Ao mestre, com gratidão
Neiton de Paiva Neves, Advogado
Nos anos 60, cursando Direito em Uberlândia a coisa não era nada fácil, mas a juventude e a vontade eram plenas, ajudando. Trabalhava no banco (Nacional), saindo às 18,00h, para ir às aulas, de ônibus, carona, carro, Kombi alugada, pela poeirenta ou barrenta (dependendo do tempo) estrada, que não era asfaltada. Íamos até de trem, pela Mogiana. Diariamente, durante 5 anos.
Naquele tempo, conheci o Dr. Antonio Maldonado Baena, advogado conceituado, e no 4º ano, comecei a estagiar no escritório dele. De manhã, ficava lá; a tarde no banco e a noite na Faculdade.
Perto de me formar, disse-lhe e a outros amigos que pretendia sair do banco e me dedicar à advocacia. Alguns me desencorajaram, achando que seria muito risco trocar um bom emprego, com bom salário, pela incerteza de uma profissão liberal.
Baena, Tonico para os mais chegados, pensava diferente. Largue esse banco e venha advogar comigo no escritório, disse-me. Fui e não me arrependo nem um pouco.
Não preciso dizer que sou privilegiado, tendo-o como amigo e como mestre no direito e na vida. Com ele aprendi muito, sabendo que teria assimilado melhor se tivesse me aplicado mais.
Com sua sólida formação e cultura humanista e jurídica e sua permanente disposição de ler, de pesquisar e estudar; com sua lapidada inteligência, com sua superior presença de espírito, agilidade de raciocínio e enorme facilidade de se expressar, era um orador excepcional e tinha um texto diferenciado.
Advogava com observância absoluta dos preceitos éticos e mantinha com juízes, promotores, escrivães, serventuários e colegas advogados, relacionamento respeitoso e cordial, que em alguns casos também era de amizade próxima e dedicada.
Intransigente na defesa dos direitos dos clientes, ficou conhecido pela contundência e, ao mesmo tempo, pelo bom-senso na condução de seus processos.
No Tribunal do Júri, ponteou como tribuno eloquente, perspicaz, lúcido, encontrando e destacando as falhas do processo e os aspectos legais benéficos ao cliente, contabilizando inúmeros resultados favoráveis.
Profissionalmente, por ter me ensinado tanto, tenho com ele dívida impagável e na vida devo-lhe tanto ou mais.
Seu gosto pela literatura, poesia, cinema, música, acabaram me ajudando a apurar o gosto que também já cultivava por essas coisas.
A boemia... Ah, a boemia. Boêmio ele era. Bom de copo, bom de papo, de boa comida. Não foram poucas as vezes que nos aventuramos nas apelidadas “jangadas”, viajando pela noite e madrugada para, por exemplo, tomar chope no Pinguim, em Ribeirão Preto etc.
Em 1964, o ano do golpe militar do qual discordávamos (e no endurecimento de 1968), sofremos represálias. Em 1966, juntos com outros companheiros, ajudamos a fundar o Movimento Democrático Brasileiro – MDB em Araguari, de oposição ao regime autoritário, que fez história aqui.
Anos depois, Baena mudou-se para outra cidade, foi alto executivo de grande empresa, aposentou-se, foi para cidade mais distante, e o espaço desta página me impede de falar mais a seu respeito.
Acho-me em grande falta com ele. Há tempos não o vejo, não o visito, não me manifesto, embora dele sempre tenha notícia.
Essa minha displicência não diminui a amizade e aumenta a medida de quanto lhe sou grato.
E, achei que se dissesse isso de público, estaria resgatando lembranças não apenas minhas, mas também de muitos que nelas são presentes.
Carinhosamente, querido amigo e mestre Tonico, meu abraço saudoso e minha gratidão por tudo.
Nos anos 60, cursando Direito em Uberlândia a coisa não era nada fácil, mas a juventude e a vontade eram plenas, ajudando. Trabalhava no banco (Nacional), saindo às 18,00h, para ir às aulas, de ônibus, carona, carro, Kombi alugada, pela poeirenta ou barrenta (dependendo do tempo) estrada, que não era asfaltada. Íamos até de trem, pela Mogiana. Diariamente, durante 5 anos.
Naquele tempo, conheci o Dr. Antonio Maldonado Baena, advogado conceituado, e no 4º ano, comecei a estagiar no escritório dele. De manhã, ficava lá; a tarde no banco e a noite na Faculdade.
Perto de me formar, disse-lhe e a outros amigos que pretendia sair do banco e me dedicar à advocacia. Alguns me desencorajaram, achando que seria muito risco trocar um bom emprego, com bom salário, pela incerteza de uma profissão liberal.
Baena, Tonico para os mais chegados, pensava diferente. Largue esse banco e venha advogar comigo no escritório, disse-me. Fui e não me arrependo nem um pouco.
Não preciso dizer que sou privilegiado, tendo-o como amigo e como mestre no direito e na vida. Com ele aprendi muito, sabendo que teria assimilado melhor se tivesse me aplicado mais.
Com sua sólida formação e cultura humanista e jurídica e sua permanente disposição de ler, de pesquisar e estudar; com sua lapidada inteligência, com sua superior presença de espírito, agilidade de raciocínio e enorme facilidade de se expressar, era um orador excepcional e tinha um texto diferenciado.
Advogava com observância absoluta dos preceitos éticos e mantinha com juízes, promotores, escrivães, serventuários e colegas advogados, relacionamento respeitoso e cordial, que em alguns casos também era de amizade próxima e dedicada.
Intransigente na defesa dos direitos dos clientes, ficou conhecido pela contundência e, ao mesmo tempo, pelo bom-senso na condução de seus processos.
No Tribunal do Júri, ponteou como tribuno eloquente, perspicaz, lúcido, encontrando e destacando as falhas do processo e os aspectos legais benéficos ao cliente, contabilizando inúmeros resultados favoráveis.
Profissionalmente, por ter me ensinado tanto, tenho com ele dívida impagável e na vida devo-lhe tanto ou mais.
Seu gosto pela literatura, poesia, cinema, música, acabaram me ajudando a apurar o gosto que também já cultivava por essas coisas.
A boemia... Ah, a boemia. Boêmio ele era. Bom de copo, bom de papo, de boa comida. Não foram poucas as vezes que nos aventuramos nas apelidadas “jangadas”, viajando pela noite e madrugada para, por exemplo, tomar chope no Pinguim, em Ribeirão Preto etc.
Em 1964, o ano do golpe militar do qual discordávamos (e no endurecimento de 1968), sofremos represálias. Em 1966, juntos com outros companheiros, ajudamos a fundar o Movimento Democrático Brasileiro – MDB em Araguari, de oposição ao regime autoritário, que fez história aqui.
Anos depois, Baena mudou-se para outra cidade, foi alto executivo de grande empresa, aposentou-se, foi para cidade mais distante, e o espaço desta página me impede de falar mais a seu respeito.
Acho-me em grande falta com ele. Há tempos não o vejo, não o visito, não me manifesto, embora dele sempre tenha notícia.
Essa minha displicência não diminui a amizade e aumenta a medida de quanto lhe sou grato.
E, achei que se dissesse isso de público, estaria resgatando lembranças não apenas minhas, mas também de muitos que nelas são presentes.
Carinhosamente, querido amigo e mestre Tonico, meu abraço saudoso e minha gratidão por tudo.
Realmente a capacidade de interação entre pessoas, eliminando distâncias, por meio da Internet, é surpreendente e tornaria fácil qualquer pessoa encontrar outra ou conhecê-la rapidamente ou reencontrá-la depois de tanto tempo. Já tive a oportunidade inclusive de ler os comentários do Sr. Antonio Maldonado Baena e da Marília Cunha no site WWW.novaeconomia.inf.br, sobre uma entrevista do professor Boaventura. O Prefeito fez bem em sair do Banco Nacional, que também foi uma grande escola. Mais um pouco lá e ele seria funcionário do Unibanco e, dessa forma, não contaria na vida tantos prazeres e experiências políticas se não tivesse mergulhado de corpo e alma nos riscos do mundo, inclusive vivenciando nos tribunais os conflitos humanos e as repercussões da evolução da vida urbana. Por falar em Internet, consta que o Sr. Antonio Maldonado Baena, salvo se houver homônimo, além de ter sido presidente do nosso Fluminense Futebol Clube em 1962, era formado pela USP da turma 126ª de 1957, ao lado de figuras importantes hoje como Dalmo Dallari e Luis Carlos Bresser Pereira. Em Araguari ou rodando em Belo Horizonte, a Internet aparentemente frágil e de uso doméstico, vai estreitando as distâncias e construindo a paz mesmo às vezes sendo obrigada a fomentar a guerra.
ResponderExcluirDr Neiton, não te invejo com uma amizade tão formidável. Eu também tenho alguns. Às vezes chego a pensar que devo mais a eles que à minha própria mãe!
ResponderExcluirMuito feliz o texto do Neiton. O Baena é uma pessoa excepcional, daquelas que não se fabricam mais e muitos e muitos, assim como o colunista, tiveram o previlégio de contar com sua amizade e seu apoio generoso e inteligente.
ResponderExcluirA verdadeira amizade rompe as barreiras do tempo e do espaço. Atrevo-me a repetir um trecho do texto "Amigo" do grande Vinicius de Morais:
"Aalguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade não posso lhes dizer quanto gosto deles. eles não iriam acreditar. muitos deles estãolendo esta crônica e não sabem que estão incluidos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinto que os adoro, embora não declare e não os procure. E, às vezes, quando procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários. De como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu tremulamente construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida."