Livro inédito editado com apoio da Fapemig faz recorte histórico da medicina no Brasil
“Lágrimas de Sangue”, do pesquisador e historiador mineiro Alisson Eugênio, relata as condições de saúde dos escravos no período colonial até a abolição
O texto consta do Erário Mineral (1735), um tratado de medicina prática, escrito pelo cirurgião Luís Gomes Ferreira, que atuou em Minas Gerais no início do Século XVIII. O relato do médico sobre a situação dos negros no Brasil Colônia fez parte do trabalho de pesquisa do historiador mineiro Alisson Eugênio, autor do livro “Lágrimas de Sangue”, que acaba de ser publicado.
O livro, com lançamento oficial previsto para o início de junho, tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). A obra é um estudo inédito sobre a saúde da população escrava negra no Brasil desde o período colonial até a abolição.
A pesquisa foi baseada em documentos encontrados na Biblioteca Nacional, Real Gabinete Português de Leitura e Academia Nacional de Medicina (Rio de Janeiro). Também estão na lista os acervos do Arquivo Público Mineiro, Casa do Pilar/Anexo do Museu de Ouro Preto e Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (Minas Gerais).
“Lágrimas de Sangue” revela, nas 276 páginas, como as condições de saúde dos escravos foram compreendidas por médicos, jesuítas, políticos, artistas, intelectuais, fazendeiros, administradores e outros observadores da época.
“Até então não havia um livro específico sobre o assunto. É um passo importante para a historiografia nacional, revelando as condições de saúde dos trabalhadores submetidos à escravidão e as origens da medicina do trabalho no Brasil”, afirma o pesquisador e professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) Alisson Eugênio.
Segundo o presidente da Fapemig, professor Evaldo Vilela, a fundação financia projetos de pesquisas que resultam em novos conhecimentos, incluindo as áreas de humanidades, ciências sociais e ciências sociais aplicadas.
“A divulgação desse livro segue a linha de projetos que recebem apoio da Fapemig porque é resultado de vasta pesquisa sobre a vida dos escravos no Brasil e , por isso, é uma fonte de conhecimento para a sociedade”, diz Vilela.
Dividido em sete capítulos, “Lágrimas de Sangue” mostra os males mais comuns entre os escravos. Os que trabalhavam nas minas de ouro e diamante eram mais acometidos pelas doenças pulmonares por causa do clima, da deficiência de agasalho e carência de vitaminas preventivas, além do excesso de horas trabalhadas.
Também são citadas as fraturas e feridas provocadas no dia a dia do trabalho, principalmente na mineração. A atividade nas minas do Século XVIII ainda provocava uma doença conhecida popularmente na época como camba ou cangalha. Era uma distrofia óssea que dificultava os movimentos dos pés, pernas, braços e mãos.
Outras doenças que afligiam os escravos eram as parasitárias (verminose), a anemia, os problemas gástricos e hepáticos, malária, o alcoolismo e as doenças sexualmente transmissíveis. As enfermidades do aparelho visual (oftalmia, catarata, conjuntivite), sempre de caráter “grave e prognóstico sombrio”, provocavam cegueira entre os negros da cidade e do meio rural.
A taxa de mortalidade infantil no meio da população cativa também é abordada no livro. O número ficava em torno de 236 mortes para cada mil crianças de 0 a 10 anos. As doenças que mais atingiam as crianças eram tétano, pneumonia, coqueluche, bronquite, sarampo e varíola.
Alguns costumes também ajudavam a elevar ainda mais esse índice. Um deles era o aluguel de escravas para amamentar as crianças de famílias ricas. Enquanto isso, seus bebês, quando não eram colocados nas portas de instituições de caridade, acabavam morrendo por falta do leite materno.
Outra situação que contribuiu para a morte de muitas crianças escravas foi manter as grávidas em serviço pesado até o parto. Narrativas médicas da época mostram que acontecia de o filho nascer, no meio do trabalho, em condições que dificilmente poderia sobreviver.
O último capítulo de “Lágrimas de Sangue” trata exclusivamente da mão-de-obra escrava na Mina de Morro Velho. Um estudo demográfico aponta as mortes por doenças e por acidentes, incluindo o episódio do desmoronamento de 1886, que dizimou cerca de 600 trabalhadores entre escravos e mineiros assalariados.
Em resumo, o livro mostra que a situação a que os escravos eram submetidos despertou a consciência não só dos médicos, mas também dos jesuítas, dos letrados e de outros intelectuais. Manuais médicos orientavam os fazendeiros a melhorar o tratamento e condições de trabalho dos escravos e vários tratados denunciavam os maus-tratos sofridos pelos cativos.
Alguns escritos eram claramente a favor do fim da escravidão: “Felizmente começa a raiar no horizonte político do Brasil a aurora da liberdade”, diz o médico Joaquim dos Remédios Monteiro, no livro sobre a primeira infância publicado em 1868 sobre o período histórico que culminou na Lei do Ventre Livre e, posteriormente, com a abolição.
Serviço
O livro Lágrimas de Sangue, de Alisson Eugênio – está previsto para ser lançado, em São Paulo, no dia 2 de junho . Em princípio serão mil exemplares, que serão distribuídos para universidades públicas. Mais informações diretamente com o autor no endereço eletrônico alissoneugenio@yahoo.com.br
Moenda de cana, por Jean Baptiste Debret |
O texto consta do Erário Mineral (1735), um tratado de medicina prática, escrito pelo cirurgião Luís Gomes Ferreira, que atuou em Minas Gerais no início do Século XVIII. O relato do médico sobre a situação dos negros no Brasil Colônia fez parte do trabalho de pesquisa do historiador mineiro Alisson Eugênio, autor do livro “Lágrimas de Sangue”, que acaba de ser publicado.
O livro, com lançamento oficial previsto para o início de junho, tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig). A obra é um estudo inédito sobre a saúde da população escrava negra no Brasil desde o período colonial até a abolição.
A pesquisa foi baseada em documentos encontrados na Biblioteca Nacional, Real Gabinete Português de Leitura e Academia Nacional de Medicina (Rio de Janeiro). Também estão na lista os acervos do Arquivo Público Mineiro, Casa do Pilar/Anexo do Museu de Ouro Preto e Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana (Minas Gerais).
“Lágrimas de Sangue” revela, nas 276 páginas, como as condições de saúde dos escravos foram compreendidas por médicos, jesuítas, políticos, artistas, intelectuais, fazendeiros, administradores e outros observadores da época.
“Até então não havia um livro específico sobre o assunto. É um passo importante para a historiografia nacional, revelando as condições de saúde dos trabalhadores submetidos à escravidão e as origens da medicina do trabalho no Brasil”, afirma o pesquisador e professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) Alisson Eugênio.
Segundo o presidente da Fapemig, professor Evaldo Vilela, a fundação financia projetos de pesquisas que resultam em novos conhecimentos, incluindo as áreas de humanidades, ciências sociais e ciências sociais aplicadas.
“A divulgação desse livro segue a linha de projetos que recebem apoio da Fapemig porque é resultado de vasta pesquisa sobre a vida dos escravos no Brasil e , por isso, é uma fonte de conhecimento para a sociedade”, diz Vilela.
Dividido em sete capítulos, “Lágrimas de Sangue” mostra os males mais comuns entre os escravos. Os que trabalhavam nas minas de ouro e diamante eram mais acometidos pelas doenças pulmonares por causa do clima, da deficiência de agasalho e carência de vitaminas preventivas, além do excesso de horas trabalhadas.
Também são citadas as fraturas e feridas provocadas no dia a dia do trabalho, principalmente na mineração. A atividade nas minas do Século XVIII ainda provocava uma doença conhecida popularmente na época como camba ou cangalha. Era uma distrofia óssea que dificultava os movimentos dos pés, pernas, braços e mãos.
Outras doenças que afligiam os escravos eram as parasitárias (verminose), a anemia, os problemas gástricos e hepáticos, malária, o alcoolismo e as doenças sexualmente transmissíveis. As enfermidades do aparelho visual (oftalmia, catarata, conjuntivite), sempre de caráter “grave e prognóstico sombrio”, provocavam cegueira entre os negros da cidade e do meio rural.
A taxa de mortalidade infantil no meio da população cativa também é abordada no livro. O número ficava em torno de 236 mortes para cada mil crianças de 0 a 10 anos. As doenças que mais atingiam as crianças eram tétano, pneumonia, coqueluche, bronquite, sarampo e varíola.
Alguns costumes também ajudavam a elevar ainda mais esse índice. Um deles era o aluguel de escravas para amamentar as crianças de famílias ricas. Enquanto isso, seus bebês, quando não eram colocados nas portas de instituições de caridade, acabavam morrendo por falta do leite materno.
Outra situação que contribuiu para a morte de muitas crianças escravas foi manter as grávidas em serviço pesado até o parto. Narrativas médicas da época mostram que acontecia de o filho nascer, no meio do trabalho, em condições que dificilmente poderia sobreviver.
O último capítulo de “Lágrimas de Sangue” trata exclusivamente da mão-de-obra escrava na Mina de Morro Velho. Um estudo demográfico aponta as mortes por doenças e por acidentes, incluindo o episódio do desmoronamento de 1886, que dizimou cerca de 600 trabalhadores entre escravos e mineiros assalariados.
Em resumo, o livro mostra que a situação a que os escravos eram submetidos despertou a consciência não só dos médicos, mas também dos jesuítas, dos letrados e de outros intelectuais. Manuais médicos orientavam os fazendeiros a melhorar o tratamento e condições de trabalho dos escravos e vários tratados denunciavam os maus-tratos sofridos pelos cativos.
Alguns escritos eram claramente a favor do fim da escravidão: “Felizmente começa a raiar no horizonte político do Brasil a aurora da liberdade”, diz o médico Joaquim dos Remédios Monteiro, no livro sobre a primeira infância publicado em 1868 sobre o período histórico que culminou na Lei do Ventre Livre e, posteriormente, com a abolição.
Serviço
O livro Lágrimas de Sangue, de Alisson Eugênio – está previsto para ser lançado, em São Paulo, no dia 2 de junho . Em princípio serão mil exemplares, que serão distribuídos para universidades públicas. Mais informações diretamente com o autor no endereço eletrônico alissoneugenio@yahoo.com.br
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