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De Papa em Papa

Neiton de Paiva Neves

    Não era sobre a renúncia do Papa Bento XVI que pretendia escrever.  Mas, uma amiga quis minha opinião a respeito. Dei,  mas não foi o bastante e ela insiste para que a  publique. Assim faço, registrando abaixo o que lhe disse,  pois negar é risco que não quero.

    O primeiro Papa, do qual tenho lembrança muito positiva,  é João XXIII, que Papa foi de 28/10/1958 até morrer  em 03/06/1963.

    No período era estudante e integrei a JEC - Juventude Estudantil Católica, e depois da JUC - Juventude Estudantil Católica, que reuniam grupos de jovens de fé,  ativos, engajados, participantes, ansiosos por uma Igreja atuante em favor da justiça social.
    João XXIIIconvocouo Concílio Vaticano II (reunião de mais de 2000 clérigos), iniciado em outubro de 1962 e encerrado em dezembro de 1965, sob o comando de seu sucessor, que resultou em grandes e marcantes mudanças na Igreja. Para mim, no meu pobre discernimento,  foi o grande Papa dos tempos modernos. O que me tocou mais de perto e fortemente.
    Paulo VI o sucedeu, mantendo o barco navegando nas águas das resoluções do Concílio Vaticano II,  entre as correntes ditas progressistas e conservadoras, num período de contestações,  crises e guerras pelo mundo afora. Foi um Papa positivo, de 1973 a 1978, quando morreu.

    Aí, veio João Paulo I, eleito em 26/08/1978 e morto menos de um mês depois, em 18/09/1978, em circunstâncias  ainda obscuras,  que contemplam a hipótese de ter sido assassinado porque planejava enfrentar membros corruptos da cúpula da Igreja.

    João Paulo II foi o seguinte. Assumiu em outubro de 1978, Carismático, poliglota, simpático, viajante, combateu o comunismo e aumentou o diálogo com as outras religiões. Foi o primeiro Papa midiático, lidou bem com os meios de comunicação e ficou muito conhecido. Morreu em abril de 2005.

    No mesmo mês, Bento XVI assumiu. Também poliglota, intelectual, culto, teólogo, conservador, autor respeitado, defendeu a distinção entre os valores; a importância da fé e o apoio às artes.

    Entretanto, penso que o maior  legado do Papa Bento XVI para a Igreja é a sua renúncia. Alegou problemas de saúde, que de fato tem. Mas, além disso, sucumbiu diante dos escândalos envolvendo pedofilia, a corrupção e outros abusos de integrantes da cúpula da Igreja.

    Sua renúncia é uma poderosa denúncia, um ato de humildade  e de coragem. Denúncia, que certamente provocará medidas concretas para estancar as razões dos escândalos, o que ele tentou e não conseguiu; ato de humildade, ao admitir sua fragilidade,  limitações e o insuficiente resultado de seu esforço,  e ato de coragem,  ao revelar ao mundo fatos internos da Igreja,  pouco conhecidos e que hoje constituem sua enfermidade de alto risco.

    Renunciando, Bento XVI, cujo papado aparentava que seria pouco marcante, talvez tenha proporcionado à Igreja o remédio que ela precisa agora, e se agigantou e se sublimou, subiu quando parece que desceu, e terá lugar importante na história. 
 
    Ao contrário do que disse o antigo secretário pessoal de João Paulo 2º,  Cardeal Stanislaw Dziwisz,   afirmando sobre a renúncia que “Da cruz não se desce”. Essa é uma atitude menor, arrogante e impiedosa, própria daqueles quejulgam e condenam com facilidade e urgência, incompatível e inadequada para pessoa na posição dele.

    Jesus Cristo, sim,  não desceu da cruz e morreu pelas mãos dos implacáveis Stanislaws Dziwiszs daquela época, mas  ressuscitou e o cristianismo transformou-se na maior força espiritual do mundo, o que me lembra o saudoso Pe. Nilo Tabuquini, que afirmava ser a Igreja mesmo divina, pois, se não fosse, os homens, papas, cardeais, bispos, padres, religiosos e leigos, já teriam acabado com ela.

* Artigo publicado originalmente na revista Evidência, Março 2013.

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