Dia de Silvério, por Inocêncio Nóbrega
Inocêncio Nóbrega
Jornalista
inocnf@gmail.com
Cada povo tem seus traidores e heróis. O hábito da traição mais se eleva nos tempos das idades média e contemporânea, provocando uma dicotomia social, em geral medrando-se com firmeza nos sistemas de governo socialmente mais fragilizados.
Jornalista
inocnf@gmail.com
Cada povo tem seus traidores e heróis. O hábito da traição mais se eleva nos tempos das idades média e contemporânea, provocando uma dicotomia social, em geral medrando-se com firmeza nos sistemas de governo socialmente mais fragilizados.
No Brasil,em 1684 Manuel Beckman é levado ao cadafalso, em razão de denúncia de um protegido seu, Lázaro de Melo, por defender interesses do Maranhão. Na Paraíba, o fazendeiro João da Cunha(sempre Cunha!) assassina, traiçoeiramente, o sargento-mor Felix Antônio, líder da Confederação do Equador nessa província, a fim de receber prêmio em dinheiro, oferecido por D. Pedro, algo que não se concretizou. Em Goiás, nos idos da Independência, Maria Gertrudes recebe favores do capitão-general D. Manuel Inácio Sampaio, para espionar e dedurar os patriotas ligados ao padre Bartolomeu e ao soldado Nazaré, os quais são enforcados. O caso mais emblemático o de Joaquim Silvério dos Reis, que numa espécie de delação premiada, pois devia vultosa soma em impostos à Coroa, traiu a Tiradentes, culminando com seu enforcamento, a 21 de Abril de 1792.
Em função do espetáculo circense da Câmara dos Deputados, a que acompanhamos com viva indignação, quando vimos um festival de traições à democracia, de ataques à gramática e uma massacrante adesão golpista, permita-me inserir nesse texto “Versos íntimos”, de um dos maiores vates brasileiros, porém paraibano, falecido em 1914, na cidade mineira de Leopoldina, onde residiu por alguns meses, Augusto dos Anjos. Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, inicialmente da escola parnasiana de Olavo Bilac, inaugurou a nova fase da literatura poética, o do pré-modernismo. Dedico-os a nossa presidente Dilma Rousseff. O poema, que demanda bastante reflexão, se encaixa, muito bem, àquela deplorável situação, a qual desfigura o Poder Legislativo.
“Vês! Ninguém assistiu ao formidável!
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera –
Foi companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que nesta terra miserável
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma o fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo amigo, é a véspera do escarro,
A mão que te afaga é a mesma que te apedreja!
Se alguém inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!”
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