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Quem perde o voto?


Marília Alves Cunha - O rapazinho magrela aproximou-se da janela do carro, oferecendo “santinhos”, aqueles papeizinhos com retratos super retocados, nome e número grandes e quase nada para descrever as qualidades do retratado. Agradeci delicadamente, não aceitando os mimos. Como não tenho o horrível hábito de jogar coisas pela rua, pensei no meu carro lotado de papel, até que uma lata de lixo protetora fosse a salvação.

Lembro-me bem da última eleição. Elogiei por escrito, em crônica publicada, a ordem em que transcorria a campanha eleitoral. Pouco barulho, poluição visual razoável, fim dos “showmícios”. O TSE agindo corretamente no sentido de tentar evitar ao máximo que o cidadão fosse demasiadamente incomodado no período e que as cidades não se emporcalhassem. Alegria durou pouco! Quando a votação terminou, exatamente no dia 05/10/2008, fiquei estarrecida com a quantidade de “santinhos” e cartazes jogados pelas ruas e praças, sobras de material descartadas sem cuidado, demonstração talvez de raiva ou despeito. Alegria não se expressa assim. Gente, se São Pedro tivesse mandado uma chuva para Uberlândia naquela memorável noite, a cidade se transformaria num caos, alagada totalmente por obra de milhões de ”santinhos” arteiros. Peguei alguns, olhei bem para gravar na memória. Sugismundos, meu voto não lhes pertence!

É natural que os candidatos queiram mostrar-se, fazer propaganda, ficarem conhecidos do grande público. Mas ainda considero que o melhor painel é uma vida pautada pela correção, pela probidade, por bons serviços prestados à comunidade, pelo respeito ás leis e às instituições, pelo bom caráter demonstrado ao longo da vida.

As pesquisas, por exemplo. Não sou desfavorável ás mesmas, feitas através de institutos confiáveis e que redundem em um retrato quase perfeito do sentimento da população em relação aos candidatos. Ser contra as pesquisas é ser a favor de democracia pelas metades, democracia de interesses, democracia relativa. E acreditar na democracia é respeitar os princípios constitucionais, aspirar pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, onde haja livre manifestação do pensamento, liberdade de expressão e de consciência. Mas o que considero de uma falta de civismo extraordinária é o fato de alguns eleitores dirigirem seus votos pelas pesquisas. Candidatos bons, para alguns, são aqueles encastelados no alto das mesmas. Dizem estes eleitores: “Não quero perder meu voto”. Santa Bárbara! Ilumine estas mentalidades tacanhas para que evoluam no decorrer do tempo... Não quer perder o voto? Pense primeiramente que o ato de votar não é uma coisa simples, momentânea e sem reflexos na sua vida. Vamos escolher presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais que vão nos representar e decidir os destinos do nosso país por 4 anos e cujos atos como autoridades podem refletir por décadas. O nosso dever é procurar o melhor caminho, não apenas por nós, mas pelo bem de todos os cidadãos e pelo bem das gerações futuras. O Brasil está doente em muitos aspectos e temos visto abertamente que esta doença pode tomar proporções sérias e graves. E votar bem é votar em políticos comprometidos com mudanças estruturais, inadiáveis e capazes de transformar o país para mais e melhor.

O Brasil tem cura!

2 comentários:

  1. Chamar propaganda eleitoral de candidato de "Santinho" é a mais pura heresia.

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  2. Marília, já me falaram que a palavra candidato quer dizer pessoa se oferecendo candidamente, com candura, e talvez seja por isso que estão distribuindo santinhos. Mas nada se vê de angelical nas atitudes desse pessoal. Nem poderia, já que o trabalho deles será destinado a criar normas de comportamentos para santos e diabos e precisam de muita coragem para enfrentar e contrariar esses interesses difusos e confusos.

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