A história de um acidente
Daniel Caetano Cestari (*)
No dia 22 de dezembro deste ano de 2009, minha filha Juliana e meu genro Luiz Otávio, residentes em Brasília, iniciaram viagem para nossa cidade de Jaú, SP. para passar as festas de final de ano.
Carro revisado, duas malas de roupas, uma mochila com presentes, lap top e a pequena e engraçada cadelinha Chica em sua caixinha. Pela longa distancia a ser percorrida, Juliana combinou com sua mãe que, a cada duas horas, ligaria informando onde e como estava.
Saíram às 6 da manhã e às 8 horas ocorreu a primeira ligação: Mãe, estamos em tal lugar e está tudo bem. Às 10 horas, outra ligação: Mãe, estamos em tal lugar e eu comprei aquele queijo que você tanto gosta, a Chica está meio zonza, é a sua primeira viagem de carro. Ao meio dia ninguém ligou.
Às 12,30 horas, meu filho Fábio recebe uma ligação em seu celular: É o Fábio? Sim. Você é irmão da Juliana? Sim, por quê? Aqui é a Sandra, assistente social do Hospital de Clínicas da cidade de Uberlândia; sua irmã e seu cunhado sofreram um acidente na estrada; é bom você avisar os seus pais e virem para cá.
- Mas, Sandra, como eles estão?
- Estão vivos, não correm risco de morrer, estão internados fazendo exames, mas venham logo.
Pânico total, correria geral, dois carros na estrada em desabalada carreira para cobrir os quase 500 quilômetros de distancia de Jaú até lá. No caminho passam pela minha cabeça todos os pensamentos e todas as conseqüências que um acidente de estrada pode causar. Peço a Deus que os proteja. Mas, o que aconteceu?
No trecho Araguari - Uberlândia, no estado de Minas Gerais, na pista simples, numa curva perigosa, um caminhão baú, carregado, perdeu o controle na descida, não se sabe se por defeito mecânico ou imperícia de seu condutor ou pela precariedade da péssima estrada toda esburacada, tombou de lado, atravessou a pista e bateu violentamente no Honda Fit, jogando-o numa ribanceira de pedras de 25 metros de profundidade, capotando-o várias vezes e se imobilizando num riacho, com as quatro rodas para cima. Se desse mais uma capotada teria caído num lago.
Juliana, desesperada, chamava pelo marido que respondeu na hora; estavam machucados, mas tinham todos os sentidos funcionando. Ela saiu do carro pelo buraco do vidro da porta traseira, arrastando-se nos cacos de vidro e lama, enquanto a água do riacho entrava. Luiz Otávio saiu pelo outro lado. Sentados no chão se abraçavam e choravam, não acreditando no que tinha acabado de lhes acontecer. A cadela Chica, assustada, saiu correndo pelo mato. O caminhão tombado ainda bateu em outro carro, um GM - Celta. Outros motoristas que viram o acidente pararam seus veículos, mas não podiam descer a ribanceira por se tratar de local de difícil acesso. Alguém chamou a Policia Rodoviária Federal e o Corpo de Bombeiros e este chegou rapidamente.
Removidos e levados à beira da pista iam ser embarcados na viatura quando Juliana avisou aos socorristas: Moço, eu tenho um cachorrinha de estimação, muito pequeninha. Por favor, pegue-a para mim, pois não posso abandoná-la aqui. O chefe dos bombeiros, um senhor gordo esbravejou: "Moça, nós estamos aqui para salvar vidas e não para correr atrás de cachorro! Entre logo na viatura." Mas, moço, o senhor está vendo que nós estamos bem, pelo menos aparentemente; por favor, peça para alguém procurar, ela não pode estar longe, pois é muito novinha." Olha senhora, o que eu tinha que falar eu já falei, entre logo na viatura ou vou largá-la aqui na estrada e não me responsabilizo pela sua saúde."
Novo choro, de inconformismo. Naquele momento, Juliana teve a sensação que estava perdendo a pequena Chica, que poderia estar pertinho. Não era possível acreditar que o comandante do Corpo de Bombeiros, que comandava as duas viaturas no local, pessoa de curso superior, homem treinado para atender pessoas fragilizadas por causa de acidentes automobilísticos, ao invés de cumprir sua função humanitária, estivesse sendo tão grosso e malcriado daquele jeito. Juliana, pessoa enérgica e determinada, não deixou por menos: tascou-lhe uns palavrões.
Quando Luiz Otávio entrou na viatura, preocupado, pediu ao mesmo comandante gordo: Moço, nós temos muitas coisas no carro, alguém vai tomar conta? E veio a resposta: "Filho, fique tranqüilo, a Policia Rodoviária Federal está aí e vai tomar conta de tudo, pois é sua obrigação." No Hospital de Clinicas foram bem atendidos, passaram por exames clínicos e radiológicos e ficaram em observação até o final da tarde quando cheguei ao local, com minha mulher, meu filho e o pai de Luiz Otávio, vindo às pressas de Franca.
Liberados pelo hospital, pensamos em procurar um hotel para que o casal pudesse se recompor e descansar. Para isso era necessário buscar as malas. Fomos ao pátio do Auto Socorro Triangulo e chegamos no exato momento que o guincho trazia o carro todo arrebentado, com perda total. Ali não havia bagagem nenhuma.
Fomos então ao posto da Polícia Rodoviária Federal, no trecho Uberlândia-Araguari, responsável pelo trecho do acidente. Ao chegar não pudemos entrar na sala de atendimento pois o policial Ciuffa ficou de pé na porta, com os braços cruzados, nos olhando. Perguntamos pelo policial Denis, que havia estado no hospital coletando os documentos do motorista e passageiro. "Ele está ocupado, mas qual é o seu problema?" Nós viemos buscar a bagagem do casal que se acidentou hoje ao meio dia na curva do Rio das Velhas. "Aqui não tem bagagem nenhuma." Mas, policial, o senhor não esteve no local do acidente? Não é de praxe a Policia Rodoviária fazer a preservação do local e proteger o patrimônio das pessoas envolvidas? "Não, o senhor está enganado. Nós estivemos no local, fizemos o boletim de ocorrência e fomos embora. Não temos obrigação de tomar conta de nada." Mas, policial, o senhor tem certeza que é assim mesmo, os acidentados vão para o hospital e seus pertences ficam ali, abandonados? "Sim senhor, não é nossa obrigação". Policial, eu vou perguntar pela terceira vez: eu moro no estado de São Paulo, que possui a melhor Policia Rodoviária do Brasil e lá, eles fazem essa preservação, não deixam ninguém se aproximar dos veículos, se não foram autorizados. "Pois eu vou responder pela terceira vez: Nós não temos nada a ver com isso. Quem chegou primeiro ao local foi o Corpo de Bombeiros. Por que o senhor não vai lá cobrar isso deles?"
Resolvemos fazer isso. No caminho de volta, ao passar pelo local do acidente havia chegado outro caminhão e estacionado ao lado do caminhão tombado, recolhia a sua carga e usando uma parte da pista. Era começo da noite. Não havia nenhuma sinalização, nem por viatura, nem por galhos de árvores, nem tochas de fogo, nem uma pessoa com lanterna ou bandeira vermelha. Absolutamente nada. E os policiais Denis e Ciuffa, descansando em seu posto, há poucos quilômetros dali. Havia risco de ocorrer novo acidente, mas, fazer o quê?
Chegando ao Corpo de Bombeiros fomos atendidos pelo Major Nivaldo, este sim policial à altura de seu cargo. Gentil, educado, falando baixo explicou-nos a sistemática operacional dos socorristas do Corpo de Bombeiros e nos garantiu que cabe à Policia Rodoviária Federal preservar o local do acidente, os veículos e seus pertences.
Diante de todas essas informações, frustrados em nossas expectativas, resolvemos ir para o hotel e ali presenciei um dos espetáculos mais tristes da minha vida: Juliana e Luiz Otávio adentram ao saguão do Hotel São Diego, descalços, (perderam os sapatos) sujos de lama e sangue, tristes, cabisbaixos, assustados, ela chorando, sem malas, sem computador, sem sua mochila de presentes e ainda por cima, sem a doce Chica. Tudo lhes foi furtado. Não tinham absolutamente nada. Foram totalmente abandonados pelas autoridades. Foram rebaixados e reduzidos ao nível mais baixo do ser humano. Se seus parentes não estivessem ali, o que iriam fazer? Tiveram que emprestar as roupas de reserva que levamos para nós, pois não tinham o que vestir. Mas, por outro lado, estavam milagrosamente vivos por obra divina. Deus olhou para eles e seus Anjos da Guarda os protegeram.
Quando parei no local do acidente, retornando do posto da Policia Rodoviária Federal e comentei com outros motoristas o ocorrido ouvi o seguinte relato: "moço, liga não, a polícia da estrada é tudo ladrão. eles fala que ganha pouco e achaca nois motorista e roba os acidentado, não tem jeito". Verdadeiro absurdo. Recuso-me a acreditar que isso seja verdade, pois não é possível que a autoridade constituída para proteger o orientar os viajantes praticasse atos de tamanha desumanidade e selvageria.
Afinal de contas, pelo que sei o policial rodoviário federal não ganha tão pouco. Estou escrevendo esta carta para desabafar e demonstrar o meu inconformismo com esse estado de coisas. Então devo aceitar que é assim mesmo, que não tem jeito ? Que pessoas, vítimas de acidente, fragilizadas naquele momento de infortúnio, às vezes com vitimas fatais sejam saqueadas exatamente por aqueles que têm obrigação de protegê-las?
Absolutamente não. Vou acionar todas as autoridades que possam ter envolvimento com o caso. Exijo satisfação dos Governo Federal e do Estado de Minas Gerais. Assumo total responsabilidade por estas declarações e desafio o governo mineiro a provar que estou errado, ou que estão errados os motoristas que assim o disseram, pois pedirei desculpas públicas. Peço aos amigos que divulguem este triste episódio e acrescentem outros fatos de seu conhecimento naquelas estradas. Alerto a todos os que precisem viajar pelo estado de Minas Gerais para que tenham cuidado com suas péssimas estradas, todas esburacadas, demonstrando descaso de seu governo e me ocorre perguntar: para onde vão as centenas de milhões de reais de verbas federais específicas para isso? POBRE MINAS GERAIS.
(*) Daniel Caetano Cestari, advogado, reside em Jaú, SP.
Leia a notícia: Saldo de quatro feridos em mais um acidente na BR-050
Atualização às 01h11, do dia 28/12: Por e-mail, Daniel envia foto da cachorra Chica, que continua desaparecida. Ela é da raça Japanese Chin ou Spaniel Japonês, mede aproximadamente 30 cm e pesa em torno de quatro quilos.
No dia 22 de dezembro deste ano de 2009, minha filha Juliana e meu genro Luiz Otávio, residentes em Brasília, iniciaram viagem para nossa cidade de Jaú, SP. para passar as festas de final de ano.
Carro revisado, duas malas de roupas, uma mochila com presentes, lap top e a pequena e engraçada cadelinha Chica em sua caixinha. Pela longa distancia a ser percorrida, Juliana combinou com sua mãe que, a cada duas horas, ligaria informando onde e como estava.
Saíram às 6 da manhã e às 8 horas ocorreu a primeira ligação: Mãe, estamos em tal lugar e está tudo bem. Às 10 horas, outra ligação: Mãe, estamos em tal lugar e eu comprei aquele queijo que você tanto gosta, a Chica está meio zonza, é a sua primeira viagem de carro. Ao meio dia ninguém ligou.
O carro em que viajavam Juliana e Luiz Otávio foi jogado para fora da pista por um caminhão desgovernado num dos pontos mais críticos da BR-050, entre Araguari e Uberlândia, e caiu de uma altura de aproximadamente 15 metros, numa ribanceira à beira do Rio Araguari
(Foto: Jornal Correio de Uberlândia)
(Foto: Jornal Correio de Uberlândia)
Às 12,30 horas, meu filho Fábio recebe uma ligação em seu celular: É o Fábio? Sim. Você é irmão da Juliana? Sim, por quê? Aqui é a Sandra, assistente social do Hospital de Clínicas da cidade de Uberlândia; sua irmã e seu cunhado sofreram um acidente na estrada; é bom você avisar os seus pais e virem para cá.
- Mas, Sandra, como eles estão?
- Estão vivos, não correm risco de morrer, estão internados fazendo exames, mas venham logo.
Pânico total, correria geral, dois carros na estrada em desabalada carreira para cobrir os quase 500 quilômetros de distancia de Jaú até lá. No caminho passam pela minha cabeça todos os pensamentos e todas as conseqüências que um acidente de estrada pode causar. Peço a Deus que os proteja. Mas, o que aconteceu?
No trecho Araguari - Uberlândia, no estado de Minas Gerais, na pista simples, numa curva perigosa, um caminhão baú, carregado, perdeu o controle na descida, não se sabe se por defeito mecânico ou imperícia de seu condutor ou pela precariedade da péssima estrada toda esburacada, tombou de lado, atravessou a pista e bateu violentamente no Honda Fit, jogando-o numa ribanceira de pedras de 25 metros de profundidade, capotando-o várias vezes e se imobilizando num riacho, com as quatro rodas para cima. Se desse mais uma capotada teria caído num lago.
Juliana, desesperada, chamava pelo marido que respondeu na hora; estavam machucados, mas tinham todos os sentidos funcionando. Ela saiu do carro pelo buraco do vidro da porta traseira, arrastando-se nos cacos de vidro e lama, enquanto a água do riacho entrava. Luiz Otávio saiu pelo outro lado. Sentados no chão se abraçavam e choravam, não acreditando no que tinha acabado de lhes acontecer. A cadela Chica, assustada, saiu correndo pelo mato. O caminhão tombado ainda bateu em outro carro, um GM - Celta. Outros motoristas que viram o acidente pararam seus veículos, mas não podiam descer a ribanceira por se tratar de local de difícil acesso. Alguém chamou a Policia Rodoviária Federal e o Corpo de Bombeiros e este chegou rapidamente.
Removidos e levados à beira da pista iam ser embarcados na viatura quando Juliana avisou aos socorristas: Moço, eu tenho um cachorrinha de estimação, muito pequeninha. Por favor, pegue-a para mim, pois não posso abandoná-la aqui. O chefe dos bombeiros, um senhor gordo esbravejou: "Moça, nós estamos aqui para salvar vidas e não para correr atrás de cachorro! Entre logo na viatura." Mas, moço, o senhor está vendo que nós estamos bem, pelo menos aparentemente; por favor, peça para alguém procurar, ela não pode estar longe, pois é muito novinha." Olha senhora, o que eu tinha que falar eu já falei, entre logo na viatura ou vou largá-la aqui na estrada e não me responsabilizo pela sua saúde."
Novo choro, de inconformismo. Naquele momento, Juliana teve a sensação que estava perdendo a pequena Chica, que poderia estar pertinho. Não era possível acreditar que o comandante do Corpo de Bombeiros, que comandava as duas viaturas no local, pessoa de curso superior, homem treinado para atender pessoas fragilizadas por causa de acidentes automobilísticos, ao invés de cumprir sua função humanitária, estivesse sendo tão grosso e malcriado daquele jeito. Juliana, pessoa enérgica e determinada, não deixou por menos: tascou-lhe uns palavrões.
Quando Luiz Otávio entrou na viatura, preocupado, pediu ao mesmo comandante gordo: Moço, nós temos muitas coisas no carro, alguém vai tomar conta? E veio a resposta: "Filho, fique tranqüilo, a Policia Rodoviária Federal está aí e vai tomar conta de tudo, pois é sua obrigação." No Hospital de Clinicas foram bem atendidos, passaram por exames clínicos e radiológicos e ficaram em observação até o final da tarde quando cheguei ao local, com minha mulher, meu filho e o pai de Luiz Otávio, vindo às pressas de Franca.
Liberados pelo hospital, pensamos em procurar um hotel para que o casal pudesse se recompor e descansar. Para isso era necessário buscar as malas. Fomos ao pátio do Auto Socorro Triangulo e chegamos no exato momento que o guincho trazia o carro todo arrebentado, com perda total. Ali não havia bagagem nenhuma.
Fomos então ao posto da Polícia Rodoviária Federal, no trecho Uberlândia-Araguari, responsável pelo trecho do acidente. Ao chegar não pudemos entrar na sala de atendimento pois o policial Ciuffa ficou de pé na porta, com os braços cruzados, nos olhando. Perguntamos pelo policial Denis, que havia estado no hospital coletando os documentos do motorista e passageiro. "Ele está ocupado, mas qual é o seu problema?" Nós viemos buscar a bagagem do casal que se acidentou hoje ao meio dia na curva do Rio das Velhas. "Aqui não tem bagagem nenhuma." Mas, policial, o senhor não esteve no local do acidente? Não é de praxe a Policia Rodoviária fazer a preservação do local e proteger o patrimônio das pessoas envolvidas? "Não, o senhor está enganado. Nós estivemos no local, fizemos o boletim de ocorrência e fomos embora. Não temos obrigação de tomar conta de nada." Mas, policial, o senhor tem certeza que é assim mesmo, os acidentados vão para o hospital e seus pertences ficam ali, abandonados? "Sim senhor, não é nossa obrigação". Policial, eu vou perguntar pela terceira vez: eu moro no estado de São Paulo, que possui a melhor Policia Rodoviária do Brasil e lá, eles fazem essa preservação, não deixam ninguém se aproximar dos veículos, se não foram autorizados. "Pois eu vou responder pela terceira vez: Nós não temos nada a ver com isso. Quem chegou primeiro ao local foi o Corpo de Bombeiros. Por que o senhor não vai lá cobrar isso deles?"
Resolvemos fazer isso. No caminho de volta, ao passar pelo local do acidente havia chegado outro caminhão e estacionado ao lado do caminhão tombado, recolhia a sua carga e usando uma parte da pista. Era começo da noite. Não havia nenhuma sinalização, nem por viatura, nem por galhos de árvores, nem tochas de fogo, nem uma pessoa com lanterna ou bandeira vermelha. Absolutamente nada. E os policiais Denis e Ciuffa, descansando em seu posto, há poucos quilômetros dali. Havia risco de ocorrer novo acidente, mas, fazer o quê?
Chegando ao Corpo de Bombeiros fomos atendidos pelo Major Nivaldo, este sim policial à altura de seu cargo. Gentil, educado, falando baixo explicou-nos a sistemática operacional dos socorristas do Corpo de Bombeiros e nos garantiu que cabe à Policia Rodoviária Federal preservar o local do acidente, os veículos e seus pertences.
Diante de todas essas informações, frustrados em nossas expectativas, resolvemos ir para o hotel e ali presenciei um dos espetáculos mais tristes da minha vida: Juliana e Luiz Otávio adentram ao saguão do Hotel São Diego, descalços, (perderam os sapatos) sujos de lama e sangue, tristes, cabisbaixos, assustados, ela chorando, sem malas, sem computador, sem sua mochila de presentes e ainda por cima, sem a doce Chica. Tudo lhes foi furtado. Não tinham absolutamente nada. Foram totalmente abandonados pelas autoridades. Foram rebaixados e reduzidos ao nível mais baixo do ser humano. Se seus parentes não estivessem ali, o que iriam fazer? Tiveram que emprestar as roupas de reserva que levamos para nós, pois não tinham o que vestir. Mas, por outro lado, estavam milagrosamente vivos por obra divina. Deus olhou para eles e seus Anjos da Guarda os protegeram.
Quando parei no local do acidente, retornando do posto da Policia Rodoviária Federal e comentei com outros motoristas o ocorrido ouvi o seguinte relato: "moço, liga não, a polícia da estrada é tudo ladrão. eles fala que ganha pouco e achaca nois motorista e roba os acidentado, não tem jeito". Verdadeiro absurdo. Recuso-me a acreditar que isso seja verdade, pois não é possível que a autoridade constituída para proteger o orientar os viajantes praticasse atos de tamanha desumanidade e selvageria.
Afinal de contas, pelo que sei o policial rodoviário federal não ganha tão pouco. Estou escrevendo esta carta para desabafar e demonstrar o meu inconformismo com esse estado de coisas. Então devo aceitar que é assim mesmo, que não tem jeito ? Que pessoas, vítimas de acidente, fragilizadas naquele momento de infortúnio, às vezes com vitimas fatais sejam saqueadas exatamente por aqueles que têm obrigação de protegê-las?
Absolutamente não. Vou acionar todas as autoridades que possam ter envolvimento com o caso. Exijo satisfação dos Governo Federal e do Estado de Minas Gerais. Assumo total responsabilidade por estas declarações e desafio o governo mineiro a provar que estou errado, ou que estão errados os motoristas que assim o disseram, pois pedirei desculpas públicas. Peço aos amigos que divulguem este triste episódio e acrescentem outros fatos de seu conhecimento naquelas estradas. Alerto a todos os que precisem viajar pelo estado de Minas Gerais para que tenham cuidado com suas péssimas estradas, todas esburacadas, demonstrando descaso de seu governo e me ocorre perguntar: para onde vão as centenas de milhões de reais de verbas federais específicas para isso? POBRE MINAS GERAIS.
(*) Daniel Caetano Cestari, advogado, reside em Jaú, SP.
Leia a notícia: Saldo de quatro feridos em mais um acidente na BR-050
Atualização às 01h11, do dia 28/12: Por e-mail, Daniel envia foto da cachorra Chica, que continua desaparecida. Ela é da raça Japanese Chin ou Spaniel Japonês, mede aproximadamente 30 cm e pesa em torno de quatro quilos.
UBERLÂNDIA-MG, 27 de dezembro de 2009.
ResponderExcluirPrezados Srs.,
Absurdo e triste relato, e exatamente em um período de confraternização e solidariedade.
A questão é que, somente nos damos conta da real situação de nossas Instituições quando - INFELIZMENTE - necessitamos delas... quando sofremos na própria carne o descaso, o despreparo, a indiferença, a indolência, a negligência ao corrermos em busca do que deveria ser um socorro, um auxílio, uma solução para a nossa necessidade imediata.
Exatamente aí que descobrimos o quanto somos fracos individualmente.
Podemos fotografar, filmar, documentar e denunciar.
Absolutamente NADA será feito. Se houver envolvimento de pseudo-autoridades então, esqueça !!!
Vivemos hoje, uma verdadeira Pirâmide Hierárquica de Irresponsabilidades e impunidades em corporativismo, e pior, mantida por nós mesmos, os Contribuíntes.
Resta-nos DIVULGAR!
E, claro, rezar agradecendo a DEUS por - neste caso - termos duas vidas humanas preservadas.
Atenciosamente,
Janis Peters Grants.
Certo é que se todos os presidiários transformassem-se em polícia e toda a policia se transformasse em presidiários a insegurança seria a mesma.
ResponderExcluirÉ realmente triste o que nos conta o Sr. Daniel Caetano e de uma gravidade tão grande que, realmente, deve ser publicizada. Não é possível que as pessoas fiquem tão desamparadas em momentos tão críticos e em que necessitam tanto de apoio. O mundo está precisando de mais humanidade, mais fraternidade. Principalmente
ResponderExcluirsendo policiais, que estão no seu posto para proteger e garantir os cidadãos. Afinal, para que pagamos tantos impostos? Deus queira que tenham achado a Chica. Lembro, apenas, que a BR 050 é de absoluta responsabilidade do Governo Federal. Esperamos que o Sr. Lula dê mais atenção às estradas de Minas Gerais.
Lamentável o ocorrido. Ao que tudo indica, os agentes do Estado preferem fugir de suas responsabilidades. Aposto que, na hora de receberem os ótimos salários que lhes pagamos, os policiais rodoviários federais são mais ágeis.
ResponderExcluirConcordo com o Janis: individualmente somos muito frágeis. Contudo, não devemos nos calar. Devemos fotografar, filmar, documentar, enfim, botar a boca no trombone. Não é possível apagar incêndios com gotas d'água, mas é preciso tentar...
Nos sentimos desamparados por entidades mantidas por impostos pagos através de descontos feitos em nossas folhas de pagamento. Trabalhamos para conseguir conforto e segurança, e quando precisamos somos tratados desrespeitosamente.Mais que maus profissionais, são mal treinados e mal supervisionados, além de desumanos.É importante divulgar para que tal fato atinja grande dimensão, e sejam tomadas as devidas providências. Viajo muito a Araguari, e espero credibilidade e responsabilidade dos órgãos responsáveis pelas estradas federais. Que alguém de bom coração encontre Chica! Ana Cláudia
ResponderExcluirQuero agradecer a todos os comentários, feitos por cidadãos decentes que não se conformam com a situação por que passa nosso país. Sou Waldete, mãe de Juliana, a acidentada, que se casou em agosto e por pouco não passa o seu primeiro Natal com o marido. Para aumentar mais nosso sofrimento,TUDO o que havia no carro foi saqueado, sem que NINGUÉM nos desse algum indício de quem foi. Enquanto Lula passeia pra lá e pra cá confortavel e nababescamente em seu luxuoso avião, o pobre povão brasileiro morre nas estradas federais sob a jurisdição de seu governo. Só em Minas foram 30 mortes, que por um milagre divino, não somaram 32. Estamos traumatizados, indignados e inconformados com o estado de coisas, pois acidentes, mortes e saques se tornaram constante na região, e por isso, estão banalizados. Precisamos nos unir e tentar reverter esse triste quadro. Minas não merece o título de campeão de acidentes. Os mineiros devem exigir que as leis sejam cumpridas, que as verbas sejam empregadas e que os motoristas sejam exemplarmente punidos por seus crimes. Um abraço a todos. Se quiserem, me escrevam: cestari.jau@uol.com.br
ResponderExcluirInfelizmente eu acredito que a cadelinha tenha morrido. Caso contrário ela voltaria para o carro dos donos. Certamente era a única sem cinto e tenha sofrido mais traumas. O problema é que na hora última, nestes casos, eles ganham força e correm para um canto longe dos donos onde jazem. Já presenciei tal fato por duas vezes.
ResponderExcluiro mundo não pertence mais a deus,mais graças a deus,existem anjos ainda na terra,pra cuidar da gente,rezo pra que deus cuide da cachorrinha...
ResponderExcluirTriste, lamentável, repugnante. Não há adjetivos suficientes para qualificar o desmando e o despreparo das "autoridades" e a falta de apoio à família dos acidentados.
ResponderExcluirO relato do Sr. Daniel comove, especialmente pais que, como eu, têm filhos que semanalmente fazem de carro o trajeto Uberlândia-Araguari-Uberlândia.
Pensar que teve deputado local se locupletando durante décadas, com a surrada promessa de duplicação da BR-050, sem qualquer ação efetiva.
Como agente público temporário (secretário municipal de saúde em Araguari) senti na pele o que sofre um servidor que trabalha com foco no interesse público e no respeito às leis e aos cidadãos. Fui taxado de "ingênuo", "sem jogo de cintura" e até (pasmemos!!) "honesto demais".
Como cidadão e como pai, presto minha solidariedade às famílias dos acidentados.
E reitero que, enquanto a sociedade continuar mantendo a bunda no sofá e aturando bovinamente enriquecimentos suspeitos de agentes públicos, dinheiro sujo na cueca, na meia e sobressalentes, etc, etc, etc... os desmandos continuarão se perpetuando.
Triste sina a de um povo que entrega sua vida (literalmente) nas mãos de um sistema político incompetente, despreparado e corrupto.
Imagina quantas vezes por dia os fatos narrados acima acontecem com inúmeras famílias que, além de passarem pelos tormentos de uma rodovia federal abandonada, ainda é explorada por servidores despreparados e sem noção de humanismo.
ResponderExcluirÈ..essas pràticas das "autoridades" são velhas conhecidas de quem usa a 050...infelizmente.
ResponderExcluirLamentável.
É triste.
ResponderExcluirOlá amigos,
ResponderExcluirSou Juliana Cestari, a que sofreu esse trágico acidente na BR 050.
Meu marido e eu estamos bem fisicamente, mas as feridas emocionais não irão se cicatrizar tão rapidamente.
A volta para casa foi difícil, ainda mais pela perda de nossa cachorrinha Chica. Tenho ficado muito triste com a ausência dela.
Ainda tenho esperanças que alguém muito bondoso a encontrará e a devolverá para nós.
Não acho que ela tenha morrido, pois a vi saindo pela janela do carro assim que ele parou de capotar. Saiu em disparada com o susto enorme que passou. Inclusive algumas pessoas a viram subir para a pista e estava muito assustada correndo mato adentro novamente.
Peço a todos que se virem uma cadela parecida com ela, entrem em contato comigo. Tenho mais fotos que posso mandar por e.mail.
Por favor me ajudem!
Muito obrigada pelos depoimentos e solidariedade
juliana-cestari@uol.com.br
abraços
Juliana Cestari
Amigos. Sou a máe da Juliana, do acidente narrado na carta acima. Uma cópia dessa carta foi mandada para o jornal O Estado de São Paulo, para a seção São Paulo Reclama e neste domingo, dia 17, ela foi publicada com a seguinte resposta:
ResponderExcluirPrezados(as) Senhores(as),Em reposta à reclamação do leitor Daniel Caetano Cestari, informo-lhe que o fato relatado foi encaminhado a nossa Seção de Corregedoria Regional, para as devidas apurações. Caso seja de interesse do leitor encaminho os números de telefone da nossa corregedoria (31) 3064-5330 e 3064-5331.Atenciosamente,Insp. Aristides Amaral Júnior -Chefe Núcleo de Comunicação Social -4ª SRPRF/MG
Acreditamos que teremos uma solução para o caso.Obrigada pela participação de todos. Um abraço.
Olá, só fiquei sabendo desse ocorrido hoje, 30/05/2010. Tenho família em Araguari e família que viaja pra lá de quando em quando. Esse fato me impressionou muito e fui atrás da reportagem do Estadão e achei. E vi que a reclamação foi respondida pelo "inspetor Aristides Amaral Júnior, chefe do Núcleo de Comunicação Social do 4.ª SRPRF-MG" que disse que "o fato relatado foi encaminhado para a Seção de Corregedoria Regional, para as devidas apurações." Quando eu e minha mãe lemos o "para as devidas apurações" ela disse "acabou". E eu gostaria de saber se acabou nisso mesmo ou não. Tentei procurar no Google mas não consegui, então achei que seria mais rápido por aqui, já que foi aqui que fiquei sabendo do ocorrido. Estou torcendo para que haja ou tenha havido uma boa solução para o caso e não o esquecimento do mesmo. Agradeço a atenção e envio minha solidariedade.
ResponderExcluirOlá Flávia, sou a Juliana do acidente. Infelizmente e como já era de se esperar nada ainda aconteceu...
ResponderExcluirMas continuamos batalhando para que alguma providência REAL seja tomada.
Muitíssimo obrigada por suas palavras.
Já se passaram 6 meses do acidente e não há um único dia em que não me lembre dele. Foi uma das piores experiências da minha vida e do meu marido.
Para todas as pessoas que contamos nossa história e vêem as fotos do acidente, se emocionam por estarmos vivos.
Um grande abraço,
Juliana Cestari
É lamentável, mas fatos desta espécie costumam infelizmente ocorrer embora, pessoalmente, eu acredite que a humanidade em sua grande maioria (98 % ou 99%) seja constituída por pessoas boas e honestas, mas o bem que esta maioria de pratica é facilmente esquecido uma vez que age sem preocupação de agradecimentos de qualquer natureza, pois estes são verdadeiramente os homens de bem !!!
ResponderExcluirSou PM da reserva Remunerada de Minas Gerais. Gostaria de contar uma história, dentre milhares iguais que sei: Era uma quarta-feira, às 16:00 horas a nossa central recebeu um chamado pelo 190 avisando que a relojoaria(x) estva sendo assaltada. Em nossa viatura, fusca, prefixo 0290 saimos atrás dos bandidos, que estavm em um opala branco. Durante aquela tarde e noite inteira os bandidos trocaram de carro várias vezes, fizeram refens, foi uma noite dura de trabalho e no dia seguinte, às 10:00 horas, um bandido se rendeu, um morreu, outro foi preso quando ficou sem munição. Isso a 120 Km do local do crime. às 16:00 horas do dia seguinte ao roubo, depois de tanta luta e sacrifícios retornamos para a nossa cidade de origem e só então procurei a relojoaria para tomar as devidas anotações para lavrar o BO. (Aqui em Minas quem faz o BO é a PM),ao chegar na relojoaria, faminto, quase afônico devido ao cansaço, 24 horas de labuta para defender aos interesses de um rico, recebi um tratamento igual a esses que ora são atribuídos aos profissionais que atuaram na ocorrÊNCIA EM QUESTÃO. fui chamado de imcompetente,a mulher queria saber por qual motivo só foi atendida 24 horas depois dos fatos, queria as jóias que foram roubadas e não me deixou contar o que aconteceu. Vcs sabem quantas vidas o CB/MG salvam por ano. Passem a saber. É a INSTITUIÇÃO MAIS RESPEITDA DO Estado, portanto, não façam injustiça.
ResponderExcluirJose Vacir Côgo
Conseguiram resolver algo ? Como está o caso agora 29/01/2011 ? Euller Moraes.
ResponderExcluir