Caroneiro e lavrador em extinção
Aristeu Nogueira Soares
Logo após o Posto Brasileirão, na volta a Goiandira por Catalão, avistei um matuto à beira do asfalto. Estava com as mãos cheias de sacolas do Supermercado Bretas.
Parei pra ele como pararia a qualquer um, pois sou muito grato às caronas que já recebi nessa minha vida. Sei do perigo, mas não consigo resistir em fazer este tipo de caridade e outras também.
Ramiro, o nome dele era este, quando soube que meu próximo destino era Catalão me disse num tom muito satisfeito:
- Então eu desço no Trevo de Patrocínio porque eu vou pra Cascáirrico. Eu trabáio numa fazenda de lá. Do trevo lá é só uns vinte e cinco quilômetros e eu tiro no pé.
Caramba! Vinte e cinco quilômetros no pé? Debaixo de um sol ardente? E ainda carregando peso?
Ele me informou que do trevo até a entrada da fazenda eram 12 Km no asfalto e então fiquei de desviar minha rota pelo menos estes doze quilômetros para ajudá-lo ainda mais. Isto não me custaria quase nada. Ele ficou tão empolgado de que Deus estava ajudando-o e até disse que iria arriscar pedir um cavalo emprestado ao primeiro fazendeiro que encontrasse.
Ele se animou mais e a prosa foi tomando forma. Disse-me que fora a Araguari para comprar uma pomada de uso continuado para a filha, difícil de encontrar, e aproveitou para fazer umas compras. Quando tem remédio em Cascáirrico eles não enrolam. A prefeitura é muito boa.
Escutei um tinido de garrafas e perguntei se era pinga, o que ele confirmou, mas era para uns conhecidos que estavam batendo pasto nas terras vizinhas. Ramiro não bebe, coisa rara ao pessoal rural.
Nesta fazenda ele já estava há um ano e ganhava setecentos reais sem a parte do INSS, mas o patrão não dava mais nada. Ramiro tinha que fazer toda a sua despesa. Nenhuma vaquinha o patrão deixa criar.
Ramiro também carregava frango congelado e eu perguntei se galinha também ele não podia criar. Ele disse que podia, desde que comprasse o trato. O que acontecia no momento é que deu remédio para os galinácios e não podia abatê-los durante um tempo.
Ramiro apresentava trinta e poucos anos e, para fazer esta viagem, teve que acordar duas horas da madrugada para tirar a cota diária de quatrocentos litros de leite.
Sempre foi duro ser do campo, mas Ramiro ainda fazia planos de trabalho para aquele dia estafante.
Suas três crianças vão à Escola ziguezagueando pelas estradas poeirentas, mas são bons alunos.
Quando foi apear perguntou-me quanto que era, coisa que sempre perguntam e que me deixa carrancudo.
A parabólica traz o mundo pra dentro da casa de Ramiro contribuindo sobremaneira para que este tipo de família entre em extinção.
Logo após o Posto Brasileirão, na volta a Goiandira por Catalão, avistei um matuto à beira do asfalto. Estava com as mãos cheias de sacolas do Supermercado Bretas.
Parei pra ele como pararia a qualquer um, pois sou muito grato às caronas que já recebi nessa minha vida. Sei do perigo, mas não consigo resistir em fazer este tipo de caridade e outras também.
Ramiro, o nome dele era este, quando soube que meu próximo destino era Catalão me disse num tom muito satisfeito:
- Então eu desço no Trevo de Patrocínio porque eu vou pra Cascáirrico. Eu trabáio numa fazenda de lá. Do trevo lá é só uns vinte e cinco quilômetros e eu tiro no pé.
Caramba! Vinte e cinco quilômetros no pé? Debaixo de um sol ardente? E ainda carregando peso?
Ele me informou que do trevo até a entrada da fazenda eram 12 Km no asfalto e então fiquei de desviar minha rota pelo menos estes doze quilômetros para ajudá-lo ainda mais. Isto não me custaria quase nada. Ele ficou tão empolgado de que Deus estava ajudando-o e até disse que iria arriscar pedir um cavalo emprestado ao primeiro fazendeiro que encontrasse.
Ele se animou mais e a prosa foi tomando forma. Disse-me que fora a Araguari para comprar uma pomada de uso continuado para a filha, difícil de encontrar, e aproveitou para fazer umas compras. Quando tem remédio em Cascáirrico eles não enrolam. A prefeitura é muito boa.
Escutei um tinido de garrafas e perguntei se era pinga, o que ele confirmou, mas era para uns conhecidos que estavam batendo pasto nas terras vizinhas. Ramiro não bebe, coisa rara ao pessoal rural.
Nesta fazenda ele já estava há um ano e ganhava setecentos reais sem a parte do INSS, mas o patrão não dava mais nada. Ramiro tinha que fazer toda a sua despesa. Nenhuma vaquinha o patrão deixa criar.
Ramiro também carregava frango congelado e eu perguntei se galinha também ele não podia criar. Ele disse que podia, desde que comprasse o trato. O que acontecia no momento é que deu remédio para os galinácios e não podia abatê-los durante um tempo.
Ramiro apresentava trinta e poucos anos e, para fazer esta viagem, teve que acordar duas horas da madrugada para tirar a cota diária de quatrocentos litros de leite.
Sempre foi duro ser do campo, mas Ramiro ainda fazia planos de trabalho para aquele dia estafante.
Suas três crianças vão à Escola ziguezagueando pelas estradas poeirentas, mas são bons alunos.
Quando foi apear perguntou-me quanto que era, coisa que sempre perguntam e que me deixa carrancudo.
A parabólica traz o mundo pra dentro da casa de Ramiro contribuindo sobremaneira para que este tipo de família entre em extinção.
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