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Decadência

Alexandre Campos *

A Igreja Católica foi uma das maiores produtoras de cultura da história. Sua evolução milenar deixou marcas no espaço, nas tradições e na formação da identidade cultural dos povos sob sua influência. O século 20 foi decisivo na continuação desta hegemonia, colocando em cheque elementos da cultura brasileira.

Um dos exemplos mais palpáveis desta realidade é a abandono e a venda de suas propriedades espalhadas pelo país. Um vasto patrimônio cultural, custeado pelo povo, está sendo dilapidado por meio de negociações desastrosas. Lutar pela preservação destes elementos é fundamental para a valorização cultural de nossa história.

Com a disseminação de outras instituições religiosas, ela vem perdendo drasticamente “ovelhas de seu rebanho”.

As pentecostais estão ocupando os vazios deixados pela inércia da Igreja Católica. Com essa perda de fieis, perdem-se também em território, em poder político e cultural.

Estamos passando por um processo de miscigenação religiosa, deixando um legado cultural nas mãos da igreja católica, uma vez que as pentecostais raramente produzem elementos artísticos.

A decadência da Igreja Católica pode ser vista no cotidiano. Em varias cidades do país encontramos prédios, fazendas e até igrejas abandonadas, sendo corroídas pelo tempo. Grande parte deste patrimônio pertence ao povo, aos fieis, pois foi através de doações, campanhas ou pelo próprio trabalho destes, que a igreja construiu seu patrimônio. Tudo pertence aos que custearam sua existência.

Uma parte deste patrimônio cultural brasileiro está sendo vendido e destruído diante da incapacidade administrativa da Igreja, em péssimas negociações.

Um destes imóveis que corre grande risco é o Seminário da Penha, construído na década de 1950 por meio de doações de fiéis em SP, que pode ser demolido para dar lugar a um conjunto de lojas comerciais, desprezando seu potencial de adaptação ao novo uso. Em Araguari uma das principais perdas nesta área foi o Externato Santa Terezinha, demolido para dar lugar a um estacionamento.

As próximas negociatas que terminarão em perdas culturais poderão envolver o prédio do antigo Colégio Padre Eloi e algumas fazendas da igreja, na zona rural.

Um bom exemplo de preservação pode ser visto do Colégio Regina Pacis, doado pelos padres a uma instituição educacional de Araguari para ter um uso social. Após seu tombamento foi ocupado por uma universidade que utiliza o imóvel, conciliando a função atual com as necessidades da instituição, preservando parte desta história do município.

Nada mais justo do que o Estado intervir neste processo, uma vez que representa o povo. Urge a necessidade de tombamento e/ou a desapropriação destes bens, que já foram pagos pela sociedade. Estes bens devem ser utilizados em prol do população, garantindo sua perpetuação enquanto elemento cultural.

Diante da realidade pela qual a Igreja Católica se encontra, fica iminente traçar estratégias para garantir a preservação dos bens culturais, construídos pelo povo, que encontram sobre a posse desta instituição. Sua existência findará, mas continuará fazendo parte na história do povo brasileiro.

(*) Alexandre Campos, Bacharel em Geografia UFU e servidor público da Prefeitura Municipal de Araguari.

5 comentários:

  1. Que o catolicismo está decadente isto sim, agora que sua existência findará é uma baita profecia. O duro é tirar os ares de grandeza que imaginam ainda ter. Se as prefeituras começarem a exigir pagaemnto de impostos, aí sim haveria devolução dos bens doados a Santa Madre Igreja!

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  2. A vinculação do patrimônio com cultura, com decadência, intervenção do Estado, etc., precisa ser depurada em seus conceitos. A continuidade da obra da Igreja Católica não pode estar dependente de finanças ou patrimônio. Tenho a impressão que bastaria para sua manutenção a arrecadação obtida dos turistas da Capela Sistina e outros no Vaticano. Em vários países da Europa os contribuintes ao fazerem suas declarações de renda podem repassar parte dos impostos devidos para a Igreja. Na Itália os contribuintes destinam parte de seus tributos para a Igreja (0,8%), num total de quase R$ 2 bilhões por ano, em plena redução. Mas o que tem afetado essa redução são os escândalos com denúncias em todo o mundo de abusos cometidos por membros da Igreja contra crianças e jovens, podendo representar efeito devastador nas finanças, segundo declarações de oficiais do Vaticano (in “The Guardian”). No Brasil a Igreja possui: PUC's, colégios caros nas capitais, institutos, etc., que devem render os recursos necessários. Ela não recolhe dízimos; e compensa com coleta de pequenos valores mas manda parte para o Vaticano (óbolo de São Pedro). Somente o resultado das vendas de imóveis no Brasil dificilmente seria capaz de pagar suas despesas nem de proporcionar rentabilidade, inclusive pelos custos desses bens. A desimobilização (venda de patrimônio) dificilmente causaria o fim da Igreja Católica. A decadência (se existe), pode estar vinculada à queda da quantidade de fiéis (e não à decadência patrimonial), pode ocorrer mais em função de não demonstrar ou oferecer perspectivas espirituais para os seus fiéis; ao contrário, as concorrentes oferecem e prometem cada vez mais vantagens celestiais. Inversamente conseguem patrimônio na terra e no céu, mas estão sempre lembrando aos fiéis que não se devem acumular riquezas neste mundo.

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  3. Ainda considero confiáveis a igreja católica e o espiritismo, logicamente com alguma reserva, pois toda religião tem membros que ferem sua dignidade. Não acredito mesmo em religião que "cobra" dízimos, mesmo das pessoas mais pobres, que promete desemcapetamento total, que faz curas milagrosas nos vídeos e nas TVs, que alicia o povo o dia inteiro através de falsas promessas, que consegue ajuntar fortunas particulares através da exploração do povo e se aproveita da miséria, dos problemas e da desgraça alheia para amealhar seu poderio.Estou de acordo com Alexandre Campos: os bens culturais devem ser preservados. Para os desavisados e que não se importam com a nossa história e tradição, tudo deve ser transformado em estacionamento e Supermercado. Que m....

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  4. Há uma grande confusão em relação a conceitos vinculados a patrimônio histórico e cultura.

    O termo patrimônio histórico foi definido no Brasil, pela primeira vez, pelo Decreto-Lei nº 25 no dia 30 de novembro de 1937 que criou o SPHAN e definia o patrimônio histórico e artístico nacional como sendo "o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja do interesse público quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico". Eram também classificados como patrimônio "monumentos naturais, bem como sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela natureza ou agenciados pela indústria humana".

    A partir da definição de Patrimônio Histórico foram desenvolvidas a definição para:
    - Patrimônio cultural é o conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, devam ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo. O patrimônio é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje, e que passamos às gerações vindouras.
    - Patrimônio arquitetônico são construções representativas, que por seus estilos, época de construção, técnicas construtivas utilizadas, entre outros, possuem valor relevante.
    - Patrimônio artístico é definido como uma coleção de obras de pintura, arquitetura ou escultura, entre outras que traduzam manifestações estéticas de um povo.
    - Patrimônio cultural imaterial (ou patrimônio cultural intangível) é uma concepção de patrimônio cultural que abrange as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preservam em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras. São exemplos de patrimônio imaterial: os saberes, os modos de fazer, as formas de expressão, celebrações e os lugares, as festas e danças populares, lendas, músicas, costumes e as mais variadas tradições.
    - Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade é uma distinção criada em 1997 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para a proteção e o reconhecimento do patrimônio cultural imaterial, ou seja, as manifestações da cultura popular e os locais de expressão popular.

    Do latim patrimonium faz alusão à "propriedade herdada do pai ou dos antepassados" ou "aos monumentos herdados das gerações anteriores".

    Para o antropólogo Edward Burnett Tylor, CULTURA são práticas e ações sociais que seguem um padrão determinado no espaço. Refere-se a crenças, comportamentos, valores, instituições, regras morais que permeiam e identificam uma sociedade. É a identidade própria de um grupo humano em um território e num determinado período.

    De maneira suscita, Cultura é tudo aquilo que o Homem produz por meio de seus conhecimentos e experiências em determinado espaço de tempo e que pode ser transmitido a futuras gerações.

    Portanto, o que a igreja produziu ou incutiu na sociedade como crença, comportamento, valor, tanto material como imaterial não quer dizer que seja um patrimônio cultural, arquitetônico ou artístico que identifica um povo, tendo em vista que o próprio povo ou a sociedade como um todo não adotou tal patrimônio como sua própria identidade.

    A sustentabilidade do patrimônio cultural ou da própria cultura é um processo dinâmico e de reciprocidade. É uma via de mão dupla: patrimônio e sociedade.

    O que a igreja produziu e produz foram e são dogmas traduzidos em seu patrimônio arquitetônico e artístico que com o tempo foram considerados "cultura", portanto seu legado pode ser considerado como um patrimônio histórico perecível, sem sustentabilidade para gerações futuras, tendo em vista que as suas próprias celebrações assumem identidade com as celebrações neo-pentecostais.

    Nem mesmo a igreja preserva aquilo que é seu como valor relevante: sua identidade.

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  5. Fé e dinheiro juntos... não podia mesmo dar em boa coisa.

    E tome político canastrão, com doutorado em pilantragem, utilizando as estruturas religiosas e conduzindo os doces rebanhos para seus currais eleitorais.

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