Brasília, inédita e exclusiva, na visão de Geraldo Vieira
Da revista Photo Magazine | Abril/Maio 2010
texto Bola Teixeira | Foto: Geraldo Vieira
No mês de abril, mais precisamente no dia 21, Brasília completa 50 anos de existência. Concebida como a capital do Brasil sob o argumento nacionalista de uma ação de segurança nacional pelo então presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, Brasília não tem muito do que comemorar. As festividades – falou-se até num show ao ar livre com o ex-beatle Paul McCartney – foram suspensas por conta do extremismo da corrupção que assolou o Cerrado, simbolicamente representado pelos panetones do hoje presidiário José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal.
O flagrante de Arruda e dos deputados distritais não é um caso isolado. Brasília, além de capital da República, ostenta a deplorável fama de central nacional da corrupção. Basta passar os olhos nas longas listas de escândalos desde que a burocracia administrativa do Brasil foi transferida do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Especialmente na era democrática, onde a corrupção não privilegia esse ou outro presidente ou partido político. E seus protagonistas? Bem, na sua grande maioria, estão encobertos sob o manto da impunidade.
Esse cenário todo pode explicar o descaso com a fotografia documental do fotógrafo mineiro Geraldo Vieira, que, por conta própria, registrou o nascimento de Brasília com sua Rolleiflex, desde a primeira missa até a inauguração. Esse rico trabalho chega aos 50 anos de Brasília ainda inédito, por incrível que pareça. O acervo com 455 negativos 6x6, embora reconhecido pelo Arquivo Público do Distrito Federal como raro e de altíssima qualidade, não seduziu os coraçõezinhos dos burocratas de Brasília.
Geraldo é mineiro de Estrela do Sul. Migrou para Araguari, também em território mineiro, aos 24 anos, onde iniciou sua carreira como fotógrafo profissional. Faleceu aos 82 anos, deixando como legado 80 mil negativos e 2800 fotografias em papel, considerado um dos maiores acervos históricos de um único fotógrafo no Brasil. Tal acervo foi reconhecido pelo Iphan de Minas Gerais.
Pode-se afirmar que Vieira foi um autodidata. Aprendeu o ofício valendo-se de pesquisas e experimentações. Em seu estúdio em Araguari, e com a colaboração de seu sobrinho Napier do Nascimento, criou uma técnica própria de iluminação, isso nos anos 30. "Era um cocho de metal com quatro lâmpadas incandescentes como luz principal e dois spot lights para fazer luz de cabelo e relevo. Eles viam fotografias em revistas e jornais e tentavam imitar a iluminação", relembra seu neto, Henrique Vieira, principal responsável pelo reconhecimento do trabalho de Vieira nos gabinetes refrigerados de Brasília.
Nota: O link da Photo Magazine foi enviado pelo fotógrafo Henrique Vieira, neto de Geraldo Vieira. Por e-mail, ele informa que a revista já está nas bancas.
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O acervo fotográfico de Geraldo Vieira é tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural de Araguari.
ResponderExcluirPode ter reconhecimento informal do IPHAN/MG, porém, não foi tombado pelo referido órgão. Que por sinal, o IPHAN não possui nenhum bem móvel ou imóvel tombado em Araguari, algo que preocupa em função do rico acervo ferroviário que temos (e que está sendo vergonhosamente conspurcado e exterminado), bem como, o acervo do próprio Geraldo Vieira, do Judiciário, do Colégio Regina Pacis, entre outros.
Mas, para o IPHAN, patrimônio cultural só existe em Ouro Preto e Mariana.
80.000 Negativos? Já imaginou se a câmera fosse digital? Quisera eu que o negativo de Brasília fosse apenas uma película.
ResponderExcluirEstes sim (Geraldo Vieira e seus descendentes), são araguarinos dignos de reconhecimento e respeito.
ResponderExcluirDiferente de tantos que usaram e usam a política para se locupletarem, abandonando a cidade ao descaso, a família Vieira fez do seu trabalho um cântico de amor a Araguari.
Diz o artigo 5º da Constituição Federal: "LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;".
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