Lesa-pátria, por Inocêncio Nóbrega
Jornalista - inocnf@gmail.com
O articulista paraibano, Otávio Sitônio, contabiliza 20 golpes “de estado” no Brasil. Há outras dezenas, se levarmos em conta a tomada, pela força, de Juntas Governativas na época colonial. Trazem um indicativo de que não é somente de hoje que somos impulsionados pela vontade brusca de mudanças, nem sempre para frente. Hábito secular e costumeiro entre países do Continente, face à natureza mudancista do povo íbero-americano. Antes, anunciados ao som de trombetas, espadas e cavalaria, ocasionando inesperadas invasões a Sedes de Governo vivenciamos o ciclo dos canhões e tropas militares de infantaria, sem qualquer aviso prévio.
Depois da cuidadosa observação da Telesur (rede de TV multi-estatal para América), fica difícil isolar expressão golpe de estado de seu pertinente qualificativo: brando e suave, parlamentar, ou mesmo militar. Agora surge “golpe judicial”, denominação cunhada pelo Juiz de Direito de S. Paulo, Marcelo Semer, que poderá se somar à contagem de Sitônio. Quanto ao primeiro, assim a define: “São técnicas conspiratórias e desestabilizadoras, não diretas e, em princípio não violentas, com o fim de derrubar um governo democraticamente constituído e, desta maneira, alçar-se ao poder político de uma nação, sem que pareça haja sido consequência da ação de um grupo econômico e político”. A estratégia do golpe suave consiste efetuar-se em etapas hierarquizadas ou de forma simultânea. Entre elas o incremento progressivo de conflitos e promoção de descontentamento, utilizando-se de palavras-chaves, para gerar fatores de mal-estar: desabastecimento, inflação, criminalidade, manipulação do dólar, denúncias de corrução pelas mídias ultraconservadoras, sem sustentações reais.
A nova modalidade vem sendo testada desde 2003, na Venezuela, pondo sob mira Hugo Chavez e, posteriormente, Nicolás Maduro. Técnicos do novo método, importado dos EUA, passaram nove dias em solo venezuelano, cooptando membros de oposição, mapeando o território, sob o pretexto de “restaurar a democracia”. Em 2005 outro grupo de estrangeiros, de igual procedência, ensinou aos estudantes como debilitar e desorganizar o poder, construir e manejar movimentos.
No Equador, em 2010 provocou-se uma revolta policial, por ajuste de soldos, terminando por cercar o hospital, onde se encontrava o líder Rafael Correa, ocasionando oito mortos e 274 feridos. Alí, o esquema “golpe suave” ainda persiste. Na Bolívia, (2008) por trás de suposto descontentamento social, que visava desacreditar o presidente Evo Morales, estava o embaixador estadunidense, descoberto a tempo.No Paraguai, a vítima foi Fernando Lugo, num rito sumário, pelo parlamento, para beneficiar a empresa Monsanto.
A estratégia, contando com o PIG argentino, perseguiu Cristina Kirchner até o final de seu mandato. O sistema chegou ao Brasil em 2012, visando alcançar Lula pelo “impeachment”, fato que agora se repete contra Dilma Rousseff. São filhotes de golpistas históricos da UDN de Carlos Lacerda, a serviço de interesses externos, os quais defendem a privatização do pré-sal, enfim, criminosos de lesa-pátria. Não há dúvida, está ligado a esse contexto continental.
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