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Mesmo que doa

Neiton de Paiva Neves

O ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio, previsto para 04 e 05 de outubro/2009, foi suspenso porque uma quadrilha de amadores driblou a segurança, igualmente amadora, teve acesso prévio às provas e propôs vendê-las por um bom dinheiro a jornais, cursinhos e congêneres.

O ENEM foi criado como uma alternativa ou complemento ao vestibular e segue modelo já adotado por outros países. A idéia é que os concluintes do ensino médio se submetam a uma grande e nacional avaliação e suas notas no ENEM sejam consideradas quando fizerem o vestibular ou valham para terem acesso direto a algumas universidades que eliminaram tal processo seletivo.

Em princípio é uma boa idéia e, com o tempo, pode diminuir o suplício e a agonia que centenas de milhares de jovens vivem a cada semestre ou a cada ano por conta do vestibular

Mas, constatar que as provas do ENEN também podem ser fraudadas por marginais espertos, com tudo pode, é um banho de água fria nas expectativas de todos quantos acreditavam na sua imparcialidade.

É verdade que desta vez a fraude não foi consumada, mas não há como saber se já se consumou no passado ou se no futuro consumará. Infelizmente, paira uma nuvem de desconfiança, de preocupação e aflição, entre alunos, professores, universidades etc. Só um enorme esforço pode resgatar a confiabilidade no ENEN, com data redesignada para 5 e 6 de dezembro/2009.

Desta vez, anunciam, as provas serão impressas em gráfica de alta segurança, daquelas que imprimem talões de cheques, por exemplo, para impedir vazamento. Pena não ter sido assim antes. Afinal, no Brasil, perto de quatro milhões de alunos vão fazer o ENEM e não é difícil imaginar a insegurança deles diante da quase-fraude e do receio de outra operação clandestina.

Meus comentários não são baseados em conhecimentos pedagógicos e educacionais, porque não os tenho. Falo apenas como curioso e estou entre os que entendem ser a educação uma área vital, essencial, para o desenvolvimento de um país e de seu povo.

Quanto cursei o 1º e o 2º graus (hoje ensino médio), eram matérias do currículo, além das básicas (português, matemática, história, geografia, química, física etc.), outras, como filosofia, sociologia, literatura brasileira e literatura estrangeira, canto orfeônico, desenho, francês, inglês, latim.

Qualquer aluno, os mais interessados principalmente, concluíam seus estudos daquela fase com uma ótima formação teórica e uma visão ampla e humanista, às vezes definidora de seu rumo e de suas opções na vida.

Na década de 60, técnicos oriundos dos Estados Unidos criaram a reforma da educação pública no Brasil, através do polêmico Acordo MEC/USAID (Ministério da Educação/United States Agency for International Development) que atingiu todos os níveis de ensino, eliminando matérias por eles consideradas obsoletas do currículo, tais como: filosofia, latim, educação política, e cortando da carga horária várias matérias, como história e outras.

A partir de então, a prioridade foi o contéudo técnico, apartado do conhecimento de valores humanistas, gerando profissionais teoricamente compentes naquilo que conseguiram aprender, mas quase sempre analfabetos e alienados quanto ao resto.

Recentemente, foi anunciada com destaque “a nova educação”, com mudanças na forma de transmitir e avaliar o conhecimento nas instituições de ensino. E essas transformações começam na alfabetização, buscam muito do passado e pretendem ensinar o aluno a pensar (ôpa! Isso é muito bom, mesmo que doa).

E o ENEM pretende ser o grande intrumento dessa mudança. É uma tarefa e uma responsabilidade muito grande que não pode decepcionar e nem ser fraudada.

5 comentários:

  1. Alvíssaras!

    Sempre que o "mestre" Neiton de Paiva se manifesta nos brinda com sua clareza, coerência e profundidade.

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  2. caro aloísio
    obrigada pela tua visita ao meu blog, pelo teu comentário. aproveito para enviar um grande abraço para o neiton, meu amigo na época da juventude. vou colocar o teu blog entre os favoritos, voltarei para ter notícias da terrinha! grande abraço!
    líria

    madeira do cerrado
    líria porto

    araguari ventania nasci já faz tempo
    o vento ainda e hoje me segue
    conversa comigo espalha meus medos
    alerta os perigos espanta meus versos

    lá tudo é tão plano a gente se aterra
    e quando mudamos o vento se apega
    agarra-se à alma impregna-se à pele
    até de repente levar-nos à febre

    então retornamos
    e ali nos enterram

    *

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  3. Neiton, no meu passado escolar, numa sala pequena, embora eu não colasse, vi inúmeras técnicas de colegas nesta arte, ou seja, nós somos fraudulentos pela própria natureza. O Ensino Público no montante é uma farsa. Alunos não são mais reprovados como se fosse uma geração de gênios. Não é justo fingirem que ensinam e depois fazerem uma prova de verdade. Eu dei uma olhada na prova vazada e o nível estava ótimo e a vergonha que os alunos iriam passar foi também adiada.

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  4. Prefeito, a dor da ignorância é pior do que a dor do esforço de romper com a inércia da falta de conhecimento. Entre decoreba e domínio da essência da história do conhecimento -- que capacita o estudante para a escolha consciente das coisas – estão as decisões de governo, as leis de diretrizes e bases da educação. O acordo MEC/USAID explica os atuais resultados daquela “aliança para o progresso”. É um misto de culpa da péssima situação financeira do Brasil depois de 1964, das conseqüências da imposição da ideologia capitalista, da guerra fria para impedir a instalação do comunismo no Brasil, etc. Tudo isso explica um pouco a luta da UNE à época que acabou na clandestinidade. Os EEUU assessoravam os países subdesenvolvidos, amigos, para que não caíssem nas mãos dos comunistas e ainda recebiam por essa assessoria, sabendo que estavam no ensino superior do Brasil os principais reacionários que pensavam e pensar não era bom para o desenvolvimento do país. Era melhor criar técnicos que dominavam seus assuntos, mas não sabiam muito bem das outras áreas, limitando as articulações, mas poderiam criar indústrias. De qualquer modo isso dava certo nos EEUU, era o modo de vida americano que eles estavam exportando para os países amigos; uma garantia de bons lucros por muitos anos futuros... E ainda poderiam acabar com o comunismo que justificava a guerra fria. Adotamos as concepções e a organização social, política e econômica dos EEUU, eliminando a possibilidade de discussão de ideologias nas Universidades. Um processo de colonização educacional sem poder recriar aqui as mesmas condições econômicas, culturais e políticas dos EEUU. De quebra, a comissão MEC-USAID “acabou calibrando toda a reordenação jurídica de nosso sistema educacional”, segundo Florestan Fernandes; por fim, reforçou-se o sistema de ensino privado, degradando o ensino público e fortalecendo “a idéia de que a educação, para ser responsável, precisa ser, sobretudo uma mercadoria.” Se o senhor está prevendo que os estudantes voltarão a pensar ideologicamente então a sociedade acordou ou amadureceu, criaremos pensamento autônomo, coincidentemente quando a economia americana demonstra declínio e queda do valor da sua moeda no mundo todo e o Brasil adotando moeda referencial própria nas relações comerciais com a China.

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  5. Antes, meu abraço ao amigo Neiton. Vale a pena aprender com ele... Tem coisas neste nosso Brasil que dá para pensar e repensar. O ENEM, por exemplo, não é novidade. Começou simplesmente como uma avaliação do Ens. Médio e agora se propõe a ser o vestibular geral, bilhete de entrada para as Universidades. A primeira tentativa resultou em fraude e decepção. Esperamos que haja um planejamento melhor, pois a tarefa é muito grande. E eu fico me perguntando: gastam-se milhões e milhões com avaliações do ensino no Brasil. A avaliação é um fim em si mesmo ou serve para mudar alguma coisa? Até agora a gente não viu nenhuma melhoria resultante destas avaliações, que vão desde o ensino fundamental até o curso superior. A qualidade continua péssima, os professores mal pagos e despreparados, currículos inconsistentes e em desacordo com as reais necessidades dos estudantes. Sempre, como professora, repeti este jargão: Ensinem as crianças a ler bem, compreendendo e interpretando o que leem. Ensinem as crianças a escrever bem, com idéias coordenadas, vocabulário mais vasto e criatividade. Incentive nas crianças o amor pela leitura e pelo saber. Prepare terreno para que se desenvolva nos jovens a consciência crítica e as atitudes positivas perante a vida. Se a gente conseguir isto, conseguiu tudo! Se algum leitor puder, explique para esta professora aposentada de que maneira as avaliações propostas pelos governos, até o presente momento, beneficiaram a educação. Até agora eu só vi gastança e mais gastança. Pessimismo? Uso outro nome: REALIDADE.

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