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Museu de Artes Sacras de Uberlândia, bom para uma cidade e ruim para outras...

* Alexandre Campos

A cidade de Uberlândia vai possuir um museu de artes sacras. A idéia inovadora de se criar um local que reúna as belas obras de arte produzidas durante a evolução histórica da igreja católica na região, pode ter um viés negativo, diante da forma de sua implantação. O acervo do museu vai ser composto de peças retiradas de cidades da região, fato que vai contra pressupostos básicos da preservação cultural. Um bem cultural tem laços com o espaço que o envolve, com as tradições locais e só podem ter sua leitura correta dentro de sua origem. Museificar uma obra só se justifica quando ela se encontra em risco iminente.

Cada cidade no entorno de Uberlândia possui um acervo de peças sacras particular à evolução do catolicismo e concomitantemente à sua própria evolução histórica, uma vez que a maioria das cidades do interior mineiro tem sua origem unida à origem da ocupação religiosa. Assim, ao se retirar as peças de seu espaço de origem, estarão ceifando a peça de sua leitura original, complexa, que remete à história de toda uma cidade e sua população. Nenhuma interpretação dada por um museu conseguirá representar integralmente o valor cultural de uma peça retirada de seu local original.

Uma simples imagem possui infinitos laços com as tradições de uma cidade. Varias gerações viveram em adoração, fazendo e pagando promessas, orando, vigiando e cuidando da mesma. Em muitos casos, o próprio templo foi construído para abrigar a imagem, diante de seu valor cultural para as pessoas. A formação espacial de um local pode ser explicada pela existência do bem cultural. A própria paisagem local foi sendo transformada pelas tradições em torno do bem cultural, fazendo esta paisagem só poder ser profundamente compreendida se relacionada ao bem.

Museus históricos devem montar seus acervos com peças locais, particulares à história espacial da qual está inserido. Bens culturais só devem ser retirados de seu contexto em caso de risco iminente que não possam ser sanados, sendo precedidos de um profundo inventario sobre a abrangência cultural do mesmo.

Assim, o Museu de Artes Sacras de Uberlândia deveria utilizar peças particulares a Uberlândia, fazendo referencias fotográficas às demais peças espalhadas pelas cidades de seu entorno, realizando, talvez, um circuito turístico religioso, onde as pessoas poderiam conhecer as peças verdadeiras em seus locais de origem. Este processo estimularia a manutenção e segurança dos bens culturais, evidenciando seu valor cultural, além da criação de fontes de rendas para as populações locais, possibilitando a recuperação da hegemonia católica na região.

Lidar com a gestão cultural requer estudos sobre as ações a serem tomadas, seus impactos e benefícios. Uma medida simples pode causar resultados inesperados e diante de sua detecção, mudanças conseguem multiplicar os resultados positivos das ações pretendidas.

* Alexandre Campos é estudante de Geografia da UFU e membro da equipe da Divisão de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Araguari.

Fonte: Coluna "Ponto de Vista", publicada no jornal Correio de Uberlandia, em 06/06/2009.

5 comentários:

  1. Veja como é ruim quando se pensa pequeno. Não é necessário dilapidar o patrimônio histórico dos vizinhos para se formar um museu, seja sacro ou de qualquer outra vertente artística.
    Bastaria disponibilizar o material que é de Uberlândia, junto com posters ou vídeos, painéis ou reproduções das belezas que estão nas cidades vizinhas. A visão do Alexandre é compartilhada por mim.

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  2. O lugar é o dono da sua produção Cultural.

    As artes sacras, objeto deste comentário, possuem significados próprios ao seu lugar, ao seu "Genius locci", ou seja, a continuidade no tempo do espírito do lugar. A transmissão destas características sócio-culturais terá valor pelos vínculos das futuras gerações com os hábitos e características que reforçam nossa origem, nossas raízes e tudo aquilo que fomos e somos.

    O patrimônio cultural harmonizado com as necessidades da sociedade se torna um aliado para a manutenção da qualidade de vida pelo estimulo ao respeito à identidade de um povo.

    A retirada do vínculo da comunidade com o seu patrimônio significa o rompimento com o seu valor cultural e a desintegração da população com seu legado.

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  3. Perfeito; também assino embaixo.

    A questão preocupante é que, via de regra, os responsáveis pelas políticas públicas, dentre elas a preservação do patrimônio histórico e cultural, se ocupam de fazer politicagem partidário-eleitoral o tempo todo. Assim, descumprem o mister para o qual foram eleitos, que é cuidar do interesse coletivo.

    E a sociedade, de forma geral, na medida em que se omite, cuidando cada um do próprio umbigo, avaliza o descaso geral.

    Bem dizia o "jingle" do TSE, ano passado: "São quatro anos... é muito tempo..."

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  4. Edilvo, obrigado pelo tapa de pelica. Eu sou um omisso no que se refere à cultura, principalmente em visitas a museus. Não lembro-me de ter visitado nenhum, então, deixem as obras nas igrejas porque nessas eu já entrei.

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  5. Pergunto a vocês se existe algum padre na cidade liberando peças para esse museu. Duvido. Mas que as igrejas no país todo estão com problemas de segurança estão. Algumas nem são abertas para impedir o sumiço de peças artísticas. E por isso todos os museus do mundo expoem obras da vizinhança. No Louvre todos podem ver múmias retiradas do Egito. A Líbia acaba de fazer acordo com Itália para fazer voltar peças históricas de lá retiradas.
    Se Araguari quer preservar suas obras colaborem com o padre na segurança, na conservação das peças. Mas se Uberlândia vai expor algumas peças de igrejas de Araguari creio que elas já sairam da cidade (ou vão saír? quais são?). Ou fazemos o nosso museu ou a cidade de maior objetividade nas ações e atitudes fará um, aproveitando a omissão de todas as cidades vizinhas. As idéias boas são veículas da mesma forma em todo lugar, ou executamos as nossas ou vão se apropriar delas, e pode não ser Uberlândia, pode ser Belo Horizonte...
    Também compartilho das idéias acima e sou otimista com capacidade das pessoas da cidade, mas proponho ponderação e ação enquanto é tempo.
    Natal

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