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Dez anos depois, por Neiton de Paiva Neves

Neiton de Paiva Neves (*)
Artigo publicado originalmente na revista Evidência, edição de semtembro/2015.

“É quase certo não ter o leitor qualquer interesse por meus assuntos pessoais”.

Com a frase acima, iniciei um texto publicado nesta revista eescrito em 21/03/2006, sobreos seis meses, desde21/09/2005, sem Inês, amada, amiga, amante, companheira de muitos anos, na verdade muito poucos.
Recentemente, li um belíssimo livro, OBRILHO DO BRONZE, no qual o autor, Boris Fausto (respeitado cientista político e historiador) fala, também, sobre seu luto pelo falecimento de sua mulher, Cynira. O livro me tocou muito, ao ponto de voltar a escrever sobre o meu, depois de dez anos.       

O que mudou de lá para cá? Nada e muito.

Como antes, sigo achando que, como ninguém é perfeito,relacionamento perfeito não existe. Mas, tivemos uma convivência boa, bonita, marcada pelo amor, pelo carinho, pela amizade, pela tolerância, pela aceitação das falhas recíprocas e dos temperamentos de um pelo outro, e ela foi uma vigorosa e fundamental parceira de minha vida e a ela devo muito do pouco que sou.

Vivemos momentos e fases de intensa alegria e episódios de indescritível dor, que nos deixaram marcas definitivas, levando-nos a estar sempre prontos para rever e repensar nossos conceitos e projetos, o que nos tornou ainda mais próximos, rindo ou chorando juntos,um escorando o outro.

Tinha uma enorme energia interior, uma força vital, uma alegria visceral de viver, de se comunicar, de ajudar as pessoas.

Enquanto participei da política, foi a mais próxima, a mais dedicada,a mais participante, a mais leal companheira e conselheira.

Sua comunicação com Deus era permanente e seu diálogo comigo, com nossos filhos, familiares, amigos e amigas, com todos que dela se aproximavam, brotava de maneira espontânea, ágil, jovial, bem humorada, e, quando necessário, afirmativa, forte, enérgica.

Mãe carinhosa, devotada, apaixonada, foi filha exemplar, carinhosa e zelosa, de sua mãe e de minha mãe, de seu pai e de meu pai; atenta e afetuosa com seus irmãos e irmãs, sobrinhos, sobrinhas; amiga de suas amigas, das quais tanto gostava.

Tínhamos muito em comum, como o gosto pelos livros, que a fez se tornar e atuar como bibliotecária, tendo a biblioteca do SESEC recebido o seu nome, em tocante reconhecimento de suas colegas de trabalho.

Também, apreciar música (daí as citações musicais feitas no texto de anos atrás), filmes, viagens, boa comida, um bom vinho, eram alguns de nossos prazeres e nos alimentavam o físico e a alma.

A preocupação com a justiça social, aliada ao trabalho e apoio às ações em benefício das pessoas carentes, foi intenso em sua vida.Dentremuitas outras iniciativas, na década de 1980, ajudou na criação da creche“Pingo de Esperança”, no bairro São Sebastião, cujo prédio próprio foi inaugurado em dezembro de 2010, com a denominação de Centro Municipal de Educação Infantil Inês Vasconcelos de Paiva Neves, em sua homenagem.

 É claro, tivemos nossas discordâncias, e ela defendia com garra seus pontos de vista, temperando a convivência. As “brigas” existiram e o melhor delas foram sempre fazer as pazes. Nas diferenças nos reconhecíamos; nas afinidades nos confundíamos.

Hoje, as feridasque ficaram em minha alma e em meu coraçãoainda estão vivas. Mas, enraizando umsentimento muito mais de alegriae gratidão pelo dom do tempo em que estivemos juntos do que de tristeza. E a lembrança terna e a saudade eterna, que me estimulam a viver e a conviver,consciente de que pessoas melhores do que ela podem existir, mas iguais não, assim como ocorre comigo e com todos. Afinal, como bem disse o poeta, “Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar” (Drummond).

Mário Palmério, personalidade fascinante, escritor, embaixador, compositor etc., tem uma música da qual gosto muito. Chama-se Saudade, guarânia composta em espanhol e com versão em português. Com esta me identifico mais e para encerrar a transcrevo,sem, por impossibilidade óbvia,a suave e fluente música que a completa, o que é uma pena: “Se queres compreender/ o que é saudade/ Terás que antes de tudo compreender/ Sentir o que é querer e o que é ternura/ E ter por bem um grande amor viver!/ Então compreenderás o que é saudade/ Depois de ter vivido um grande amor/Saudade é solidão, melancolia/É nostalgia, é recordar, viver/ Saudade é solidão, melancolia, É nostalgia, é recordar, viver...”

 (*) Neiton de Paiva Neves é advogado, ex-prefeito de Araguari e membro da Academia de Letras e Artes de Araguari.

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