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Poesia, lenda e realidade


Neiton de Paiva Neves

Aos pacientes leitores que me distinguem, pessoalmente ou por e-mails, com seus comentários sobre esta página, agradeço comovido a gentileza e as ótimas sugestões, muitas das quais quase sempre sou incapaz de aproveitar.

A propósito do artigo passado abordando textos falsamente atribuídos a autores famosos, um leitor reclamou da ausência de muitos, principalmente dos versos tidos como do poeta russo Vladimir V. Maiakovski, ou do alemão Bertold Brecht, largamente citados e recitados como um repto aos abusos e à violência, venham de onde vierem.

Tem razão o leitor, e considerando a beleza categórica do poema em questão e o seu conteúdo duro, realista e alertador, não há outra forma de corrigir minha falha ao tê-lo deixado fora, do que dele reproduzir agora pelo menos um trecho.

O poema em questão, mundialmente conhecido, é do poeta, contista e romancista brasileiro Eduardo Alves da Costa, nascido em Niterói, autor de uma obra respeitada e admirada, e seu título é “No caminho com Maiakóvisk”:

“Tu sabes,/conheces melhor do que eu/a velha história./ Na primeira noite, eles se aproximam / e roubam uma flor / do nosso jardim./ E não fazemos nada. / Na segunda noite,/já não se escondem:/ pisam as flores, /matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho na nossa casa/ rouba-nos a luz, e,/ conhecendo o nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada./ Nos dias que correm / a ninguém é dado /repousar a cabeça / alheia ao terror”.

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Madrugada dessas, num dos canais de televisão disponíveis, revi um filme francês, musical, baseado num conto de fadas escrito por Charles Perraut no século num Século XVII, que o diretor Jacques Demy adaptou e filmou em de 1970. A personagem, assim como o conto e o filme, chama-se “Pele de Asno”, e é interpretada por uma das mulheres mais belas que já vi, e grande atriz, Catherine Deneuve.

Sendo uma lenda, pensa-se tratar de filme para crianças. É, mas não é. A começar pela história do rei que fica viúvo e diz que só se casará de novo caso encontre uma mulher mais bonita do que a rainha falecida. E a única mulher do seu reino, mais bonita do que a rainha, é a filha de ambos, a princesa (Deneuve, claro). Esta, para escapar do pai e do incesto, foge do reino, disfarçada sob uma pele de asno etc. etc.

Mesmo sem qualificação, a não ser de mero cinéfilo, para julgar o filme, não posso dizer que seja uma maravilha. Mas é muito agradável, com bonitos cenários, música, cores e técnica que funcionam, embora despido dos efeitos especiais hoje comuns. E tem Catherine Deneuve, a inesquecível e sempre “Bela da Tarde”. Além de remeter ao livro de Bruno Bettelheim, “Psicanálise dos Contos de Fada”.

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Depois da poesia e da lenda e caindo na real, o próximo dia primeiro de janeiro de 2009 marcará o decurso de duas décadas desde que deixei o cargo de prefeito de Araguari, e o primeiro dia da gestão do prefeito eleito em outubro passado. Não me foram solicitados e não tenho mesmo conselhos úteis para o novo governante local, escolhido para trabalhar nos próximos quatro anos em favor do bem comum.

Mas, como ex-prefeito e cidadão, formulo ao futuro prefeito meus votos, públicos e sinceros, de muito êxito e sucesso, traduzidos em realizações e conquistas em benefício do progresso e do desenvolvimento de nossa cidade e de nossa gente. Afinal, 41,03% dos eleitores nele votaram, mas eu estou entre os 100% que querem uma Araguari sempre e cada vez melhor.

2 comentários:

  1. Sobre “No caminho com Maiakóvski”, em parte a confusão de 30 anos foi resolvida graças à novela das oito. Escrito nos anos 60 pelo poeta fluminense Eduardo Alves da Costa, 67, o poema "No Caminho, com Maiakóvski" era (quase) sempre creditado ao russo Vladimir Maiakóvski (1893-1930).
    Em "Mulheres Apaixonadas", Helena (Christiane Torloni) leu um trecho do poema, dando o crédito correto. Foi o suficiente para reavivar a polêmica - resolvida dois capítulos depois, em que a autoria de Costa foi reafirmada.
    A Folha de São Paulo, edição de 20.9.2003, perguntou a ele como surgiu o engano e Costa respondeu que "- O poema saiu em jornais universitários, nos anos 70. O psicanalista Roberto Freire incluiu em um livro dele e deu crédito ao russo e me colocou como tradutor. Mas já encomendei da França a obra completa do Maiakóvski. Quando alguém me questionar, entrego os cinco volumes e mando achar o poema lá."
    Os textos foram muito usados no movimento das "diretas já" e recentemente o Inspetor Protógenes Queiroz reproduziu parte do texto em seu site, talvez comparando os seus momentos atuais com o sofrimento das vítimas da ditadura descrito no "No caminho com Maiakóvski" http://blogdoprotogenes.com.br/?p=244.
    Recomendo o site do Sr. Eduardo Alves da Costa: http://recantodasletras.uol.com.br/audios/poesias/11161 e http://www.secrel.com.br/jpoesia/e2alves.html
    Abraço com gratidão ao nosso benfeitor ex-prefeito.
    Natal Fernando

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  2. Erudição e fidalguia, dois atributos de difíceis de encontrar na mesma pessoa, são traços marcantes em Neiton de Paiva Neves.

    Do alto da minha modéstia e insignificância, ante tão distinto homem público e colunista, me incluo entre os 100% que torcem e trabalharão por uma Araguari cada vez melhor.

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