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Faz de conta que punimos...

Marília Alves Cunha *

Num domingo de junho de 2002, o jornalista da TV Globo TIM LOPES subiu mais uma vez em uma favela do Rio de Janeiro, com o intento de colher informações e imagens sobre o tráfico de drogas e a exploração sexual de menores. Premiado repórter investigativo, teve sua carreira marcada por reportagens-denúncia sobre a vida precária dos brasileiros pobres e o descarado tráfico e consumo de drogas no país. Do morro não desceu. Foi preso por criminosos, torturado, julgado sumariamente, condenado à morte violenta e o corpo ou o que restava dele colocado no “micro-ondas”, para incineração e desova. Depois do crime descoberto, morto pranteado e muitas homenagens em reconhecimento à coragem do repórter que pagou com a vida a procura da verdade.

E os assassinos? O que aconteceu com os frios e cruéis assassinos? Alguns deles cumpriam a pena em regime semiaberto. Saíram para trabalhar pela porta da frente e não voltaram mais. Aproveitaram-se do benefício para “escafeder-se”. Outros envolvidos, criminosos perigosos, também se encontram em vias de receber, abalizados pela progressão do regime, o benefício da liberdade. E com asas livres para voar, sabe-se lá prá onde...

A TV lembrou-nos, dia desses, e é bom que lembre mesmo para avivar nossas memórias fracas, de outro crime absurdo, no qual o marido matou a mulher, tentou matar os dois filhos e ainda uma terceira pessoa. Não foi preso para pagar pela hediondez cometida, não foi punido de imediato como esperava a sociedade e como seria justo. Nada disso! Durante 21 anos os ardilosos advogados de defesa, através de artifícios processuais, conseguiram manter o criminoso longe da cadeia e só agora foi levado a julgamento. Nestes 21 anos longe das grades, deve ter curtido sua mocidade, a mesma mocidade que tirou covardemente de sua jovem esposa. E quem não se lembra dos jovens que foram brutalmente assassinados em Luziânia, há pouco tempo? Quem não se lembra do desespero dos familiares à procura dos meninos desaparecidos, da esperança a diluir-se aos poucos e da dor da descoberta: aqueles moços simples, pacatos, não voltariam mais para o calor de seus lares. Um psicopata, louco, perigoso, tirou-lhes a vida. Também fora abençoado por lei esdrúxula, decisão infeliz que pôs no caminho daqueles jovens o monstro que os vitimaria.

Questiona-se muito a situação do menor infrator no Brasil. Não obstante esta questão ser muito importante é urgente discutir não só este problema, mas debruçar-se aprofundada e seriamente sobre o Código Penal e de Processo Penal. Vivemos hoje um tempo de violência sem limites, incontrolável. O cidadão clama por medidas severas em relação à Segurança Pública. Vamos continuar falando hipocritamente em ressocialização de presos, na sua recuperação e mantendo cadeias infernais, sistemas penitenciários decadentes, escolas de crime ou vamos de fato encarar a questão? Quem pratica crime deve ser punido exemplarmente, com base em normas que sirvam a este propósito, que ao mesmo tempo sejam legais e morais.

Que governantes e parlamentares tomem medidas eficazes para acabar de vez com a impunidade que existe no país, impunidade muitas vezes estimulada pela própria legislação. É tempo de agir, de decidir para melhor, chega de discurso vazio e enrolação!

* Artigo publicado originalmente no jornal Correio de Uberlândia

8 comentários:

  1. UBERLÂNDIA-MG, 17 de junho de 2010.

    Prezados Srs.,

    Sinceramente, nunca compreendi o fato de não termos Colônias Penais Agrícolas, ou frentes de trabalho nos trechos - rodovias e ferrovias - destinados ao cidadão que deverá pagar suas contas com a Justiça. Creio que estas tarefas devem sim, ser mais adequadas aos nossos Patrióticos e Voluntários Recrutas, pelo crime da maioridade.

    Imagino que nossos Legisladores realmente acreditem que - um dia - as Leis serão para todos, e desta forma, correriam o risco de serem submetidos a "trabalhos forçados"... Pensando bem, compreensível sim.

    No contexto, e não arredando o pé do nosso habitat, ainda bem que a moda do "micro-ondas" não chegou por aqui... Teríamos que aceitar GOELA ABAIXO, que os "suicidas" entraram neles por mero livre-arbítrio...

    Faz de conta que acreditamos tá ?!

    Atenciosamente,
    Janis Peters Grants.

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  2. Brasil das incoerências: Há muita impunidade e nos presídios não cabem mais ninguém. Cumprir a pena toda também não garante a conversão pessoal do criminoso. Esperar leis duras de políticos criminosos? Jorgina está a solta, após treze anos de cadeia, isto é incrível, sem que tenha devolvido quase 150 milhões de reais dos cofres do INSS.

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  3. Faltaria micro ondas pra tanto corrupto...

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  4. O tema abordado pela Marília sempre me causou dificuldades. Pendular, ora me posicionei pelo tal Direito Penal Mínimo, ora defendi o recrudescimento das penas. A questão não é fácil. Daí a angústia na hora de optar por um ou outro caminho.
    De uma forma ou de outra, acredito que a maioria comete um erro sério de raciocínio. Parte da incorreta idéia de que o Direito Penal (as leis, enfim) é capaz de alterar a realidade, criando, sozinho, um mundo melhor. Ledo engano, o varal do Direito Penal está sobrecarregado e já não consegue suportar/corrigir os problemas que não foram enfrentados satisfatoriamente por outras searas de controle social (família, escola, igreja, Direito Civil, etc.).
    Mesmo afastando-se essa falha, costuma-se cometer outra, afirmando-se que a nossa legislação é branda. Rematado engano! A legislação continua sendo severa. Brandas são as interpretações jurisprudenciais dadas a essas leis. Quem observar com atenção verá que partiram do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça o abrandamento de várias normas rigorosas, a exemplo da admissão de progressão de regime no caso de crimes hediondos e da possibilidade de o réu se manter livre mesmo depois de receber sentença penal condenatória.
    Por fim, há um ponto interessante. Muitos falam que certos presos não podem ser ressocializados. Cabe a pergunta: como ressocializar quem sequer foi socializado? Entenda-se por socializar a concessão ao indíviduo do mínimo para viver com dignidade (saúde, educação, segurança, uma família, etc.).
    Como se vê, a questão é muito complexa. As soluções simplistas ou radicais devem ser evitadas...

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  5. O nosso Código Penal é de 1940, tendo sofrido algumas alterações em 1998. Tanto o Cód. Penal como o de Processo Penal deverão passar por reformulações, de acordo com notícias do Legislativo federal. São mudanças necessárias, para adaptar os Códigos a uma nova realidade. Reconhecemos claramente que a questão é séria e requer soluções sérias. Discordo do Marcos em alguns pontos: nossas leis tornaram-se brandas, diante de um Brasil que tem perdido a cordialidade e exibe hoje um altíssimo nível de violência. Esta realidade não pode ser ignorada e exige soluções a curto prazo. Os investimentos em educação, saúde, segurança, enfim tudo que proporcionasse ao cidadão brasileiro a condição de uma vida melhor e mais digna teriam o condão de resolver, em parte, o problema da violência. Mas a nossa experiência nos diz que estas questões só passarão a ser encaradas a médio ou longo prazo, pois são questãos que não estão absolutamente na mira dos políticos.Não adianta dourar a pílula! Estamos vivendo mal, num meio inseguro e violento e tornam-se urgentes medidas que mudem, pelo menos um pouco, esta triste situação.

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  6. Enquanto neste espaço seleto, figuras ímpares debatem (em altíssimo nível, diga-se) questões de fundo do tecido social... boa parte dos agentes políticos, eleitos com votos comprados, se lixa, e continua enchendo cuecas, meias e patrimônio de comparsas com o dinheiro de todos nós.

    FAZ DE CONTA QUE NÃO SABEMOS...

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  7. A discussão pela discussão não resolverá a questão. Mas acho importante prosseguir nesse tema instigante.
    Veja, Marília, embora o Código Penal seja antigo, existem várias (dezenas de) leis penais extravagantes (fora do Código). Igualmente, o processo penal vem passando por reformas pontuais. Essas mudanças, a exemplo do que ocorreu com a leis civis, é uma decorrência da complexidade da vida atual. Surgem, a cada dia, novas condutas que devem ser consideradas pelo Direito.
    Arrisco-me a dizer que temos uma verdadeira inflação legislativa. Claro, leis boas e leis más. Leis que pegam e leis que não pegam. Mas elas, por si sós, não resolvem o problema.
    Acho perigoso o seu raciocínio de que, se o Estado não consegue assegurar direitos mínimos aos cidadãos, deve ao menos agir com rigor contra aqueles que, por um motivo ou outro, cometeram crimes. Se a moda pega, poderemos voltar ao totalitarismo. Passaremos a punir pessoas e não condutas desviantes. Ora, quem tem mais motivos para delinquir? São justamente os menos favorecidos. Bem ou mal, eles já são a clientela preferida do Direito Penal. Basta olhar as nossas prisões para entender o que estou falando.
    Em suma, o que quis dizer é que nos demitimos das nossas obrigações morais, legais e religiosas, deixando a conta para o Estado (o direito criminal) pagar. Vivemos numa sociedade doente, onde nossos filhos não têm noção de limites (bebem e cheiram demais). Acreditamos, sincera e levianamente, que o aumento do rigor das penas poderá consertar o mundo. Mentira! O raio do Direito Penal é muito bom enquanto estiver caindo no quintal do vizinho. No dia em que atingir o nosso quintal, condenando um filho nosso a mais de 20 anos de cadeia, mudaremos de opinião.
    As medidas para mudar o mundo (ou para parar de dourar a pílula) passam pela mundaça de comportamento das pessoas. Óbvio: boas mudanças legislativas serão bem-vindas. Mas elas sozinhas não resolvem. A criminalidade, que sempre existiu e existirá, não possui uma só causa e, por essa razão, não atingirá patamares aceitáveis com meras mudanças legislativas. A não ser que, renegando todas as conquistas do processo civilizatório, voltemos à época da barbárie ou adotemos regimes totalitários.

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  8. Vejo que estamos diante de um clamor público exigindo a superação das dificuldades técnicas de implementação de correções de rumo da sociedade. Felizmente o Congresso Nacional conta com as Comissões Técnicas para assessorar os deputados que representam o clamor público. Para esse clamor público não interessam as formas disponíveis de solução e os governos e políticos que se virem para resolver. Evidente que não são assuntos somente para Governos, mas vários países superaram momentos como os que estamos vivendo, mas não conseguem superar os efeitos da violência causada pelas drogas, especialmente o crak. E o sistema penitenciário não cosegue superar o efeito multiplicador de criminosos. Fato é que fóruns inadequados e frases curtas não são capazes de permitir abordagens completas, inibindo a criação ou inovação por serem conclusivas. O ideal seria que o assunto, ou as soluções, nunca perdessem de vista o respeito ao ser humano, criador do Estado de direito. Os interrelacionamentos dos agentes que podem mudar o quadro são complexos e a Igreja deve ser chamada para ajudar a recuperar a perda dos princípios filosóficos da humanidade, inclusive está nisso o "amor ao próximo como a si mesmo". Mais uma vez a Marília não fala por si e representa a voz que clama por soluções de problemas que estão atormentando cada um de nós.

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