Dr. Calil Porto
O patrono do Arquivo Público Municipal “Dr. Calil Porto” diagnosticou no ano de 1935 a até então desconhecida febre amarela silvestre
"Janeiro de 2008. O país após as festividades de Natal, foi surpreendido pela morte de várias pessoas contaminadas pela febre amarela, enfermidade que há muito tempo não dizimava e muito menos permeava os pensamentos dos brasileiros.
O fato gradativamente ganhou grandes proporções, gerando pânico na população que alertada pela mídia, correu desenfreadamente aos postos de saúde de todo o país a procura de vacina contra a doença, gerando inclusive em nossa cidade filas e falta do líquido imunológico.
Hoje temos conhecimento das duas formas da epidemologia da febre amarela, graças as descobertas do médico interiorano Dr. Calil Abrão Porto.
A febre amarela conhecida até a década de 1930 era a “urbana”, sendo o homem o reservatório do vírus e fonte para a infecção do vetor, o mosquito antropofílico, mantendo dessa forma o ciclo da virose. Portanto para a urbanização da febre amarela faz-se necessária a presença de vetores antropofílicos, como o Aedes aegypti, vivendo no domicílio ou peridomicílio do homem urbano, e a ocorrência da virose silvestre. Epidemias de febre amarela urbana relacionam-se a fatores sociais e climáticos, iniciando-se com a introdução de indivíduo virêmico em comunidade humana susceptível, residindo em locais infestados pelo vetor, em períodos de temperatura e umidade elevadas. O último relato da febre amarela urbana no Brasil ocorreu no Acre em 1942.
A doença na forma silvestre revela-se quando o homem é acometido acidentalmente quando penetra em florestas, que é exatamente o que ocorreu nos casos diagnosticados no Estado de Goiás e Minas Gerais. A enfermidade se apresenta clinicamente de forma variável desde um quadro febril inespecífico até quadros graves com mortalidade que chega a 60%.A prevenção e o controle se baseiam: na erradicação ou controle do vetor, através do uso de inseticidas e monitorização dos índices de infestação domiciliar pelo Aedes aegypti e na aplicação da vacina da febre amarela.
Esta distinção deve-se as pesquisas iniciadas pelo médico natural de Abadia dos Dourados- MG., Dr. Calil Porto. Tendo cursado a Faculdade de Medicina na cidade do Rio de Janeiro-RJ., o médico conviveu com dois expoentes da medicina nacional Carlos Chagas, professor e pesquisador das doenças tropicais e Rocha Vaz com qual teve estreita relação, fazendo parte de sua equipe. A influência o levou ao feito da descoberta da febre amarela no seu estado silvestre. Em 1935, residindo na sua cidade natal e exercendo sua profissão, chegaram a seu consultório onze pacientes originários da região de Rio Preto, apresentando febre alta e icterícia intensa. Quase todos foram a óbito, o quadro geral assemelhava-se com a malária, no entanto algumas particularidades despertaram o espírito científico do médico.
O que viria a seguir é digno de cenas projetadas nos filmes de suspense. Após o falecimento de um de seus pacientes, com a autorização de seu filho, o médico logo após o sepultamento com a ajuda do coveiro e do descendente, desceu a lápide e realizou uma “laparotomia exploradora” pós-mortem que lhe permitiu retirar um fragmento do fígado e enviá-lo para o professor Magarino Torres, titular de Anatomia Patológica do Instituto Manguinhos no Rio de Janeiro, para exames.
Suspeitando de ter encontrado comprovação da febre amarela silvestre que até então era apenas uma hipótese, Dr. Calil arriscou-se diante de uma sociedade interiorana. Após a confirmação laboratorial da descoberta, a Saúde Pública de Minas Gerais, premiou o jovem médico com um diploma e uma quantia monetária. Posteriormente, o fato veio a público no exterior e a Fundação Rockefeller sediada nos EUA, enviou a Abadia dos Dourados o Professor Sopper para confirmação dos resultados, o que aconteceu.
Dr. Calil Porto nos vários anos dedicados a medicina conquistou notoriedade. Outro feito do médico pesquisador, foi o diagnóstico da doença de chagas aguda, procedimento até então restrito às pesquisas de Carlos Chagas e às de Romaña na Argentina.
Calil faleceu aos 68 anos de idade, após ter residido em Araguari nas últimas décadas de sua existência. Nesse período, paralelamente aos trabalhos profissionais, usou seu espírito investigativo na busca por fatos históricos, revelando aspectos da memória de Araguari em colunas periódicas do Jornal Gazeta do Triângulo. Era muito considerado na cidade, um exemplo foi quando acometido por enfermidade, virou notícia nos jornais locais devido sua popularidade. Debruçando-se sobre documentos e livros antigos, descreveu várias facetas do município. Mas isto, já é uma outra história..."
Texto: Juscélia Abadia Peixoto e Aparecida da Glória Campos Vieira
Fonte: Dr. Calil Porto- Uma história de Ciência e de Humanismo- Celmo Celeno Porto e Lenita de Lourdes Porto, Ver. Goiana Med. 32: 93-96- Jan/Jun 1986. Febre Amarela Urbana: Está de volta? - Gláucia M. Q. Andrade, Heliane Brant Freire- Setor de Infectologia Pediátrica do HC – UFMG
Legendas: fotografias Dr. Calil Porto, caneta pertencente ao médico, anotações de Calil Porto sobre Araguari em papel timbrado de seu consultório médico. Materiais pertencentes ao acervo do Arquivo Público, doação de Celmo e Lenita Porto.
Mande suas sugestões, perguntas ou críticas para patrimoniofaec@yahoo.com.br A/C – historiadoras do Arquivo Público Municipal Dr. Calil Porto Juscélia Abadia Peixoto e Aparecida da Glória Campos Vieira
Arquivo Público Municipal Dr. Calil Porto R. Virgílio de Melo Franco, 11 – Apto. 02 Telefone: 3690-3043 Departamento da FAEC- Fundação Araguarina de Educação e Cultura
Realmente um vulto. Gostaria de saber um pouco, neste mesmo estilo, sobre o Doutor Domingos Rady, um personagem de Araguari que jamais esquecerei. Sei que ele comprava remédios com seu próprio dinheiro e medicava, pelas periferias, os necessitados. Que Deus o tenha!
ResponderExcluirA divulgação das coisas da cidade tem a força dos marketing's bem feitos. Esse evento em homenagem ao Dr. Calil Porto é mais um assunto que realmente merece destaque na imprensa e tem efeito incalculável nas mentes jovens da cidade. Tenho percebido de longe a morte rápida daquele sentimento de decepção, de complexo de inferioridade das pessoas quando se referem à cidade, esvaindo-se ao peso da repetição de grandes feitos. Parece-me que a sensação de melhoria da autoestima das pessoas sempre se modifica quando se ouve falar de alguma coisa boa de Araguari ou alguém importante filho da cidade. Enfim, está se afastando o pessimismo dos cidadãos com relação à grandeza de Araguari, com a capacidade dos conterrâneos unidos e sem medo promoverem o seu desenvolvimento e molhorarem a sensação de que moram numa ótima cidade ou ao menos moram numa ciade normal. Mas isso está sendo possível pelas mãos poderosas e invisíveis do Peron, do Aloisio, outras numerosas pessoas anônimas e atuantes, e agora sendo todos municiados pelo Arquivo Público Municipal. Parabéns, a todos, não desistam, especialmente porque não existem nessa grande tarefa vitórias pessoais, já que essa missão não tem tempo marcado para terminar, posto que a glória será de toda a comunidade e para os filhos da terra de agora e dos que ainda vão nascer.
ResponderExcluirAbraço.
Natal Fernando