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Shazam!

Neiton de Paiva Neves

Para minha geração, quando no início da adolescência, a mágica dos gibis era fascinante, com seus heróis, super-heróis, anti-heróis, vilões etc., colonizadores de nossas ávidas e ingênuas mentes.

Naquela época juvenil, era muito popular o Capitão Marvel, editado pela Fawcet Comics (não o outro, editado pela Marvel).

O personagem é Billy Batson, um jovem de bom caráter, que encontrou por acaso um poderoso mago egípcio, Shazam, e por este foi escolhido para ser um campeão da bondade, com superpoderes para essa missão.

Bastava que o jovem gritasse o nome do mago e caía sobre ele e um relâmpago, acompanhado do som (BOOOOM, nos quadrinhos) de um poderoso trovão, e ele se transformava no ser mais poderoso do mundo, o Capitão Marvel, detentor dos poderes de Salomão (sabedoria), Hércules (força), Aquiles (coragem), Zeus (poder), Atlas (vigor) e Mercúrio (velocidade). Quando pronunciava Shazam de novo, voltava ao normal. (SHAZAM é um acrônimo (é isso, professor Newton de Abreu?) com as iniciais de Salomão, Hércules, Aquiles, Zeus, Atlas e Mercúrio).

Com tais poderes, o Capitão Marvel conseguia resolver quase todos os problemas, salvando pessoas do perigo, cidades do desastre e o Mundo do fim. Mas, os problemas nunca acabavam e sempre apareciam pessoas precisando de ajuda, cidades necessitando de socorro e novas ameaças para a Humanidade, e lá estava o super-herói.

O principal adversário do Capitão Marvel era o Dr. Silvana, um cientista genial, dito maluco, capaz de sobrepor-se aos poderes do super-herói na sua luta do bem contra o mal e na defesa da paz, mas sempre perdia a parada.

Nas histórias em quadrinhos, no seriado e desenhos que vieram depois, a questão do bem e do mal é colocada de tal forma que um e outro são identificados apenas com um olhar, uma frase, uma situação. Mocinho é mocinho, bandido é bandido.

Ah!, como seria bom se na vida de quem não é super-herói fosse assim tão simples distinguir o certo do errado, o bem do mal, sem influência dos preconceitos e das motivações discutíveis ou menores, vindas de dentro e de fora.

Freqüentemente, a diferença entre o bem e o mal está sobre o fio de uma navalha, e a fronteira entre ambos é tão tênue e imperceptível que não dá para saber, facilmente, onde está um, onde está outro, o quanto estão misturados e se podem ser inteiramente apartados um do outro.

Essa dúvida, constante na vida de todos, tem sido objeto de discussões filosóficas milenares, e só pode ser enfrentada com algum êxito depois de muita análise, reflexão, coragem de escolher e de agir conforme a opção feita.

E, escolhas dessa natureza são sempre morais e éticas, trazendo inevitáveis conseqüências e refletindo no lado prático, cotidiano e material da vida.

Segundo os best-sellers de auto-ajuda as qualidades resumidas na palavra SHAZAM, estão dentro de cada um, e, esse é “o segredo”, “nós temos a força”, “podemos mudar nossa vida”, por aí afora.

Pode ser, porém, não há palavra mágica capaz de nos transformar em super-heróis e nem o Capital Marvel está à disposição para nos acudir. Somos condenados e premiados a ser só humanos e limitados a essa condição.

Condenados, porque criados com falhas e data de vencimento; premiados, porque dotados de qualidades e vocação para o infinito; limitados, mas num espaço e num tempo de contingente medida.

Quando descobri isso, simbolicamente, quase deixei de ser criança. Ainda bem que não deixei de todo e ainda curto os personagens das histórias em quadrinhos mantendo, lá no fundo, a esperança de ver um deles em ação.

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