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L.A.B. contrariado


Neiton de Paiva Neves *

L.A.B. andava sumido. É próprio dele. Não dá sinal de vida durante meses. De repente, eis que surge como se tivesse se despedido ontem. É daqueles amigos que não vemos durante muito tempo e quando menos se espera ele aparece.

L.A.B. é um bom amigo e sobre ele já falei aqui neste espaço algumas vezes e vou falar hoje, claro, devidamente autorizado e surpreso, porque, mesmo mantendo sua lucidez e bom humor, desta vez estava contrariado.

Gostava muito de Michel Jackson (o mundo gostava) e achava Jackson grande artista e uma pobre pessoa, vítima da violência, a física e paterna e a do show business onde ele reinou e em consequência do qual, durante anos seguidos, entregou-se a extravagâncias de toda espécie, matando-se aos poucos.

Gostava muito de Farrah Fawcett (quem não gostava?), a loira da série “As Panteras” (foto), boa atriz (indicada várias vezes para os prêmios Golden Globe e Emmy), linda e sensual, que se revelou também mulher inteligente e sensível desde quando começou a ser carcomida pelo câncer, lutando contra a doença com força e coragem, até ser por ela derrotada.

Gostava muito de Goffredo da Silva Telles (de quem só não gostava quem renega a democracia), Professor Emérito da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, grande jurista, ser humano sem jaça, defensor da liberdade, impávido na defesa de suas posições. Como, por exemplo, no episódio ocorrido em 1977, em plena ditadura, quando leu a “Carta aos Brasileiros”, nas arcadas mais tradicionais do ensino jurídico do país, conclamando o retorno do Estado de Direito. E em 2007, quando, do alto de sua autoridade moral, alertou os advogados dizendo: “resistam à tentação da corrupção”. E, além disso, foi casado com Lygia Fagundes Telles, bela mulher e consagrada escritora.

L.A.B. estava lamentando muito a morte dos três, porque, pelas características de cada um e pelas marcas que deixaram, discordando da conhecida afirmação de que ninguém é insubstituível, nenhum deles poderá ser substituído. Pensa ele que podem até surgir melhores, piores com certeza virão, mas nunca iguais.

Longe de mim discordar do L.A.B., mas não posso deixar de fazer algumas observações a respeito.

Michael Jackson, não buscou e nem conseguiu uma vida longa e partiu com 50 anos, muito jovem, quando tentava reiniciar sua carreira de mega-astro; Farrah Fawcett, brigou, resistiu, quis muito viver, mas foi-se aos 62 anos, derrotada pela doença, e Goffredo da Silva Telles, viveu intensamente, transformou-se em unanimidade no mundo jurídico e político, e encerrou seu expediente entre os vivos com 94 anos, lúcido e ativo.

A grande mídia e os tablóides do mundo inteiro exploraram a vida de Michael Jackson quando ele foi processado duas vezes por abuso sexual de menores, sem sofrer nenhuma condenação ao que parece através de acordos milionários, e agora explora impiedosamente a sua morte.
A grande mídia e os tablóides do mundo inteiro exploraram a imagem da belíssima Farrah Fawcett quando fazia sucesso. Sua morte, no mesmo dia em que o astro pop morreu, como não era tão conhecida e famosa quanto, foi praticamente ignorada pelo noticiário.

Goffredo da Silva Telles, sempre respeitado por toda a imprensa nacional, principalmente pela escrita, dela recebeu o tributo e a homenagem que merecia. E a grande homenagem veio da Seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil que batizou o prédio de sua sede com o nome do professor.

Segundo consta, o rei do pop excluiu o pai de seu testamento, deixando sua fortuna para a mãe e os filhos; a pantera deixou parte de seus bens para entidades que cuidam de mulheres vítimas de violência doméstica, e o pouco que o mestre tinha ficou para seus herdeiros.

L.A.B. tem razão, cada um deles, por ter sido o que foi, deixam saudades. E exemplos a serem lidos nas suas biografias.

* Advogado, jornalista, ex-prefeito de Araguair, diretor da Faculdade de Direito da Unipac/Araguari

3 comentários:

  1. Quero dizer a LAB que o LABor continua e que a LAButa não pertence a uns poucos. Cada um vem a este LABirinto e indica o LÁBaro que ostenta estrelado como se um LABrador fosse.

    Mas quem será LAB? No mínimo um grande inspirador do afortunado Neiton. Vê se não some LAB e não deixe de instigar nunca o Neiton.

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  2. Prefeito, o L.A.B. o senhor já havia definido bem em seu artigo anterior sobre ele, da seguinte forma: “O que lhe dava alegria causa-lhe tristeza; o que lhe causava tristeza o faz alegre. Sua sensibilidade fica exacerbada e seus sentimentos se misturam, embaralham, gerando enorme confusão na sua cabeça e no seu coração.” Isso lhe ocorria em épocas de final de ano. Talvez o L.A.B. continua com perguntas sem respostas, ou sem os conhecimentos que lhe dariam maior consolo sobre o passado e o futuro. É claro que existe um elo entre a vida e a morte, mas é um elo perdido para a humanidade, e o mistério permeia o subconsciente de todos nós em momentos de perda de nossos entes queridos. Esses artistas deixaram um acervo que o mundo não esquecerá. No caso do Michel Jackson, deixou a lembrança de sua arte e criatividade, mas também deixou a lição do mau uso do dinheiro no próprio corpo. Já pensou se houvesse sido condenado (injustamente) por pedofilia e não tivesse feitos os acordos, evidentemente para a mentira não prosperar, talvez preso e impedido de beber os barbitúricos poderia estar curado e fazendo shows. No seu artigo anterior, o senhor lembrou uma música e transcrevo para quem nos ler ficar catarolando: “E, a verdade está resumida na canção que Doris Day canta no filme “O homem que sabia demais”, grosseiramente traduzida assim: “quando eu era jovem / perguntei a minha mãe / o que serei eu / ... veja o que ela me respondeu / o que será, será / o futuro não cabe a nós saber / o que será, será / o que será, será”. E um novo ano veio, a vida continuou e o LAB permanece construindo sua obra para os seus descendentes e amigos também dizerem que o que ele fez somente ele fez bem, ou não ...

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  3. UBERLÂNDIA-MG, 3 de setembro de 2009.

    Ilustre L.A.B.,

    Lembro-me de que há exatos três anos, sua Pessoa foi apresentada como "... um profissional muito bem sucedido, estudou filosofia e sociologia e afirma que, antes, era um completo ignorante, e depois, apenas grande ignorante...".

    Ora, filosofo eu:

    - Se com estudos e sendo bem sucedido ainda se vê como ignorante, o que realmente está acontecendo?! Baixa auto-estima?!

    Imagino então, a condição de grande parcela da População, de nossa Microrregião mesmo, ignorantes de direito e de fato, a frustrarem-se com acontecimentos diários, desde a crueldade da Natureza Humana às bizarrices de feitos, conlúios & conchavos à luz do dia, e impunidades de toda Ordem...

    Em plena DEMOCRACIA e possuindo total direito ao exercício da Liberdade de Expressão, não há como coadunar com a indiferença, o medo acendrado e atávico ( covardia de pai, mãe, e avós até a quarta geração... ou mais ), a falta de atitude, manter-se e conformar-se sem absolutamente nenhuma manifestação, esforço ou desejo de se comprometer a mudar tudo que entendemos como ilícito, irregular ou apenas inadequado.

    Não seria a hora de arregaçar as mangas e armado de bons argumentos, atitudes e sem jamais perder a razão, partir rumo a alvos diversos, no propósito único de pelo menos tentar fazer acontecer ?!

    Caso contrário:

    "Perante um auditório de tolos, os velhacos tornam-se fecundos, e os doutos silenciosos.". (Marquês de Maricá).

    Revogam-se todas as (in)disposições em contrário.

    Que venham mais três anos. Com prosperidades.

    Atenciosamente,
    Janis Peters Grants.

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