Agulhas
Neiton de Paiva Neves
O caso do garotinho de dois anos que teve seu corpo trespassado por várias agulhas pelo amante de sua mãe é chocante. A agulha introduzida em seu coração perfurou o meu e as outras também me machucaram muito. É assustador. Mais que isso, além de inúmeros outros tão selvagens quanto, trata-se de um caso emblemático de nosso e de todos os tempos.
Que tipo de animal é capaz fazer aquilo com uma criança?
Aquele animal enquadra-se como membro de uma espécie que tem cérebro altamente desenvolvido, com inúmeras capacidades que nenhum outro ser possui, como inteligência, vontade, criatividade, capacidade de falar etc., e, portanto, tecnicamente, é um homem, um ser humano.
Mesmo enfiando dezenas de agulhas no corpo frágil e virgem de uma criancinha impotente e indefesa. Exatamente como os estupradores e agressores de menores que circulam por aÃ, para não dizer dos assassinos, espancadores, traficantes e marginais de toda espécie.
E aquele pequeninho, submisso pela própria condição e incapaz de se defender, não encarna e não é igual a tantos outros que estão entregues ao acaso e a sabe-se lá a que, com fome, frio, sem perspectiva e com as agulhas do descaso e do abandono cravadas em suas vidas?
Não sei o leitor conhece um samba de roda (ritmo da Bahia, de origem afro-brasileira, cantante e dançante), composição de Nelson Rufino e Zé Luiz, com um refrão maravilhoso: “Todo menino é um rei / Eu também já fui rei / Mas quá! / Despertei”.
Despertei, não sou mais criança. Mas minha memória inconsciente me leva plena identificação e a amar todas elas. Elas me derretem com sua pureza e a paz que transmitem, com sua alegria inocente, com sua dependência e seu potencial. Sinto um amor que que me enche de esperança e de preocupação.
Esperança, porque sei que superarão todas as adversidades e vão se tornar adultos melhores do eu e do que muitos. Quem sabe “imagem e semelhança de Deus”, mesmo. Preocupação, porque sei da luta que as espera neste, de um lado, “mundo maravilhoso”, e de outro, “um vale de lágrimas”.
Conheço e respeito pessoas que não se permitem vivenciar esta época de festas de fim de ano. Alegam ter objetivo comercial, bom para quem pode comprar, dar e receber presentes, e frustrante para quem não pode. Tem sim esse lado, mas, antes ou depois do Natal é diferente? Assim fosse e assim seja. Há muito a fazer. Quem fará?
Ou dizem que não se justifica tais comemorações enquanto existirem tantas injustiças e desigualdades, fome, guerra, e outras desgraças da humanidade.
Existem, é também verdade, mas, antes ou depois do Natal é diferente? Assim fosse e assim seja. Há muito a fazer.Quem fará?
Querer um mundo melhor é um direito e um dever e a indiferença frente ao infortúneo alheio é um crime. Mas, viver incomodado é uma coisa e atormentado é outra. No dia de Natal e no da passagem do ano, mais do que em qualquer dia, não faz bem ter crepe na alma.
Afinal, aquela criança que nasceu dois mil anos atrás, foi torturada, teve sua cabeça rasgada por espinhos e seu corpo perfurado, morreu na cruz, ressuscitou e disse: “Tenho dito isto a vocês, para que em mim tenham paz; no mundo terão aflições, mas tenham bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16 : 33).
Portanto, coragem. E boas festas e feliz ano novo! (dez/2009).
Artigo publicado originalmente no jornal Botija Parda, edição de 31/12/2009.
O caso do garotinho de dois anos que teve seu corpo trespassado por várias agulhas pelo amante de sua mãe é chocante. A agulha introduzida em seu coração perfurou o meu e as outras também me machucaram muito. É assustador. Mais que isso, além de inúmeros outros tão selvagens quanto, trata-se de um caso emblemático de nosso e de todos os tempos.
Que tipo de animal é capaz fazer aquilo com uma criança?
Aquele animal enquadra-se como membro de uma espécie que tem cérebro altamente desenvolvido, com inúmeras capacidades que nenhum outro ser possui, como inteligência, vontade, criatividade, capacidade de falar etc., e, portanto, tecnicamente, é um homem, um ser humano.
Mesmo enfiando dezenas de agulhas no corpo frágil e virgem de uma criancinha impotente e indefesa. Exatamente como os estupradores e agressores de menores que circulam por aÃ, para não dizer dos assassinos, espancadores, traficantes e marginais de toda espécie.
E aquele pequeninho, submisso pela própria condição e incapaz de se defender, não encarna e não é igual a tantos outros que estão entregues ao acaso e a sabe-se lá a que, com fome, frio, sem perspectiva e com as agulhas do descaso e do abandono cravadas em suas vidas?
Não sei o leitor conhece um samba de roda (ritmo da Bahia, de origem afro-brasileira, cantante e dançante), composição de Nelson Rufino e Zé Luiz, com um refrão maravilhoso: “Todo menino é um rei / Eu também já fui rei / Mas quá! / Despertei”.
Despertei, não sou mais criança. Mas minha memória inconsciente me leva plena identificação e a amar todas elas. Elas me derretem com sua pureza e a paz que transmitem, com sua alegria inocente, com sua dependência e seu potencial. Sinto um amor que que me enche de esperança e de preocupação.
Esperança, porque sei que superarão todas as adversidades e vão se tornar adultos melhores do eu e do que muitos. Quem sabe “imagem e semelhança de Deus”, mesmo. Preocupação, porque sei da luta que as espera neste, de um lado, “mundo maravilhoso”, e de outro, “um vale de lágrimas”.
Conheço e respeito pessoas que não se permitem vivenciar esta época de festas de fim de ano. Alegam ter objetivo comercial, bom para quem pode comprar, dar e receber presentes, e frustrante para quem não pode. Tem sim esse lado, mas, antes ou depois do Natal é diferente? Assim fosse e assim seja. Há muito a fazer. Quem fará?
Ou dizem que não se justifica tais comemorações enquanto existirem tantas injustiças e desigualdades, fome, guerra, e outras desgraças da humanidade.
Existem, é também verdade, mas, antes ou depois do Natal é diferente? Assim fosse e assim seja. Há muito a fazer.Quem fará?
Querer um mundo melhor é um direito e um dever e a indiferença frente ao infortúneo alheio é um crime. Mas, viver incomodado é uma coisa e atormentado é outra. No dia de Natal e no da passagem do ano, mais do que em qualquer dia, não faz bem ter crepe na alma.
Afinal, aquela criança que nasceu dois mil anos atrás, foi torturada, teve sua cabeça rasgada por espinhos e seu corpo perfurado, morreu na cruz, ressuscitou e disse: “Tenho dito isto a vocês, para que em mim tenham paz; no mundo terão aflições, mas tenham bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16 : 33).
Portanto, coragem. E boas festas e feliz ano novo! (dez/2009).
Artigo publicado originalmente no jornal Botija Parda, edição de 31/12/2009.
Isto que eu chamo Agulhas Negras. Haja realmente coragem para enfrentar um tempo novo. Obrigado, Neiton, pela alfinetada.
ResponderExcluirPrefeito, essas tantas questões tão cruciais para todos nós exigem uma vida inteira (ou mais) para serem entendidas. Muitas filosofias e religiões foram criadas buscando uma explicação para tanto sofrimento, tantas divergências de opiniões, inclusive uma simples como comemorar ou não o Natal. Como entender uma fera humana injetando agulhas em criança e como entender a posição desse animal no contexto da Justiça Divina. Da mesma forma, talvez, como entender uma criança que nasce com o corpo totalmente deformado ou louco como esse baiano e outra que nasce para brilhar no mundo? Talvez a mente humana, assim como tem dificuldade de abarcar todo o entendimento da grandeza do universo, também tem dificuldade de compreender os sublimes desÃgnios do Criador, mesmo quando Sua Ação ocorra utilizando como instrumento essa besta baiana.
ResponderExcluirAté que ponto ou proporção somos responsáveis por esta trágica realidade?
ResponderExcluirEste "homem", com certeza interagiu desde o nascimento com uma sociedade que não o reconheceu ou mesmo soube de sua existência.Esta criatura não adquiriu por acaso esta predisposição...
Dada talvez, minha indiferença da realidade ao redor, quantos monstros iguais ou piores ajudei a criar? Quantos dementes este nosso sistema educacional e judiciário fortaleceu? Minha culpa e responsabilidade talvez esteja na falta de ação ao constatar monstros piores enfiando dinheiro em meias e cueca e logo após pedindo as bençãos de Deus.
Como tudo está sob o manto do Criador (Lei de Causa e Efeito), também os polÃticos devem sofrer os efeitos em si mesmos das causas de suas próprias ações, mas os efeitos são generalizados sobre todos. Enquanto houver os efeitos nefastos das ações coletivas dos polÃticos sobre a administração pública, interferindo na baixa qualidade dos serviços públicos prestados e causando a baixa qualidade de vida das pessoas, o único consolo é buscar explicações sobrenaturais, já que os fatos geradores atuais (meias e cuecas) não estão encontrando leis punitivas capazes de afastar, de imediato, polÃticos escancaradamente culpados da existência de situações de riscos individuais, criando vÃtimas e algozes de todos os matizes. Evidentemente, via de regra, para o mundo real não é a melhor opinião justificar situações do mundo prático com explicações religiosas ou filosóficas, sendo mais recomendável estudar os meios de evitar a omissão e a culpa individual e coletiva. Mas parece que as duas coisas se confundem para quem acredita que a voz do povo é a voz de Deus, ao menos enquanto o povo escolher os polÃticos, ambos, portanto, culpados, mas sob as bênçãos do Criador. Evidentemente que com ou sem corrupção os dementes ainda existirão; portanto, melhor será sempre orar e vigiar.
ResponderExcluirQuantas agulhas de intolerância, soberba, desprezo e humilhação os seres humanos não se espetam ao longo da vida, através de ações comezinhas, imperceptÃveis para quem as pratica, mas extremamente dolorosas para que as sofre?!
ResponderExcluirAo mestre Neiton de Paiva, obrigado por mais uma página de sensibilidade.