Pipocadas do Supremo, por Inocêncio Nóbrega
Inocêncio Nóbrega
Jornalista
inocnf@gmail.com
Cerca de 700 processos constam da pauta esperando julgamento, afirma Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal. Enfileiram-se exames de acusações criminais contra quase 200 legisladores e denúncias que atingem Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Justamente neste momento de incertezas políticas de nosso país, quando vem sendo bastante acionado para dirimir dúvidas divergentes, ligados ao impedimento da presidente Dilma Rousseff, parou para atender a uma ação da Associação de Exibidoras Cinematográficas, a fim de discutir se pipoca, refrigerantes e demais guloseimas, comprados em outros estabelecimentos, são proibidos de sua entrada nos cinemas. Há um conceito de que pipoca alheia viola a Constituição. Esse sobrestamento causou impacto nas redes sociais.
A decadência das instituições da nossa República já alcança esse patamar. O Congresso Nacional tem 60% de seus membros envoltos nos mais variados tipos de escândalo, incluindo tentativa de homicídio. Sem nenhum favor, considerado o pior Legislativo do mundo. No Poder Executivo atual, um Ministério na sua quase totalidade composto de elementos dessa mesma qualificação, e um Judiciário bastante criticável por atos de alguns de seus membros, incompatíveis com sua simbologia perante a Nação. Um deles, Gilmar Mendes, levando a público pouco dignas expressões, as quais não combinam com sua toga. O STF é citado na gravação do diálogo entre Romero Jucá e Sérgio Machado, executivo da Transpetro, como cooperante do “impeachment” da nossa presidente Rousseff, ao lado de comandantes militares, previamente sondados. O projeto consiste, também, na remoção da Lava-Jato, a partir do governo Michel Temer.
Deliberar sobre pipocas, censurar o uso do termo golpe, nacional e internacionalmente corrente, e mais esse petardo, nunca dantes esperado, como defender-se o Supremo de tais insinuações? Bem, termina aí sua supremacia, podendo se tornar réu ante o Supremíssimo Tribunal da História! No meu modesto entender, urge, sem mais delongas, uma reformulação profunda nos predicados da nossa República, para que nossos valores sejam restaurados. Por vias políticas, em parceria com a sociedade.
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