Roda viva
Marília Alves Cunha
Pode faltar muita coisa neste Brasil, o que não faltam são os escândalos. E acontecem em tal profusão que a grande maioria das pessoas não toma conhecimento ou dá pouca importância aos mesmos. O impacto que deveria ocorrer fica diminuído e até inexistente, mesmo que os fatos sejam graves e exijam uma reação responsável e consciente.
Recentemente estourou o caso da violação dos sigilos dos cidadãos, praticados pela Receita Federal. Fatos provados e comprovados. E não cola a desculpa de que isto já aconteceu em outro tempo, com outros personagens. Não pode acontecer e nem tampouco ser encarado com santa naturalidade, ouvidos moucos e “cara de paisagem”, como vem sendo.
Alguns não entenderam bem a história, contada com linguagem que dificulta qualquer possibilidade de comunicação com a massa. Um colunista de grande jornal mineiro faz uma comparação interessante entre o caso da quebra de sigilo fiscal e a relação do padre com o confessionário. O fiel confessa sua história e até seus mais íntimos pensamentos. Certeza absoluta de segredo. O confessor, depositário fiel das informações, ouve e se cala para sempre. No momento em que o cidadão entrega para o governo a sua vida, ele espera o sigilo prometido, o mesmo sigilo que encontra no sacerdote e confessor. Se o governo, através de seus órgãos, começa a revelar o que a ele é confiado, age como um padre a profanar o sacramento ou comporta-se como “os traidores que conhecemos na vida e na história”.
Outro escândalo grave bateu nos costados dos brasileiros e, parece, não deixou grandes arranhões. O tráfico de influência – quantos brasileiros sabem o que é isto? – verdadeiro balcão de negócios que foi instalado no Palácio do Planalto, mais precisamente no Ministério da Casa Civil. Envolvidos, de acordo com o apurado pela imprensa até o momento, a Ministra Erenice Guerra, filho, irmão, amigos (“Mateus, primeiro os teus”). A substituta de Dilma Roussef e mais um amontoado de beneficiados, usufruíram (supostamente) de cargos e livre trânsito no Palácio do Planalto para encher os cofres com valiosas propinas. A Ministra foi exonerada, murros foram dados na mesa numa indignação articulada, repleta de promessas de investigação caso as denúncias se configurassem como verdade. Mas ao mesmo tempo usou-se a expressão “factóide”. Significa: não existe fato, tudo não passa de invenção da imprensa. Mais uma vez um escândalo pode degenerar em nada...
Assistimos a tudo nesta temporada: o discurso da sedução e o discurso do medo. As promessas são infinitamente maiores do que os candidatos, pois vemos claramente a impossibilidade de cumprimento de grande parte. E as ameaças são constantes, uma delas no sentido de fazer o eleitor acreditar que as verbas federais para nossa Minas Gerais sofrerão um corte, caso o candidato PMDB/PT perca as eleições. Cristo!
Eu, cidadã mais que indignada, acredito ainda num Brasil melhor, numa nação consciente, que não enxergue a corrupção e a impunidade como coisas banais e sem maior importância ou que pelo menos as enxergue.
“Governar é bem mais que um concurso de popularidade.”
Eu compreendo a indignação da articulista. Afinal, grande parte da população não consegue decifrar o discurso político (não só o oriundo do PT). Por isso, esses escândalos não tiveram a repercussão que mereciam nem contribuíram, segundo as pesquisas, para a mudança de humor do eleitorado.
ResponderExcluirEu vou um pouco além. Enquanto parte do eleitorado sequer entendeu o que aconteceu, outra parte, na qual me incluo, não tem tanta certeza de que os fatos ocorreram como noticiado por parte da imprensa.
Digo isso porque, antes de engolir, é preciso mastigar a notícia. Em outras palavras, é necessário saber quem está publicando a informação. Já li, vi e ouvi várias notícias totalmente inverídicas ou erradas sobre apurados em processos nos quais atuei como funcionário público.
Sinceramente, tenho imenso medo de órgãos de imprensa irresponsáveis, sobretudo dos partidários. A Revista Veja, o Estadão e, em Araguari, o Correio de Araguari me dão nojo. Por isso, vejo com grande reserva tudo que eles publicam.
O que talvez a articulista não tenha captado é que nem sempre esses atos ilícitos ou imorais estão ligados a este ou àquele candidato. Fazer essa ilação, mormente em período eleitoral, é muito perigoso. Cansei de ver verdadeiras quadrilhas que agiam no serviço público sem o conhecimento das chefias.
Vejam, é aí que entra a maldade de parte da imprensa. Violar o sigilo fiscal da filha do candidato Serra pode ser uma atitude isolada de um servidor petista ou não. Igualmente, a ex-Ministra Dilma não pode ser responsabilizada por falcatruas feitas pela sua sucessora. Seria o mesmo que chamar São Pedro de pedófilo porque alguns (pouquíssimos) padres católicos violentaram crianças.
Em suma, entendo que esses fatos devem ser apurados, mas sem prejulgamentos, movidos, não raro, pelo calor de uma campanha eleitoral.
Quando o Fernando Melis citou a frase GOVERNAR É BEM MAIS QUE UM CONCURSO DE POPULARIDADE, complementou dizendo que ...GOVERNAR É A ARTE DE CONSTRUIR O FUTURO, O QUE MUITAS VEZES IMPLICA SER IMPOPULAR NO PRESENTE. O Merval Pereira, de O GLOBO, ainda disse QUE O LÍDER POPULISTA SE DIFERENCIA DO ESTADISTA PORQUE O PRIMEIRO PENSA NA PRÓXIMA ELEIÇÃO, ENQUANTO O OUTRO PENSA NA PRÓXIMA GERAÇÃO. O fato, porém, a dar-nos lição neste processo eleitoral, é que a popularidade está sendo obtida na periferia das grandes cidades, especialmente daqueles sem acesso às redes sociais. Representam um contingente enorme de população que não lêem jornais (usam para outros fins), não trocam emails, etc., não sabem o que você sabe. Isso é muita gente mesmo! 90% da população. Portanto, somos dois países! Por isso é melhor a sociedade repensar de um patamar de visão mais elevado, nós e os políticos, os presidentes de partidos e os eleitores, senão seremos todos massa de manobra de gente sem visão de futuro! E nisso está planejar não para 10%, mas para 100% da população, desconcentrando a renda e elevando o nível educacional. Diante da conveniência da desinformação para os populistas, não importa a vida pregressa dos candidatos, não importa se foi assassino, ladrão ou pervertido. Nem adiantará a lei da ficha limpa. Correremos sempre o risco da escolha de gente sem perfil, sem competência e sem ser exemplo para a juventude. A liturgia dos cargos passará a não ter importância no mundo e, como no submundo da barbárie, quem for mais truculento ganha a batalha!
ResponderExcluirCaro Marcos
ResponderExcluirSabe-se que foi um petista, à época(2009) que "solicitou" a violação de sigilo a funcionários da RF. O governo é o grande responsável por aquilo que acontece em suas instituições, principalmente quando ocorrem casos de tal gravidade, que ferem fundo a Constituição e são motivos de preocupação para a sociedade. E em nenhum momento do texto "Roda Viva" responsabilizei a candidata Dilma pelos lamentáveis acontecimentos envolvendo os filhos e afins da Min. Erenice Guerra, que foi inclusive exonerada do cargo. As notícias sairam em todos os jornais e revistas que tenho lido e algumas prestaram-se apenas a defender os acusados... Imparcialidade é uma coisa meio difícil de se conseguir... Até o momento não vi nenhum dos acusados processando revistas ou jornais por tão graves denúncias. E, Coitado de São Pedro, deixa ele quieto lá no além. São Pedro é santo há muito tempo, mas por aqui ninguém é santinho...
Um abraço,
Marília
Eu havia entendido que apesar de todos os escândalos amplamente noticiados eles não foram capazes de causar impacto ou alterar as pesquisas de intenção de voto, entendendo por isso que a pesquisa estava concentrada na população sem acesso a redes sociais e nem a jornais e revistas. Evidentemente que por ser o mundo uma Roda Viva tudo se explica. A falta de confiabilidade das notícias confirmam as palavras do Marcos e as repercussões foram bem descritas pela articulista. Nesse mundo de vaidades, mentiras e da busca da vitória custe o que custar tudo é usado e os eleitores menos informados são as vítimas inocentes de hoje e ao mesmo tempo serão as vítimas no futuro comprometendo a todos nós.
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