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Pipocadas do Supremo, por Inocêncio Nóbrega




Inocêncio Nóbrega  
Jornalista
inocnf@gmail.com  

Cerca de 700 processos constam da pauta esperando julgamento, afirma Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal. Enfileiram-se exames de acusações criminais contra quase 200 legisladores e denúncias que atingem Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Justamente neste momento de incertezas políticas de nosso país, quando vem sendo bastante acionado para dirimir dúvidas divergentes, ligados ao impedimento da presidente Dilma Rousseff, parou para atender a uma ação da Associação de Exibidoras Cinematográficas, a fim de discutir se pipoca, refrigerantes e demais guloseimas, comprados em outros estabelecimentos, são proibidos de sua entrada nos cinemas.   Há um conceito de que pipoca alheia viola a Constituição.  Esse sobrestamento causou impacto nas redes sociais.





Depois das pipocadas uma peça, formulada por cinco deputados federais, cai nas mãos de Rosa Weber. Eles consideram que a palavra golpe representa uma ofensa gravosa a 513 de seus pares, por isso reclamam pela sua proibição.   A sonolenta ministra, que atuou na noctívaga sessão que liberou Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados, ela mesma quem condenou José Dirceu a 23 anos de prisão, segundo ela, embora não houvesse encontrado prova cabal, mas a literatura jurídica lhe permitia, resolveu deferir a demanda dos parlamentares. E o fez sob uma forma inusitada, concedendo prazo de dez dias para que a presidente explicasse por que usa o termo golpe.  Bem parecido com o ato de um governante brasileiro, o qual sem encontrar meios para sustar violenta virose que grassava na sua região, baixou decreto vedando a existência de gripe nessa área. De pronto, nossa primeira mandatária responde à interpelação: “Ilustríssima ministra Rosa Weber – Não tenho prova cabal, mas chamo de golpe porque a literatura jurídica, juristas, um Prêmio Nobel, dois prêmios Nian Chomsky, mais de 54 milhões de votos de brasileiros, imprensa internacional, movimentos sociais, organizações internacionais, personalidades de diversas áreas do mundo todo e o elenco do filme Aquarius me permitem”.

A decadência das instituições da nossa República já alcança esse patamar. O Congresso Nacional tem 60% de seus membros envoltos nos mais variados tipos de escândalo, incluindo tentativa de homicídio. Sem nenhum favor, considerado o pior Legislativo do mundo.  No Poder Executivo atual, um Ministério na sua quase totalidade composto de elementos dessa mesma qualificação, e um Judiciário bastante criticável por atos de alguns de seus membros, incompatíveis com sua simbologia perante a Nação.  Um deles, Gilmar Mendes, levando a público pouco dignas expressões, as quais não combinam com sua toga.  O STF é citado na gravação do diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado, executivo da Transpetro, como cooperante do “impeachment” da nossa presidente Rousseff, ao lado de comandantes militares, previamente sondados. O projeto consiste, também, na remoção da Lava-Jato, a partir do governo Michel Temer.

Deliberar sobre pipocas, censurar o uso do termo golpe, nacional e internacionalmente corrente, e mais esse petardo, nunca dantes esperado, como defender-se o Supremo de tais insinuações? Bem, termina aí sua supremacia, podendo se tornar réu ante o Supremíssimo Tribunal da História! No meu modesto entender, urge, sem mais delongas, uma reformulação profunda nos predicados da nossa República, para que nossos valores sejam restaurados.  Por vias políticas, em parceria com a sociedade.

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