Ilha do Bananal
Eu fui cair na Ilha do Bananal...
Aristeu Nogueira Soares
Em 1982, precisamente em outubro, eu sobrevoava a Ilha do Bananal com a FAB a bordo do avião presidencial de Juscelino, o AVRO. Comigo iam mais trinta militares do Exército. Nosso último pouso havia sido em BrasÃlia e o próximo estava previsto para o Aeroporto da Serra do Cachimbo. O avião tinha pouca autonomia e não havia como seguir do Rio de Janeiro até Manaus sem estas duas escalas.
Sempre tive uma relação temida com as alturas. Mesmo, quando menino, se eu arriscasse subir numa árvore até um galho mais alto, descer tornava-se um problemão. Vertigens e bambeza nas pernas ainda habitam meu ser. Tenho um irmão com este mesmo mal, mas tornou-se um bombeiro militar e, tanto as profundezas quanto as alturas, tornaram-se suas aliadas.
Minha profissão, vez por outra, me obrigava a ir à s alturas e, diante subordinados, eu representava o destemido, mas, num olhar mais apurado, ver-se-ia a ausência de sangue no róseo da minha face. A gente construÃa torres metálicas de até trinta e seis metros para fazer medições topográficas.
Pois bem, voltando ao memorável vôo, numa pouca distância da Ilha do Bananal, eu que estava na janela ao lado da asa direita, motivo de muitas chacotas por não vislumbrar a paisagem, notei um filete lÃquido escorrendo da turbina. Sem muito alarde conversei o fato com um membro da tripulação e o mesmo imediatamente dirigiu-se ao piloto. Foi dado o sinal do pouso de emergência para o primeiro campo de aviação. Naquela selva pensei que não existiria, mas havia a bendita Ilha do Bananal com um aeroporto de terra e uma guarnição do Sexto Comar, ou seja, da Aeronáutica.
Fiquei com torcicolo de tanto olhar aquele filete. Acalmaram-nos dizendo que se tratava de óleo e não de combustÃvel. Eu queria chão... O mais rápido possÃvel, mas bem devagar.
Ficamos na Ilha por mais de quatro horas, enquanto sanavam o defeito.
A Ilha do Bananal localiza-se na área secante entre duas retas, uma partindo de Aracaju até Rio Branco e outra de Belém a Londrina. Exatamente no cruzamento destas linhas, no Estado do Tocantins, encontra-se a tão formosa e famosa ilha.
Ela é habitada por Ãndios Karajás e Javaés. Os militares locais nos deram informações sobre a covardia dos Ãndios. Disseram-nos que são bonzinhos quando sós, mas, em grupo, tornam-se valentes e intimidadores.
Achei muito estranho vê-los com shorts Adidas e calçar Havaianas, mas o aculturamento permite o desvio da tradição. Praticavam futebol quase que o dia inteiro.
Eu acho que eles ficam muito nervosos, pois também estão sempre a pescar, receita para estressados. Tenho uma foto em que a gente segura os peixes, mas apenas pose, pois os autores da façanha foram os Ãndios.
Depois da parada na Ilha não necessitamos mais descer na Serra do Cachimbo e, em Manaus, outras aventuras me aguardavam como ver a junção das águas do Rio Solimões com o Negro a bordo de um helicóptero que rodopiava tentando tirar a nossa orientação do terreno, como um exercÃcio, pois quatro amigos nossos, além do piloto, haviam caÃdo com um aparelho na selva inundada. Vagaram por quatro dias, com a água pelos joelhos, até que foram resgatados.
Uma de nossas tarefas, medição de área indÃgena, só se consegue executá-las com o apoio de helicópteros, pois ele consegue ficar na altura das copas das árvores, cerca de cinqüenta metros, para que gente desça pela corda com motosserra. Somos jogados e a aeronave volta à base. Depois de aberta a clareira ela retorna e pousa trazendo o resto dos equipamentos para a execução da missão.
Terminado o estágio, cerca de uma semana, voltamos ao Rio num vôo sem escalas, pois retornamos a bordo do gigante cargueiro Búfalo, também da FAB. Ali ninguém pôde ver paisagens, pois os assentos, em cordas de nylon desconfortáveis, ficavam de costas para as janelinhas que estavam bem ao alto.
Uma coisa que me impressionou foi a quantidade de motocicletas, com mais de setecentas cilindradas, a bordo. Falaram que era para a PolÃcia do Exército no Rio, mas uma mega aeronave, livre de alfândega para voar, pode seduzir homens e almas...
Na foto eu sou o primeiro da esquerda do observador. Eu jurava que nunca havia usado óculos de sol, mas esta imagem me denunciou..
Aristeu Nogueira Soares
Em 1982, precisamente em outubro, eu sobrevoava a Ilha do Bananal com a FAB a bordo do avião presidencial de Juscelino, o AVRO. Comigo iam mais trinta militares do Exército. Nosso último pouso havia sido em BrasÃlia e o próximo estava previsto para o Aeroporto da Serra do Cachimbo. O avião tinha pouca autonomia e não havia como seguir do Rio de Janeiro até Manaus sem estas duas escalas.
Sempre tive uma relação temida com as alturas. Mesmo, quando menino, se eu arriscasse subir numa árvore até um galho mais alto, descer tornava-se um problemão. Vertigens e bambeza nas pernas ainda habitam meu ser. Tenho um irmão com este mesmo mal, mas tornou-se um bombeiro militar e, tanto as profundezas quanto as alturas, tornaram-se suas aliadas.
Minha profissão, vez por outra, me obrigava a ir à s alturas e, diante subordinados, eu representava o destemido, mas, num olhar mais apurado, ver-se-ia a ausência de sangue no róseo da minha face. A gente construÃa torres metálicas de até trinta e seis metros para fazer medições topográficas.
Pois bem, voltando ao memorável vôo, numa pouca distância da Ilha do Bananal, eu que estava na janela ao lado da asa direita, motivo de muitas chacotas por não vislumbrar a paisagem, notei um filete lÃquido escorrendo da turbina. Sem muito alarde conversei o fato com um membro da tripulação e o mesmo imediatamente dirigiu-se ao piloto. Foi dado o sinal do pouso de emergência para o primeiro campo de aviação. Naquela selva pensei que não existiria, mas havia a bendita Ilha do Bananal com um aeroporto de terra e uma guarnição do Sexto Comar, ou seja, da Aeronáutica.
Fiquei com torcicolo de tanto olhar aquele filete. Acalmaram-nos dizendo que se tratava de óleo e não de combustÃvel. Eu queria chão... O mais rápido possÃvel, mas bem devagar.
Ficamos na Ilha por mais de quatro horas, enquanto sanavam o defeito.
A Ilha do Bananal localiza-se na área secante entre duas retas, uma partindo de Aracaju até Rio Branco e outra de Belém a Londrina. Exatamente no cruzamento destas linhas, no Estado do Tocantins, encontra-se a tão formosa e famosa ilha.
Ela é habitada por Ãndios Karajás e Javaés. Os militares locais nos deram informações sobre a covardia dos Ãndios. Disseram-nos que são bonzinhos quando sós, mas, em grupo, tornam-se valentes e intimidadores.
Achei muito estranho vê-los com shorts Adidas e calçar Havaianas, mas o aculturamento permite o desvio da tradição. Praticavam futebol quase que o dia inteiro.
Eu acho que eles ficam muito nervosos, pois também estão sempre a pescar, receita para estressados. Tenho uma foto em que a gente segura os peixes, mas apenas pose, pois os autores da façanha foram os Ãndios.
Depois da parada na Ilha não necessitamos mais descer na Serra do Cachimbo e, em Manaus, outras aventuras me aguardavam como ver a junção das águas do Rio Solimões com o Negro a bordo de um helicóptero que rodopiava tentando tirar a nossa orientação do terreno, como um exercÃcio, pois quatro amigos nossos, além do piloto, haviam caÃdo com um aparelho na selva inundada. Vagaram por quatro dias, com a água pelos joelhos, até que foram resgatados.
Uma de nossas tarefas, medição de área indÃgena, só se consegue executá-las com o apoio de helicópteros, pois ele consegue ficar na altura das copas das árvores, cerca de cinqüenta metros, para que gente desça pela corda com motosserra. Somos jogados e a aeronave volta à base. Depois de aberta a clareira ela retorna e pousa trazendo o resto dos equipamentos para a execução da missão.
Terminado o estágio, cerca de uma semana, voltamos ao Rio num vôo sem escalas, pois retornamos a bordo do gigante cargueiro Búfalo, também da FAB. Ali ninguém pôde ver paisagens, pois os assentos, em cordas de nylon desconfortáveis, ficavam de costas para as janelinhas que estavam bem ao alto.
Uma coisa que me impressionou foi a quantidade de motocicletas, com mais de setecentas cilindradas, a bordo. Falaram que era para a PolÃcia do Exército no Rio, mas uma mega aeronave, livre de alfândega para voar, pode seduzir homens e almas...
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