Engenheiro e arquiteto protestam em Araguari contra o asfaltamento de ruas de pedras
A avenida Joaquim AnÃbal em registro feito na semana que passou pelo geólogo Alexandre J. Campos. No entendimento de parte da população da cidade, a paisagem bucólica proporcionada pela via calçada com paralelepÃpedos, perde o seu valor histórico ao ser sepultada pelo asfalto (Clique na imagem para ampliar)
O engenheiro Carlos Ernane Vieira e o arquiteto Rogério Duarte realizaram uma ação isolada nesta segunda-feira (26), em protesto contra o asfaltamento das ruas de paralelepÃpedos da cidade. A manifestação, que visou impedir o inÃcio dos trabalhos de pavimentação, aconteceu na avenida Joaquim Anibal, a poucos metros do Palácio dos Ferroviários.
A ação começou bem cedo, pela manhã, quando os manifestantes chegaram ao local estacionando seus carros próximo ao lugar de onde estava previsto o inÃcio da pavimentação. Os obstáculos obrigaram os militares do 2.º Batalhão de Engenharia de Construção, contratado pelo MunicÃpio para realizar o asfaltamento, a adiar o começo dos serviços, enquanto se aguardava uma solução para o caso. Segundo testemunhas, por volta das 14h os carros foram cobertos com lona preta providenciada pelo encarregado da obra, e, meia hora depois, enfim, as máquinas e homens começaram a trabalhar em ritmo lento, mas constante, avançando rumo aos carros dos manifestantes.
Cerca de 100 pessoas,entre curiosos e populares a favor do asfaltamento, acompanharam o protesto em seu momento mais crÃtico, por volta das 15h30, quando a massa asfáltica começou a ser espalhada na via, sepultando mais de 50 anos de história do calçamento. Repórteres e jornalistas da imprensa escrita e radiofônica da cidade acompanharam tudo de perto.
A PolÃcia Militar compareceu ao local para evitar tumultos e tentar convencer o engenheiro e o arquiteto a retirar seus carros estacionados na avenida. Durante as negociações, houve ameaça de guinchar os veÃculos da dupla. Depois de muita conversa e discussão, os autores do protesto deixaram pacificamente o lugar, não sem antes reiterarem a opinião contrária de ambos à cobertura das pedras do calçamento da via.
O caso foi levado ao Ministério Público pelos manifestantes. Eles e demais defensores da causa contra o fim das ruas de paralelepÃpedos de Araguari, têm a esperança de conseguir medida judicial para o embargo das obras. Além da avenida Joaquim Anibal, projeto da prefeitura municipal prevê asfaltar outras 30 ruas calçadas com pedras em diversos pontos da cidade, a maioria localizada na região central.
O projeto
Para o secretário municipal de Obras, SÃlvio Povoa, a proposta é modernizar a cidade com a revitalização das ruas calçadas com paralelepÃpedos e melhorar o tráfego de veÃculos. O projeto, teve inÃcio no começo deste mês de julho e vai custar R$ 5,39 milhões aos cofres públicos, dos quais R$ 4,9 milhões fornecidos pelo Estado, através de emendas parlamentares, e R$ 490 mil pelo municÃpio.
Desde o seu anúncio há vinte dias, o projeto gera polêmica na cidade. O presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Araguari, João Marques, que entrou com uma ação no Ministério Público no dia 15 deste mês, reclama de um possÃvel gasto desnecessário de verba pública. Ele argumenta que, pelos valores de mercado, a prefeitura deve gastar R$ 22 por metro quadrado de massa asfáltica. Na sua opinião ficaria mais barato se fosse feito um trabalho para recuperar os paralelepÃpedos já existentes. Pelos cálculos feitos pelo presidente, para o mesmo espaço se gastariam R$ 17 para recuperar as pedras de apenas algumas ruas com problemas mais acentuados constantes do roteiro traçado pela Secretaria Municipal de Obras. Outro argumento contra manifestado pelo engenheiro é a perda do valor histórico representado pelas ruas calçadas com paralelepÃpedos, algumas feitas há 40 ou 50 anos.
Mas não é somente o valor histórico que está em questão. Entre outros, a maior velocidade que os veÃculos vão ganhar nas ruas asfaltadas, aumentando os riscos à segurança no trânsito, e prejuÃzos ao meio ambiente foram levados em conta por preservacionistas que se manifestaram nos últimos dias sobre o assunto. Na área ambiental, prevêem que o asfaltamento acarretará a impermeabilização do solo, o que levará a alagamentos, ao aumento da temperatura e a danos nas galerias pluviais, que, de antigas, poderão sofrer desabamentos.
Já o Secretário Municipal de Obras, Silvio Póvoa, alega que a cidade não vai ter perda histórica ou de qualquer outra natureza, e só vai ganhar com a execução do projeto. Na opinião dele, a obra transformará a cidade devido à s mudanças urbanÃsticas que modernizarão Araguari através da revitalização das ruas que receberão o asfalto. Além disso, ele anuncia que, onde for preciso, ocorrerão intervenções para reformar as estruturas das galerias pluviais e das redes de esgoto, antes da realização do asfaltamento.
O secretário Silvio Póvoa informou que no projeto está incluÃdo também o asfaltamento do acesso ao distrito de PiracaÃba, distante a 42 quilômetros de Araguari. O trecho a ser asfaltado é de aproximadamente três quilômetros.
Vias que serão asfaltadas
Antônio Camilo da Costa - Bairro do Bosque;
Antônio Lemos da Silva - Centro;
Argentina - Bosque;
Avaré - Centro;
Avenida Joaquim AnÃbal - Centro;
Bias Fortes - Centro;
Coronal Filadélfio de Lima - Rosário;
Coronel Lindolfo França - Centro;
Coronel Póvoa - Centro;
da Constituição - Centro;
Tereza França de Lima - Centro;
Dom Silvério - Centro;
Doutor Alberto Moreira - Centro;
Elias Peixoto - Centro;
Gonçalves Dias - Bosque;
Jaime Gomes - Centro;
Josias Batista Leite - Bosque;
Maricota Santos - Centro;
Martinez Rodrigues da Cunha - Centro;
Nader Cury - Centro;
Natal Mujalli - Centro;
Nilo Tabuquini - Centro;
Paissandú - Centro;
Pedro Moreira - Santa Helena;
Praça do Rosário - Rosário;
Quinca Mariano - Centro;
Raul José de Belém - Bosque;
Tamandaré - Centro;
Travessa Elias Bittar - Centro;
Travessa Timbiras - Centro; e
Uberaba - Centro.
Obras previstas no cronograma
128 mil metros quadrados de recapeamento asfáltico
2,1 mil metros quadrados de calçadas
442 rampas de acessibilidade
Custo
R$ 5,39 milhões, sendo
R$ 4,9 milhões do Governo do Estado e R$ 490 mil de contrapartida do MunicÃpio.
Eu também exijo a volta dos carros de bois...
ResponderExcluirQual foi o critério na escolha das ruas, já pavimentadas com pedras, que irão receber o asfalto?
ResponderExcluirQuais profissionais arquitetos, engenheiros, geógrafos, entre outros participaram desta escolha?
Quando a Secretaria de Planejamento de Araguari participou desta escolha?
A divisão de Trânsito da Secretaria de Serviços Urbanos participou desta escolha?
Apenas um Secretário impõe quais as ruas serão asfaltadas e o restante bate palmas?
Essa é a terra do gigante!!!
Ao contrário do que fizeram alguns membros da imprensa local, que tentaram ridicularizar o ato de Carlos Ernane e Rogério, pessoalmente aplaudo a atitude deles.
ResponderExcluirAsfalto ou paralelepÃpedo são parte (importante) da questão.
Mas o destaque fica por conta da ATITUDE de cidadãos que, certos ou errados, defendem suas convicções com ação civilizada, sem recorrer a ofensas, cartas anônimas nem expedientes sorrateiros. Isto se chama exercÃcio da cidadania.
A crÃtica perde o sentido, especialmente quando vem de quem não pode (ou não consegue) exercer a isenção, por conta de conflito de interesses e dependência do poder público.
As pedras falam...
ResponderExcluirQuero me somar ao Ernane, Rogério, João Marques e demais defensores das ruas de pedras. Há 43 anos moro na histórica “Rua Mauá" (grifo e aspas são propositais mesmo!), no bairro do Bosque, e desde sempre a conheço assim: de pedras.
Mas estas pedras são muito mais que simples pedras! Elas formam uma grande e aconchegante colcha de retalhos. Cada uma um retalho que, se unindo a outro e outro, guardam e mantêm vivas histórias presentes e passadas.
Me recordo como se fosse ontem: muitas sequer sonhavam existir. Muitas outras eram só poeira. Mas a Mauá não, ela era “calçada” e imponente! Nem por isso deixara de abrigar, em suas margens, singelas casas - como a que vivi por muitos e bons anos ao lado da Dona Tôca e de meus irmãos.
Como uma mãezona, acolhera a todos que optaram por nela viver ou simplesmente transitar. Sempre tratou a todos por igual. Entre aquelas pedras corri, brinquei . Sobre elas vi transitar cavalos, carroças, bicicletas, lambretas, motos possantes, cincas, fusquinhas e até Mercedes. E os eventos? De quantos fora ela um grande palco, a começar pelos comÃcios do arena e do manda-brasa, realizados na venda do seu João Claúdio ou perto do bar do Carlão, ambos de saudosa memória? E a quantos que com dor e pranto, levando seus entes queridos para a última morada, ela também afaga?
Por essas pedras vi passar grandes e pequenos caminhantes. Nelas estão cravados pedaços de nossa história, da história de nossa gente. É tão fácil perceber isso... basta ter um pouco de sensibilidade e observar os espaçamentos que há entre elas... certamente verão neles, pequenos clipes dessa história.
Ah, sim! As pedras falam!
É verdade que hoje esta importante e querida rua, anda um pouco cansada, vÃtima que é das grandes jamantas que nela seguem sem um senão sequer das autoridades! Mesmo assim em nada inveja as ruas cobertas pela massa asfáltica. Afinal, a colcha de pedras amortece a água que cai da chuva e carinhosamente a acolhe em seus entremeios. Já as “modernas” têm a chuva por inimiga, capazes de lhes provocar cortes profundos e nem sempre socorridos a contento...
Então como poderia eu e outros, da Mauá ou de outras ruas que querem mutilar, ter postura diferente? Como apoiar tamanha insensatez, que usa a modernidade como manto? Que nossa memória não nos deixe esquecer que um dia, sob o mesmo manto, destruÃmos ou mutilamos importantes edificações e monumentos históricos, dentre os quais a praça Manoel Bonito e o seu magnÃfico Coreto...
Será que vamos insistir em cometer erros que jamais poderemos reparar?
Leilamar Costa – jornalista e orgulhosa moradora da Rua Mauá