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Livre da bebida alcoólica

Foto: Gazeta do Triângulo
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Ana Maria Campana (*)  

Tenho 60 abençoados anos de vida e, portanto, venho de uma geração onde certos vícios (então chamados ‘hábitos’) eram incentivados. Cada época tem as suas mazelas e em minha juventude era ‘chique’ fumar e beber.

Aos 16 anos aprendi a saborear bebidas alcoólicas e também fumar. Embora de início ambos fizessem parte esporádica do meu dia-a-dia, foram se consolidando e digamos, lamentavelmente ‘tomei gosto’.

Até hoje fumo cigarros de papel. Não me interessei em momento algum experimentar maconha ou qualquer outra droga. Apenas cigarros de papel, com filtro branco, de preferência.

Quanto à bebida, esta realmente me fascinou. Não bebia para esquecer, apenas porque o sabor do líquido era muito agradável ao meu paladar.





Minha predileção sempre foi Campari. Uma boa dose para mim era o melhor de todos os paladares e, de gole em gole normalmente, uma garrafa era consumida nas noites de São Paulo onde nasci e vivi até os 28 anos quando me mudei para Araguari. A companhia de amigos e boa música completavam as minhas noites ou reuniões entre familiares e amigos.

Com o passar do tempo e consequente diminuição de meu poder aquisitivo, experimentei outras bebidas – sempre os destilados. Provei todas as marcas disponíveis no mercado, variando de acordo com o ‘sabor’ que me apetecia em cada ocasião.

Porém, socialmente falando, era difícil fazer parte dos grupos, uma vez que apenas eu ingeria bebidas destiladas e praticamente todos, preferiam cerveja, mas isso não se constituía problema, pois eu sempre levava a minha bebida.

Um dia resolvi aderir à cerveja, por parecer mais barata e também ser facilmente encontrada nas rodas sociais e no comércio.

De latinha em latinha, fui me enveredando.  Passei a comprar uma caixa, depois quatro e por fim, seis caixas de latinhas abasteciam o mês. Parecia-me natural chegar do trabalho e tomar umas três latinhas e, especialmente aos sábados, fazer minhas tarefas domésticas tomando cerveja tornou-se agradável.

Porém, fui sentindo, para minha surpresa, que deixei de ser ‘a imbatível’, aquela que poderia beber a noite toda ‘e não ficar tonta’.

Aos 57 anos percebi que apenas três latinhas eram suficientes para alterar minha estabilidade, pois comecei a não me lembrar das tarefas executadas ou não, mas continuei meu ‘hábito’.

Num final de semana antecedente à Quaresma, acordei num domingo e literalmente não me lembrava dos fatos do sábado anterior: teria eu saído de casa ou feito o costumeiro alimento para a semana? Simplesmente nada foi recordado e, para minha surpresa, abri a geladeira e pude perceber que o alimento ali estava: feito e acondicionado por mim, afinal, moro sozinha. Esse fato me preocupou e serviu de alerta, mas não desisti.

Na sexta-feira Santa daquele ano (2012) embora tenha amanhecido com o pensamento de não beber, recebi a agradável visita de um casal de amigos. Pronto: motivo suficiente para comprar uma caixa de cerveja para eles e outra para mim uma vez que apreciávamos marcas diferentes.

Outro hábito que sempre cultivei: primeiro beber e depois, talvez comer. No entanto, naquele dia, apesar do almoço delicioso preparado por meu amigo, quando eles se foram eu tornei a beber mais algumas latinhas e fui dormir literalmente tonta.

No sábado de Aleluia, amanheci abençoada. Nosso bom Criador me livrou do vício da bebida alcoólica. Passei o dia meditando que, por ser filha de Deus perfeita, não precisava da ‘muleta’ chamada álcool. Deixei naquele dia de ingerir bebidas alcoólicas.

Considero que tenha sido um alerta recebido quando dias anteriores, não me lembrei de fatos corriqueiros; então, nada mais justo do que me livrar deste vício. Não preciso de bebida para usufruir desta vida maravilhosa que Deus me deu e tenho certeza que ninguém precisa beber.

Reconheço que motivos não faltam: alegria, tristeza, interação social, mas nada se justifica o mal causado a nós mesmos e àqueles que realmente gostam de nós.

Sou a prova viva de que: basta persistência e tudo é possível. Não deixei de apreciar o gosto da bebida, apenas não quero mais ingerir esse líquido, pois me conscientizei que não preciso dela e mais, ela estava me fazendo mal, física e psicologicamente. Continuo visitando amigos, participando das mesmas rodas com pessoas que bebem ou não, porém, agora orgulhosamente levo uma embalagem de suco e assim posso usufruir realmente, de tudo.

Não se iludam: bebida não ‘chama’ amigos. Apenas une momentaneamente as pessoas.

Agradeço a cada um pela paciência em tomar conhecimento deste lado da minha vida do qual, confesso, não me envergonho, mas estou literalmente feliz por essa libertação.

Até a próxima!

(*) Ana Maria Campana é jornalista.
Artigo publicado originalmente no Jornal Amorim, edição de março de 2015

3 comentários:

  1. Parabéns Amiga Ana Maria ! Fiquei deveras emocionada com sua história. Eu já conhecia parte dela, pois somos amigas e colegas de trabalho no Jornal Gazeta do Triangulo e voce já havia me contado muitas das suas passagens da época das " vacas gordas" e depois das suas muitas dificuldades.
    Sei que foi uma grande vitória na sua vida, só pessoas fortes que conseguem depois levar a público esse tipo de depoimento. Vou imprimir para levar a outras pessoas. Abraço.

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  2. Parabéns Ana Maria pela resiliência, pela coragem, e pelo exemplo. Faz 10 anos que parei de fumar e me sinto muito bem também, mas já quanto aos vinhos, daí, né !

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  3. Impossível não agradecer, primeiro a Deus pela minha libertação, depois, ao amigo João Caixeta que me permitiu publicar no Jornal Amorim pela primeira vez esse desabafo, agora, ao querido amigo Aloisio Nunes de Faria por tornar ainda mais visível este meu depoimento e a todos que dedicaram um tempo e leram meu relato. Muito obrigada

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