Doutor Geraldo
Neiton de Paiva Neves (*)
Com certeza, estarei falando para iniciados, pois, quem não conhece Geraldo França de Lima?
Provavelmente, para muito poucos, direi novidades sobre o primeiro e único filho de Araguari a chegar à Academia Brasileira de Letras, secular e mais importante instituição cultural do paÃs, cujo primeiro presidente foi o maior de seus escritores, Machado de Assis.
Nascido em Araguari no dia 24 de abril de 1914, Dr. Geraldo, como, entre o respeito e a admiração, o tratávamos, teve uma rica história de vida. Foi aluno do Colégio Regina Pacis, estudou em Barbacena, onde passou bom tempo e teve destacada presença no meio estudantil e cultural.
Lá, conheceu e tornou-se amigo de outro consagrado escritor mineiro, João Guimarães Rosa e do conhecido escritor francês, Georges Bernanos, que, para escapar da sanha nazista, foi viver naquela cidade como asilado.
No Rio de Janeiro, então capital federal, formou-se em Direito, trabalhou como revisor de jornal, advogado na Estrada de Ferro Central do Brasil, na Procuradoria e na Consultoria Geral da República, foi professor de Literatura e, mais tarde, assessor do Presidente Juscelino Kubitschek e de Tancredo Neves, quando Primeiro Ministro no governo parlamentarista.
Publicou inúmeros artigos e ensaios na imprensa, mas sua estreia oficial na literatura foi em 1961, quando foi lançado seu primeiro livro, Serras Azuis, recebido com elogios pela crÃtica e ganhando o Prêmio Paula Brito Revelação Literária.
Em seguida, vieram Branca bela, Jazigo dos vivos, O nó cego, A pedra e a pluma, a Herança de Adão, A janela e o morro, Naquele Natal, Rio da Vida, Folhas ao léu, Sob a curva do sol, Os pássaros e outras histórias e O sino e o som, formando um conjunto de obra aclamada pelos seus leitores e pela crÃtica especializada.
Era homem simples e de hábitos modestos. Culto, poliglota, famoso, imortal, laureado, vinha sempre a Araguari, onde estavam suas raÃzes, seus familiares, seus amigos e admiradores, como eu próprio. Conversava com todos e a todos dedicava tempo, atenção, palavras, acolhedoras e estimulantes. Um gentleman impecável.
Ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 19 de junho de 1990, foi recebido pelo acadêmico e amigo Antônio Olinto, com um alentado discurso, do qual destaco este trecho:
Vossa obra está traduzida em todos os continentes, em dezenove lÃnguas, discutida, comentada em mais de setenta universidades, e, sem exagero, sois um dos brasileiros mais lidos no exterior. Possuis o raro dom de saber comunicar-vos não só no vernáculo, quanto em inglês, Espanhol e italiano, que com sombranceria dominais.
E, aonde chegava um livro de Geraldo França de Lima, e estão em várias lugares e em muitos paÃses, chegava também a Araguari que ele amava, porque embora cosmopolita sempre falava sobre a cidade que levava no coração e na lembrança.
D. Lygia, sua mulher e companheira, a quem ditava seus livros depois que perdeu a visão, faleceu em 2002. Como ela era o amor de sua vida e a luz de seus olhos, também ele foi se apagando e morreu pouco depois, em 22 de maio de 2003, no Rio de Janeiro, mais de tristeza e de saudade do que por qualquer outra razão.
Parece que Araguari e os araguarinos não prestamos ao Dr. Geraldo, em vida, o reconhecimento e as homenagens que mereceu e recebeu muitos lugares.
Por isso, para me redimir, pelo menos em parte e quem sabe a todos, registro nosso orgulho e a gratidão ao grande escritor e figura humana que ele foi, e deixo meu forte e afetuoso abraço ao sobrinho de quem ele tanto gostava e meu amigo querido, Milton de Lima Filho, Miltinho, na esperança de que o receba e o estenda a todos os familiares, neste centenário de nascimento do inesquecÃvel tio.
(*) Advogado
Com certeza, estarei falando para iniciados, pois, quem não conhece Geraldo França de Lima?
Provavelmente, para muito poucos, direi novidades sobre o primeiro e único filho de Araguari a chegar à Academia Brasileira de Letras, secular e mais importante instituição cultural do paÃs, cujo primeiro presidente foi o maior de seus escritores, Machado de Assis.
Nascido em Araguari no dia 24 de abril de 1914, Dr. Geraldo, como, entre o respeito e a admiração, o tratávamos, teve uma rica história de vida. Foi aluno do Colégio Regina Pacis, estudou em Barbacena, onde passou bom tempo e teve destacada presença no meio estudantil e cultural.
Lá, conheceu e tornou-se amigo de outro consagrado escritor mineiro, João Guimarães Rosa e do conhecido escritor francês, Georges Bernanos, que, para escapar da sanha nazista, foi viver naquela cidade como asilado.
No Rio de Janeiro, então capital federal, formou-se em Direito, trabalhou como revisor de jornal, advogado na Estrada de Ferro Central do Brasil, na Procuradoria e na Consultoria Geral da República, foi professor de Literatura e, mais tarde, assessor do Presidente Juscelino Kubitschek e de Tancredo Neves, quando Primeiro Ministro no governo parlamentarista.
Publicou inúmeros artigos e ensaios na imprensa, mas sua estreia oficial na literatura foi em 1961, quando foi lançado seu primeiro livro, Serras Azuis, recebido com elogios pela crÃtica e ganhando o Prêmio Paula Brito Revelação Literária.
Em seguida, vieram Branca bela, Jazigo dos vivos, O nó cego, A pedra e a pluma, a Herança de Adão, A janela e o morro, Naquele Natal, Rio da Vida, Folhas ao léu, Sob a curva do sol, Os pássaros e outras histórias e O sino e o som, formando um conjunto de obra aclamada pelos seus leitores e pela crÃtica especializada.
Era homem simples e de hábitos modestos. Culto, poliglota, famoso, imortal, laureado, vinha sempre a Araguari, onde estavam suas raÃzes, seus familiares, seus amigos e admiradores, como eu próprio. Conversava com todos e a todos dedicava tempo, atenção, palavras, acolhedoras e estimulantes. Um gentleman impecável.
Ao tomar posse na Academia Brasileira de Letras, em 19 de junho de 1990, foi recebido pelo acadêmico e amigo Antônio Olinto, com um alentado discurso, do qual destaco este trecho:
Vossa obra está traduzida em todos os continentes, em dezenove lÃnguas, discutida, comentada em mais de setenta universidades, e, sem exagero, sois um dos brasileiros mais lidos no exterior. Possuis o raro dom de saber comunicar-vos não só no vernáculo, quanto em inglês, Espanhol e italiano, que com sombranceria dominais.
E, aonde chegava um livro de Geraldo França de Lima, e estão em várias lugares e em muitos paÃses, chegava também a Araguari que ele amava, porque embora cosmopolita sempre falava sobre a cidade que levava no coração e na lembrança.
D. Lygia, sua mulher e companheira, a quem ditava seus livros depois que perdeu a visão, faleceu em 2002. Como ela era o amor de sua vida e a luz de seus olhos, também ele foi se apagando e morreu pouco depois, em 22 de maio de 2003, no Rio de Janeiro, mais de tristeza e de saudade do que por qualquer outra razão.
Parece que Araguari e os araguarinos não prestamos ao Dr. Geraldo, em vida, o reconhecimento e as homenagens que mereceu e recebeu muitos lugares.
Por isso, para me redimir, pelo menos em parte e quem sabe a todos, registro nosso orgulho e a gratidão ao grande escritor e figura humana que ele foi, e deixo meu forte e afetuoso abraço ao sobrinho de quem ele tanto gostava e meu amigo querido, Milton de Lima Filho, Miltinho, na esperança de que o receba e o estenda a todos os familiares, neste centenário de nascimento do inesquecÃvel tio.
(*) Advogado
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