Ventania
Mário Salvador (*)
Nestes tempos de infinitas preocupações, algumas sem sentido algum, lembrei-me de algo que perturbou a minha infância por um bom tempo: Onde se esconde o vento, quando não está ventando?
O vento incomoda os cidadãos de todas as partes do mundo. Eis que pode se apresentar de muitas formas, desde uma suave brisa, até um furacão destruidor.
Venho de uma cidade que já teve o nome de Ventania, nome bem apropriado pelas caracterÃsticas do clima de lá. A cidade, bem perto de Uberaba, hoje se chama Araguari.
Em minha infância, em Ventania, ficava observando os constantes redemoinhos de poeira a subirem aos céus. Nem de brincadeira eu chegava perto deles, pois era sabido que o capeta estava no foco da poeira.
Ventania era um lugar pacato, com seus usos e costumes bem ao gosto de uma cidade do interior. Essa verdade traz-me à lembrança a sabedoria do povo: “Cada roca com seu fuso, cada terra com seu uso”. Lá o costume era tirar água do poço com a utilização do sarilho, enquanto em muitos outros lugares as cisternas eram providas de roldanas. E tanto lá como cá, para se tirar o balde que caÃa no fundo do poço, o procedimento era o mesmo: pescar o balde, com ganchos amarrados na ponta de uma corda. Uma luta!
Quando viemos para Uberaba, notamos que aqui, diferentemente do que acontecia em Ventania, o vento não ousava fazer redemoinhos. Só de vez em quando aparecia um arremedo de redemoinho, para matar nossa saudade.
E agosto era o mês da ventania. E também do cachorro doido. Em Ventania as duas coisas eram vistas, com vigor, em agosto.
Também em Uberaba, por muitos anos, o vento se fez presente em agosto. Ventava com gosto, a ponto de o vento roubar as roupas do varal, levando-as para longe. Era nesse mês que também os cães davam o ar da graça com suas loucuras e a boca salivando.
Pois neste ano nem uma coisa, nem outra. Cachorro louco sumiu, que as vacinas têm dado conta do recado. Já o vento, por onde anda? Pois é! Ele se escondeu em algum lugar e deixou de soprar tanto em agosto. Onde terá se escondido toda aquela ventania?
Crédito: Crônica publicada originalmente no Jornal da Manhã (Uberaba).
(*) Mário Salvador, natural de Araguari, é membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (leia mais)
Não sou do tempo de Ventania, mas na minha periférica Araguari sarilhei muito a melhor água do mundo!
ResponderExcluirTambém não sou do tempo de Ventania, mas pude saborear as ventanias do mês de agosto.
ResponderExcluirA exemplo do Aristeu, sarilhei (não muito) a melhora água do mundo.
São lembranças que me fazem a alma sorrir. Ar-agua-ri.