou a sofrer violência psicológica e física constantes, por parte de um aluno mais velho. A troca de escola fez-se necessária, tal o pânico do menino agredido. Há casos em que o “bullying” transforma-se em caso de polícia, tal o agravamento dos fatos. É evidente que apenas isto não explica ataques como o ocorrido em Realengo. Mas pode sim ser um dos vetores da violência. O assunto precisa  ser tratado com extrema seriedade e atenção pelos pais e escolas, para que não prospere este tipo de “brincadeira”,  pernicioso tanto para quem sofre a agressão como para  os autores.

É de se notar também e ser motivo de reflexão o espaço enorme que a mídia oferece aos que cometem atentados como os de Realengo. De pessoas introvertidas, solitárias, anti-sociais, passam a ser foco de atenção. Sua vida é minuciosamente mostrada, seus gostos, seus hábitos, seus retratos, suas idéias doentias. Torna-se artista do Google, toma conta das telinhas, sua pessoa fica em enorme evidência por dias e dias.  Não seria este um dos objetivos, provocar comoção, espanto, horror e aparecer a qualquer custo? Não seria o sonho, sair do anonimato, do esconderijo, da reclusão para tornar-se assunto número um dos grandes meios de comunicação do país e até do exterior? E como não há nada tão contagioso como o exemplo, a influência deste tipo de ocorrência sobre pessoas transtornadas mentalmente pode ser perigoso e fatal.

Esperamos que esta tragédia que calou para sempre jovens brasileiros e enlutou tantas famílias seja apenas uma página amarga e triste de nossa história e que toda a sociedade se coloque pronta e evitar sua repetição. Que as nossas escolas sejam moradas da paz e da segurança e que nossos alunos possam frequentá-las felizes e sem receios. E que a educação seja colocada no lugar que lhe cabe, peça fundamental para o desenvolvimento do país. Repetindo Pitágoras de Samos:” Eduque o jovem e não será necessário punir o adulto”.

2 comentários:

  1. Marília, é claro que o caso brasileiro é mais fácil ser explicado pela doença mental do criminoso, mas em todas as formas parece mais apropriada a máxima: “a ociosidade é a mãe de todos os males”, ou: “o ócio é a casa do diabo”. O Governo Federal, por intermédio do Conselho Nacional de Justiça, já está distribuindo, desde o ano passado, uma cartilha sobre o bullying. Evidentemente que a prevenção será redobrada agora, depois da saída desse rapaz da escola com as marcas do massacre psicológico que sofreu na infância. É mais uma cautela que as escolas e pais terão com os estudantes, inclusive com as brincadeiras que fazem entre si, além dos cuidados com a violência que existe fora dos muros escolares.

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  2. Marília, isto é questão de saúde pública. VocÊ acha que tem psiquiatra sobrando por aí? É o profissional mais difícil de se marcar consulta e vivem mudando de escritório. Mesmo que se encontre este profissional, onde a consulta custa 300 reais ou 220 sem nota, a visita ao mesmo deve ser mensal e os remédios receitados não tem controle algum. O enfermo sempre deixa de tomar a medicação, como foi meu caso, e acabei entrando em crise. Fui para uma clínica onde a diária de internação custa 450 reais. Pode ter certeza que os loucos continuarão à solta, mas eu, no caso, já planejei um massacre num encontro de psiquiatras...

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