Como os algoritmos definem o que você vê no Facebook e no Google?
Por Leyberson Pedrosa - Portal EBC - Eles estão por todos os lados. Quando você faz uma busca na internet, quando recebe uma notificação do WhatsApp ou, até mesmo, quando pede para seu computador “ejetar” um pendrive. O resultado dessas e outras ações ocorrem por causa de algoritmos, ou seja, de uma sequência de passos previamente programados que são executados para resolver alguma demanda.
Nas plataformas de redes sociais não é diferente. O Facebook utiliza uma série de instruções programadas para determinar o que devemos ver primeiro em nossa timeline (linha do tempo). É por isso que é comum encontrarmos tantos vídeos de filhotes em nossas linhas do tempo. Quanto mais assistimos, mais o algoritmo "entende" que queremos ver outros conteúdos iguais.
Não entendeu ainda como um algoritmo funciona? Fizemos um gif para exemplificar:
Facebook é acusado de alterar resultados de algoritmos
Recentemente, a empresa de Mark Zuckerberg foi acusada por ex-funcionários de que “seus algoritmos” e equipe estavam selecionando apenas notícias consideradas liberais para serem exibidas no Trending Topics (temas do momento). O recurso ainda não está disponível para todos os usuários brasileiros, mas é parecido com o Trending Topics do Twitter e conta com a participação humana no processo de revisão dos temas mais populares.
O site Gizmodo publicou reportagem alertando que as notícias mais populares exibidas pelo serviço costumavam excluir notícias políticas mais conservadoras e adicionar outras artificialmente. A reportagem trouxe depoimentos de ex-funcionários do Facebook, que eram responsáveis por fazer essa supressão da amostra gerada pelos algoritimos. O Facebook se defendeu publicamente negando qualquer manipulação nos dados e que os tópicos eram fruto do próprio comportamento dos usuários “percebidos por seus algoritmos” e revisados de forma neutra pelos curadores. Mesmo assim, Zuckeberg anunciou mudanças estruturais na metodologia do serviço.
A polêmica em questão ainda deve movimentar bastante o cenário internacional, mas o tema traz três grandes questões:
1) Qual é o limite para o uso de algoritmos quando o produto é a informação?
Na opinião de Ícaro Ferraz Vidal Júnior, pesquisador na Universidade de Perpignan (França) e membro do Medialab.UFRJ, os algoritmos contribuem para facilitar e personalizar experiência dos usuários. O que pode ser prático quando queremos encontrar determinado estilo de livro ou DVD em um site de compras. Nesse caso, os algoritmos analisam os dados de navegação do usuário e sabem que tipo de conteúdo ele costuma consumir.
Contudo, essa personalização pode virar um grande problema ao ser usado por outras plataformas. “É o caso de alguns portais de comunicação que hoje já estão conectados ao Facebook e/ou Google e que propõem uma experiência personalizada de navegação”. Vidal Júnior explica que, quando o produto é a informação, a seleção feita pelos algoritmos elenca, na verdade, temas que tem a ver mais a ver com o interesse do internauta e não com o interesse público.
“O efeito disso é uma relação com a informação enquanto cliente, mais do que na condição de cidadão que se informa sobre as coisas públicas".
De acordo com o especialista, uma solução seria as empresas como Facebook e Google adotarem uma direção editorial clara, “que eleja os temas sobre os quais os cidadãos não podem ficar indiferentes, mesmo que tais temas não correspondam aos interesses mais imediatos de um cidadão em particular“.
2) Os algoritmos são neutros?
Na computação, os algoritmos são entendidos como uma sequência de instruções que devem entregar algum resultado para determinado problema. Quando abrimos o Google e digitamos: “bolo de laranja sem lactose”, esperamos encontrar notícias ou conteúdos realmente focados nessas palavras-chave. Quem faz essa seleção são os algoritmos programados por desenvolvedores que estudaram a melhor forma de fazer isso e, na melhor das hipóteses, não entregar nenhuma receita que tenha leite em sua composição.
“Não acho que um gestor ou um programador do Google ou do Facebook sejam, pessoalmente, 'responsáveis’ pelas consequências políticas dos algoritmos que eles programam”. Para Ferraz, a objetividade de um algoritmo não significa que eles não possam ser questionados.
A objetividade tem uma história que foi marcada pela ação de atores muito heterogêneos: políticos, culturais, científicos, religiosos etc”, compara.
3) Comportamento imprevisível?
Em vez de imaginar que os algoritmos vão ganhar vida própria e dominar o mundo como ocorre em muitos filmes de ficção científica, o especialista propõe entendermos o usuário como aquele que pode, de fato, subverter o uso de um dispositivo inteligente. “A eficácia dos algoritmos está sempre sendo desafiada pelos usos imprevistos, pelas gambiarras, enfim, pela criatividade do usuário. Não dá para baixar a guarda e parar de pensar sobre o tema e pressionar as grandes corporações que monopolizam a programação dos algoritmos, mas também não dá para menosprezar ou vitimizar o usuário”, afirma.
Assim, para Vidal Júnior, as pessoas precisam se engajar nos debates e ter maior consciência sobre o que acontece nas “caixas pretas” de cada plataforma. “Acredito que a cobrança por transparência tende a crescer na medida em que o cidadão adquira consciência de como está implicado nestas controvérsias e em quanto pode ser perigoso este monopólio da programação dos algoritmos e do armazenamento de dados”. O termo “caixa preta” é usado para justificar o fato de que os passos que compõem um algoritmo não costumam ser revelados pelas empresas como ocorre, por exemplo, com os softwares de código aberto.
Relembre momentos em que o algoritmo do Facebook gerou polêmica
Não é só o Facebook que está envolvido em questionamentos sobre o uso editorial de seus algoritmos. De qualquer forma, ele se tornou o centro da polêmica devido a sua popularidade. Há várias situações em que o “comportamento” do algoritmo chamou a atenção dos usuários. Podemos listar alguns deles:
Bloqueio de nus: diferentes movimentos sociais, grupos e indivíduos começaram a questionar o bloqueio de fotos com nus femininos publicados no Facebook. Fotos com seios expostos costumam ser bloqueados devido à política de uso, enquanto nus masculinos ou cenas de violência explícita continuavam visíveis.
Bolhas de informação: o termo ficou popular após a timeline do Facebook selecionar os conteúdos a serem exibidos de acordo com o perfil de acesso do usuário. Quanto mais um internauta lê determinado tema, mais ele encontra informações sobre tal assunto. A crítica feita exatamente sobre a criação de bolhas de informação, impedindo que as pessoas tenham uma diversidade de visões em sua timeline. Ou seja, que vejam também ideias não compatíveis com as suas.
Vídeos engraçadinhos: para competir com o YouTube, o Facebook passou a moldar seus algoritmos para valorizar a exibição de vídeos. É comum encontrar mais vídeos na timeline do que outro tipo de conteúdo. Vídeos de crianças, gatinhos, cachorros e de outros filhotes costumam ser assistidos com maior frequência. Por isso, não é raro vermos uma timeline inundada de filhotes fazendo estrepolias.
Nas plataformas de redes sociais não é diferente. O Facebook utiliza uma série de instruções programadas para determinar o que devemos ver primeiro em nossa timeline (linha do tempo). É por isso que é comum encontrarmos tantos vídeos de filhotes em nossas linhas do tempo. Quanto mais assistimos, mais o algoritmo "entende" que queremos ver outros conteúdos iguais.
Não entendeu ainda como um algoritmo funciona? Fizemos um gif para exemplificar:
Facebook é acusado de alterar resultados de algoritmos
Recentemente, a empresa de Mark Zuckerberg foi acusada por ex-funcionários de que “seus algoritmos” e equipe estavam selecionando apenas notícias consideradas liberais para serem exibidas no Trending Topics (temas do momento). O recurso ainda não está disponível para todos os usuários brasileiros, mas é parecido com o Trending Topics do Twitter e conta com a participação humana no processo de revisão dos temas mais populares.
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A polêmica em questão ainda deve movimentar bastante o cenário internacional, mas o tema traz três grandes questões:
1) Qual é o limite para o uso de algoritmos quando o produto é a informação?
Na opinião de Ícaro Ferraz Vidal Júnior, pesquisador na Universidade de Perpignan (França) e membro do Medialab.UFRJ, os algoritmos contribuem para facilitar e personalizar experiência dos usuários. O que pode ser prático quando queremos encontrar determinado estilo de livro ou DVD em um site de compras. Nesse caso, os algoritmos analisam os dados de navegação do usuário e sabem que tipo de conteúdo ele costuma consumir.
“O efeito disso é uma relação com a informação enquanto cliente, mais do que na condição de cidadão que se informa sobre as coisas públicas".
De acordo com o especialista, uma solução seria as empresas como Facebook e Google adotarem uma direção editorial clara, “que eleja os temas sobre os quais os cidadãos não podem ficar indiferentes, mesmo que tais temas não correspondam aos interesses mais imediatos de um cidadão em particular“.
2) Os algoritmos são neutros?
Na computação, os algoritmos são entendidos como uma sequência de instruções que devem entregar algum resultado para determinado problema. Quando abrimos o Google e digitamos: “bolo de laranja sem lactose”, esperamos encontrar notícias ou conteúdos realmente focados nessas palavras-chave. Quem faz essa seleção são os algoritmos programados por desenvolvedores que estudaram a melhor forma de fazer isso e, na melhor das hipóteses, não entregar nenhuma receita que tenha leite em sua composição.
“Não acho que um gestor ou um programador do Google ou do Facebook sejam, pessoalmente, 'responsáveis’ pelas consequências políticas dos algoritmos que eles programam”. Para Ferraz, a objetividade de um algoritmo não significa que eles não possam ser questionados.
A objetividade tem uma história que foi marcada pela ação de atores muito heterogêneos: políticos, culturais, científicos, religiosos etc”, compara.
3) Comportamento imprevisível?
Em vez de imaginar que os algoritmos vão ganhar vida própria e dominar o mundo como ocorre em muitos filmes de ficção científica, o especialista propõe entendermos o usuário como aquele que pode, de fato, subverter o uso de um dispositivo inteligente. “A eficácia dos algoritmos está sempre sendo desafiada pelos usos imprevistos, pelas gambiarras, enfim, pela criatividade do usuário. Não dá para baixar a guarda e parar de pensar sobre o tema e pressionar as grandes corporações que monopolizam a programação dos algoritmos, mas também não dá para menosprezar ou vitimizar o usuário”, afirma.
Assim, para Vidal Júnior, as pessoas precisam se engajar nos debates e ter maior consciência sobre o que acontece nas “caixas pretas” de cada plataforma. “Acredito que a cobrança por transparência tende a crescer na medida em que o cidadão adquira consciência de como está implicado nestas controvérsias e em quanto pode ser perigoso este monopólio da programação dos algoritmos e do armazenamento de dados”. O termo “caixa preta” é usado para justificar o fato de que os passos que compõem um algoritmo não costumam ser revelados pelas empresas como ocorre, por exemplo, com os softwares de código aberto.
Relembre momentos em que o algoritmo do Facebook gerou polêmica
Não é só o Facebook que está envolvido em questionamentos sobre o uso editorial de seus algoritmos. De qualquer forma, ele se tornou o centro da polêmica devido a sua popularidade. Há várias situações em que o “comportamento” do algoritmo chamou a atenção dos usuários. Podemos listar alguns deles:
Bloqueio de nus: diferentes movimentos sociais, grupos e indivíduos começaram a questionar o bloqueio de fotos com nus femininos publicados no Facebook. Fotos com seios expostos costumam ser bloqueados devido à política de uso, enquanto nus masculinos ou cenas de violência explícita continuavam visíveis.
Bolhas de informação: o termo ficou popular após a timeline do Facebook selecionar os conteúdos a serem exibidos de acordo com o perfil de acesso do usuário. Quanto mais um internauta lê determinado tema, mais ele encontra informações sobre tal assunto. A crítica feita exatamente sobre a criação de bolhas de informação, impedindo que as pessoas tenham uma diversidade de visões em sua timeline. Ou seja, que vejam também ideias não compatíveis com as suas.
Vídeos engraçadinhos: para competir com o YouTube, o Facebook passou a moldar seus algoritmos para valorizar a exibição de vídeos. É comum encontrar mais vídeos na timeline do que outro tipo de conteúdo. Vídeos de crianças, gatinhos, cachorros e de outros filhotes costumam ser assistidos com maior frequência. Por isso, não é raro vermos uma timeline inundada de filhotes fazendo estrepolias.
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