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Oração aos velhos

Por Inocêncio Nóbrega (*) - Cognominado de Oração aos Moços, discurso escrito por Rui Barbosa, na condição de paraninfo dos formandos da turma de 1920, da Faculdade de Direito de S. Paulo, porém lido pelo Prof. Reinaldo Porchat, pois o autor encontrava-se adoentado e não pôde comparecer, traz, no seu longo texto, enorme significação aos momentos de crise moral em que vivemos no Brasil. O jurisconsulto baiano se esmera na formação linguística e no conteúdo, numa autoconsagração ao Direito, pelos 50 Anos de suas atividades nessa área. Transmitia suas experiências, sobretudo de pensador político, a uma plêiade de jovens que buscava na advocacia ou na magistratura os anseios de servir ao país. 





Dele se extraem ensinamentos úteis que se contemporizam com os governantes do dia e da praça: “Quando verbera o escândalo, a brutalidade ou o orgulho, não é a soberba que explode, mas a indignação que ilumina”. O orador, sobre a palavra, diz que ela “se eletriza, brame, lampeja, atroa, fulmina; rasgam o ar, incendeiam o horizonte, cruzam os raios do espaço. É hora de responsabilidade, da conta, do castigo, quando reboam como o canhão...”. Sem deixar de enaltecer a Lei lembra que o Brasil é a nação mais cobiçada das presas: “e oferecida, como está, incauta, ingênua, inerme, a todas as ambições”.  Deixa, no final, essa exortação: “Não busquemos o caminho da volta à situação colonial. Guardemo-nos das proteções internacionais”.

Não obstante a riqueza vocabular, onde a ênfase da peroração, sem  contar com a tecnologia de que ora dispomos, o grande tribuno não alcançou, obviamente, a merecida circulação como o pronunciamento da estudante Ana Júlia Ribeiro, proferido nessa semana, no Plenário da Assembleia Legislativa do Paraná. Precisou a secundarista de, apenas, 10,40 min. para, diante de parlamentares e pessoas de diferentes idades,  resgatar a alma nacional contra um governo que insiste comprometer nosso futuro, sob uma Emenda Constitucional, a qual estanca, por duas décadas, todo e qualquer investimento na educação e saúde. Rebatendo tal criminalização, inicia a nossa jovem, de 16 anos: “Você pode esperar só um minutinho? Preciso resolver uma coisa!”. Com sua simplicidade, firme, em momento algum embargando a voz, como se vê no vídeo, indaga: “De quem é a escola? A quem a escola pertence?” A resposta, segundo ela, todos nós sabemos. Expõe as razões dos “Movimentos Ocupa Escola”, espalhados pelo Brasil afora, que só em território paranaense atingiu a 850 escolas públicas, além de 7 universidades, e que aos poucos estão sendo reconquistadas, por miopia histórica da Justiça.  Seus argumentos foram implacáveis, a ponto de irritarem o presidente da Casa, deputado Ademar Traiano, do PSDB, que chefiou essa sessão, ameaçando encerrá-la quando ela generalizou a causa da morte do estudante Lucas Eduardo, há poucos dias, em um educandário de Curitiba, à obra de ação política. Cúmplice do desmonte do país, o “coxinha” não gostou da expressão de Ana Júlia, logo procurando cassar sua fala, não fora a interferência dos demais colegas presentes.

Ainda é cedo para considerá-la uma heroína. Precisa, antes de tudo, conhecer as circunstâncias da morte do universitário Demócrito de Souza Filho, tombado pela bala assassina de um policial do Recife, quando em comício numa das ruas da capital, em março de 1945. Se o magistral Rui  Barbosa encarou a juventude estudiosa naqueles sagrados instantes, uma  menina, de franzino corpo, deita, virilmente, seu verbo diante de uma  plateia atônita, alguém mais vetusto se sentindo ofendido. Façamo-lo nos estertores de sua vida, cujas vibrações sonoras a responderem com dificuldades, sem gesticulações de autoritarismo, entretanto pudendo vê-la, adulta e pujante, dentre as grandes lideranças nacionais, ainda esbanjando idealismo na defesa dos direitos do povo e soberania da Nação.

(*) Inocêncio Nóbrega, jornalista. 
      inocnf@gmail.com 

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