Falsas autorias
Neiton de Paiva Neves
Texto original, escrito por quem o assina, é hoje um desafio encontrar, porque se tornou praxe plagiar e copiar textos alheios e assiná-los como próprios. Isso não é novidade e nem surpreende mais.
Estranho é que estão aumentando os textos atribuÃdos a autores conhecidos, que não os escreveram. Isso também não é novidade, mas agora, com a internet, é rotineiro.
Antigamente, também ocorria. A frase de Pompeu (107-48 a.C.), segundo Plutarco, repetida por Horácio (65-06 a.C.), ”navegar é preciso, viver não é preciso“, citada por Fernando Pessoa em um de seus poemas, é atribuÃda ao grande poeta português (sem culpa dele), geralmente por quem nunca o leu, e tornou-se refrão não identificado na música “Os Argonautas”, de Caetano Veloso”.
Episódio tendo como personagens o Primeiro Ministro britânico Winston Churchill (1874-1965), e a primeira mulher a integrar a Câmara dos Comuns, Nancy Astor, hoje é contado por palestrantes, conferencistas e piadistas desinformados, como se tivesse ocorrido entre conhecidos seus. Não se lembram do episódio? Como é curta, eis a versão mais divulgada.
Winston Churchill discursava no parlamento. Nancy Astor, discordando do que ele falava, o interrompeu, furiosa, com um aparte: “Winston, se você fosse meu marido, eu colocaria veneno no seu café”. E ele, sem pestanejar, respondeu: ”Madame, se eu fosse seu marido, tomava o café”.
Há dois ou três anos, e - mails anunciaram que o escritor Gabriel GarcÃa Márquez, Nobel de Literatura em 1982, estaria à beira da morte e teria escrito um texto de despedida que fez muitos choraram. Eis uma parte: ”Se por um instante Deus se esquecesse / de que sou uma marionete de trapo, / e me presenteasse um pedaço de vida, / possivelmente não diria tudo o que penso, / mas definitivamente / pensaria tudo o que digo. / Daria valor à s coisas, não pelo que valem, / senão pelo que significam. / Dormiria pouco e sonharia mais, / entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, / perdemos sessenta segundos de luz...”. O escritor, vivo até hoje e lutando contra o câncer, desmentiu a autoria e foi mais além.
Também se afirma ser do grande escritor argentino, e um dos maiores contemporâneos, Jorge Luiz Borges, uma poesia denominada “Instantes”, jamais por ele escrita e do qual pinço: “Se eu pudesse novamente viver a minha vida, / na próxima trataria de cometer mais erros. / Não tentaria ser tão perfeito, / relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido...”.
No Brasil, ficaram célebres, por exemplo, os textos publicados como se fossem de Luiz Fernando VerÃssimo e Ziraldo, e que eles nunca redigiram:
Um dos atribuÃdos a Luiz Fernando VerÃssimo, sobre o uso de drogas (trecho): “Tudo começou quando eu tinha 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de “experimenta” (...) Primeiro ele me ofereceu uma coisa leve, disse que era “raiz”, “da terra” , que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco de Chitãozinho e Xororó e em seguida um do Leandro e Leonardo...”.
Um dos imputados a Ziraldo (trecho): “ Por que não vou economizar energia elétrica ? Porque enquanto eu amontoava as roupas para passar de uma só vez, o PrÃncipe, que nos chamou de caipiras, neobobos e fracassomanÃacos, que montou na cabeça de um nordestino, como se ele fosse um jegue, usava o dinheiro, que eu e você economizamos, para comprar votos no corrupto Congresso que temos...”.
Concordando-se ou não com o conteúdo dos textos falsos antes transcritos, com este, que não é mas dizem ser de Vinicius de Morais, concordo: “Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles...”.
Texto original, escrito por quem o assina, é hoje um desafio encontrar, porque se tornou praxe plagiar e copiar textos alheios e assiná-los como próprios. Isso não é novidade e nem surpreende mais.
Estranho é que estão aumentando os textos atribuÃdos a autores conhecidos, que não os escreveram. Isso também não é novidade, mas agora, com a internet, é rotineiro.
Antigamente, também ocorria. A frase de Pompeu (107-48 a.C.), segundo Plutarco, repetida por Horácio (65-06 a.C.), ”navegar é preciso, viver não é preciso“, citada por Fernando Pessoa em um de seus poemas, é atribuÃda ao grande poeta português (sem culpa dele), geralmente por quem nunca o leu, e tornou-se refrão não identificado na música “Os Argonautas”, de Caetano Veloso”.
Episódio tendo como personagens o Primeiro Ministro britânico Winston Churchill (1874-1965), e a primeira mulher a integrar a Câmara dos Comuns, Nancy Astor, hoje é contado por palestrantes, conferencistas e piadistas desinformados, como se tivesse ocorrido entre conhecidos seus. Não se lembram do episódio? Como é curta, eis a versão mais divulgada.
Winston Churchill discursava no parlamento. Nancy Astor, discordando do que ele falava, o interrompeu, furiosa, com um aparte: “Winston, se você fosse meu marido, eu colocaria veneno no seu café”. E ele, sem pestanejar, respondeu: ”Madame, se eu fosse seu marido, tomava o café”.
Há dois ou três anos, e - mails anunciaram que o escritor Gabriel GarcÃa Márquez, Nobel de Literatura em 1982, estaria à beira da morte e teria escrito um texto de despedida que fez muitos choraram. Eis uma parte: ”Se por um instante Deus se esquecesse / de que sou uma marionete de trapo, / e me presenteasse um pedaço de vida, / possivelmente não diria tudo o que penso, / mas definitivamente / pensaria tudo o que digo. / Daria valor à s coisas, não pelo que valem, / senão pelo que significam. / Dormiria pouco e sonharia mais, / entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, / perdemos sessenta segundos de luz...”. O escritor, vivo até hoje e lutando contra o câncer, desmentiu a autoria e foi mais além.
Também se afirma ser do grande escritor argentino, e um dos maiores contemporâneos, Jorge Luiz Borges, uma poesia denominada “Instantes”, jamais por ele escrita e do qual pinço: “Se eu pudesse novamente viver a minha vida, / na próxima trataria de cometer mais erros. / Não tentaria ser tão perfeito, / relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido...”.
No Brasil, ficaram célebres, por exemplo, os textos publicados como se fossem de Luiz Fernando VerÃssimo e Ziraldo, e que eles nunca redigiram:
Um dos atribuÃdos a Luiz Fernando VerÃssimo, sobre o uso de drogas (trecho): “Tudo começou quando eu tinha 14 anos e um amigo chegou com aquele papo de “experimenta” (...) Primeiro ele me ofereceu uma coisa leve, disse que era “raiz”, “da terra” , que não fazia mal, e me deu um inofensivo disco de Chitãozinho e Xororó e em seguida um do Leandro e Leonardo...”.
Um dos imputados a Ziraldo (trecho): “ Por que não vou economizar energia elétrica ? Porque enquanto eu amontoava as roupas para passar de uma só vez, o PrÃncipe, que nos chamou de caipiras, neobobos e fracassomanÃacos, que montou na cabeça de um nordestino, como se ele fosse um jegue, usava o dinheiro, que eu e você economizamos, para comprar votos no corrupto Congresso que temos...”.
Concordando-se ou não com o conteúdo dos textos falsos antes transcritos, com este, que não é mas dizem ser de Vinicius de Morais, concordo: “Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles...”.
O Neiton tem toda razão. Eu já fui plagiado pelo Chico AnÃsio e pelo "Casseta e Planeta" em duas frases desabafos publicadas no "Correio Braziliense", mas fiquei muito feliz, inclusive não publico livro não por total incompetência, mas por achar que as capas aprisionam os textos.
ResponderExcluirMais uma vez, Neiton de Paiva Neves nos brinda com erudição e leveza, aspectos raros de conciliar num mesmo texto.
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