Header Ads

A roda e a luz

Neiton de Paiva Neves (*)
Artigo publicado originalmente na revista Evidência

Quase todas as coisas presentes em nosso cotidiano parece que sempre existiram, de tão simples e óbvias e do tanto que nele estão impregnadas.

Por exemplo,  a água encanada, o esgoto sanitário, o antibiótico, o computador, o celular, muitos e muitos mais, como.....a roda, só inventada por volta de 3.500 anos.

Dá para imaginar um mundo sem a roda? Dá? Então imagine. Sem as rodas dos veículos todos, das engrenagens que estão desde em seu relógio de pulso até nas grandes máquinas, turbinas etc. Muitos entendem ser a roda a maior invenção da humanidade, porque nada funciona sem uma, grande, média, pequena, mínima ou micro.

“Ele acha que inventou a roda”, é uma expressão conhecida  para definir  pessoas que apresentam uma ideia ou uma solução antiga como se a tivessem criado, num relâmpago de gênio.

                Diz a Bíblia que  “..não há nada de novo  debaixo do sol“ (Eclesiastes,  1.9)  e, segundo o químico francês Lavoisier,  “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

    Pode ser que tenham razão, mas penso que o ser humano é dotado, aleatoriamente para os incréus, ou como resquício/vestígio do Criador, de inegável capacidade criativa e tem muitas e inéditas descobertas e invenções a produzir, senão para que serviria sua inteligência, seu trabalho, sua vontade, sua ânsia pelo novo?

    E ver algo novo, pelo menos não visto antes, é mesmo fascinante, seja bom ou não. De preferência, bom, claro.  Por exemplo,  “Varekai”, montagem do   Circo de Solei em apresentação no Brasil  (que esteve em São Paulo e parece que ainda está em Brasília), é, como as anteriores, versão reinventada de algo muito velho, o circo, transformado em um espetáculo de variedades de alto desempenho, tecnologia avançada, enorme infraestrutura empresarial internacional (de origem canadense), forte  e eficiente estratégia de marketing.
 
    Destaque para a apresentação de um moderno palhaço/ator, que começa seu desempenho no enorme palco escuro, sob a luz de um holofote. De repente, o holofote joga sua luz em outro lugar. O palhaço corre atrás da luz, que de novo muda de lugar e o palhaço de novo corre até onde ela está. Essa mudança e busca da luz do holofote se repete várias vezes, cômica e tragicamente, porque a luz era essencial para que o palhaço pudesse ser visto e mostrar sua arte.

    No palco da vida, também existem pessoas assim,  sempre correndo atrás das luzes dos holofotes, e existem pessoas que estão sempre fugindo delas.

    No caso, correr atrás ou em fuga são opções opostas e igualmente radicais que podem embutir, a primeira, excesso de vaidade (na medida certa, a vaidade é natural e positiva), e, a segunda,  excesso de autoproteção (e hoje em dia proteção é sinônimo de segurança), mas também  comodismo, medo de se expor e de receber cobranças.

    Não “ inventei a roda” e sei que não disse agora,  e provavelmente nunca disse, nada que ninguém já não pensou ou ainda desconheça, principalmente, que,  em qualquer situação, radicalismo ou exagero, no mínimo, arranham o equilíbrio na vida, indispensável para transpor os seus vazios e quando a única via disponível é a corda bamba  proporcionada e não escolhida.

    Provavelmente por isso, quando a luz de um holofote recai e ilumina pessoa dotada de brilho próprio, ocorre uma extraordinária e harmônica simbiose: a claridade é tanta que ofusca, mas ao mesmo tempo desvela.

Haicai

Aquilo de mim
Que levou consigo.
Faz muita falta sim

Nenhum comentário

Os comentários neste blog passam por moderação, o que confere
ao editor o direito de publicá-los ou não.