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Vaia olímpica. Por Inocêncio Nóbrega


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Inocêncio Nóbrega
Jornalista
inocnf@gmail.com

Vaiar não é crime. Trata-se de uma oportunidade pouco frequente, de que dispõe uma sociedade democrática, a fim de manifestar seu inconformismo ante uma situação anômola presente, de caráter social, econômica ou política. Não raro o foco principal são as autoridades, sempre em escala maior. Sem dúvida, esse tipo de apupo corresponde a uma verdadeira mensuração de como anda a carruagem de estado e de governo. 

O hábito estoico da Velha República, pelo menos esconde possíveis desmantelos funcionais. Relembremos, contudo, alguns casos dos quais  posteriormente primeiros mandatários experimentaram tais vexames, mais amargos dependendo do grau de desvio de conduta em relação à coisa pública, a maioria se recompondo perante a história.  Comecemos por Getúlio Vargas, na década de 1940, quando inaugurava o Estádio de Pacaembu, São Paulo.  Acusado da prática de atos discricionários mais tarde reaproxima-se do povo, que o cognomina de “Pai dos Pobres”. Já no Maracanã, o presidente Juscelino sofreu estrepitosas vaias de torcedores, durante os preparativos da seleção canarinha à Copa da Suécia. Sereno e otimista, está consagrado pela sua coragem e arrojo, no cumprimento de sua meta, “Brasil, 50 Anos em cinco”.  FHC, entre meia dúzia de aplausos é enormemente vaiado no desfile de 7 de Setembro de 1999, em Brasília. Premiou a Nação com um legado negativo de trabalho. Lula e Dilma Rousseff, também não escaparam dessa forma de protesto. Ambos continuam na preferência da população brasileira mais carente, pelo conjunto de providências a seu favor que realizaram. Interessante, quase todos esses episódios estiveram ligados a eventos esportivos, impressos pelas presenças, maciças, da classe média, nunca fugindo do caráter doméstico de influência.

Na abertura das Olimpíadas, no Rio de Janeiro, persistiram tais princípios, recaindo, seletivamente, em Michel Temer.  Não concordo com a tese do apresentador Boechat, da TV Bandeirantes, pretendendo generalizar as vaias aos maus políticos.  Uma manobra para esconder o ator do triste cenário. Ao contrário, tiveram endereço certo, a um homem que logo cedo começa colher seus próprios frutos, pela determinação de assumir um poder, ainda pela via do golpe parlamentar. Curioso que distante do início de cada novo governo historicamente ocorre um período de maturação, instante em que o país começa a se impacientar, ao aperceber-se dos descaminhos oficiais.  Sem seguir essa tendência, a produção dos efeitos que criou não tardou a ser sentida, acumula-se num crescendo a olhos vistos, vez que ele próprio e seu ministério estão envoltos em escândalos de corrução, portanto incompatíveis com a expectativa nacional, não esperando pelo incremento da moralidade instalar-se, assim fazendo jungir as descrenças das facções populares, outrora antagônicas. Não vejo, pois, como Temer demover-se desse transtorno, cumprindo um marco de dignidade na sua passagem pelo Palácio do Planalto.  O que ficou mesmo foi a vaia olímpica, assistida por cerca de 900 milhões de pessoas, no mundo inteiro conectadas naquele momento. Fingia-se preparado para receber tamanhas vozes de repúdio, deixando a arena carioca ridicularizado e expondo o Brasil a essa situação de constrangimento.

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