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Ficção Científica?

Neiton de Paiva Neves

Circulam por aí perspectivas e previsões nada boas para o Brasil e para o mundo.  Em alguns casos, a situação desalentadora antes apenas cogitada e aparentemente distante, é real e segue piorando.

Quem acreditava nas anunciadas e sérias consequências das mudanças climáticas do planeta, causadas pela descontrolada e irracional ação humana que destruiu grande parte da natureza, devastando florestas, provocando a poluição do ar, dos rios e do mar, a degradação das terras pela ação dos agrotóxicos etc?

Poucos ligavam para isso e muitos achavam que era coisa de ficção científica e que se de fato viesse a acontecer algo grave seria daqui a milhares de anos e de quilômetros de distância, mas não aqui e agora.

Contudo, as tragédias previstas estão ocorrendo já e em nossa porta, aqui e não só longe de nós, além das que, por enquanto, estão distantes até nos alcançarem.

Fiquemos, como exemplo, na crise hídrica que vive o Brasil. Em Itu, cidade paulista famosa pelo exagerado tamanho de suas coisas e pela suposta visita de um extraterrestre, viveu meses de total falta de água para o consumo.

E os habitantes da capital de São Paulo, megalópole sufocadana poluição, nos congestionamentos e na violência, também sofrem pela pouca água que lhes resta e com as enchentes de sempre. Não sei quem disse que o paulistano corre o risco de se afogar e com sede, sem água para beber.

Água é vida. Segundo a ciência, os primeiros seres vivos da Terra foram microrganismos que se alimentavam de substâncias existentes nos oceanos, dando origem a todos os outros que vieram depois. Segundo a religião, Deus criou o homem a partir de uma porção de barro, mistura de água e de terra, à qual animou com Seu sopro.

O fato é que o homem não vive sem água. A história da humanidade se fez e se faz com total dependência dela.  Aldeias e cidades surgiram às margens de rios e riachos.

É vital para o homem e essencial na indústria, na agricultura, na pecuária, na geração de energia etc.. Nada a substitui e nada igual pode ser criado em laboratório.

A escassez da água em muitos lugares gerou atividade lucrativa nova, que é sua venda em grande quantidade e a alto preço.  Sendo um bem que não passa por significativo processo de transformação e de baixo valor agregado, transformou-se em commodities, simples mercadoria, como são as frutas, legumes, soja, milho, minério etc., com a diferença de ser impossível a vida sem ela.

Há estudo sério concluindo que dentro de 20 anos o consumo mundial de água potável vai ser mais de 50% superior à quantidade dela hoje disponível.

E já existe ação do Banco de Mundial, articulada com grandes corporações multinacionais, para a privatização do fornecimento de água, naturalmente a custo alto, porque o objetivo delas é ganhar dinheiro, temendo-se que as populações mais carentes não possam pagar pelo consumo. Isso já ocorreu na cidade de Cochabamba, na Bolívia, onde a experiência fracassou e tiveram que voltar atrás.

Por outro lado, ainda tímidas, multiplicam-se ações de pessoas conscientes da gravidade dessa situação trabalhando para economizar e melhor aproveitar a água, tanto no uso doméstico diário onde todos podem fazer sua parte, quanto em escala maior, como no reuso, na captação da água da chuva, em instalações e equipamentos hidráulicos inteligentes, por exemplo.

É apenas um tardio, porém, um bom começo para tentar evitar o fim.

O fim está retratado, por exemplo, na visão do Diretor George Miller, nos filmes da franquia Mad Max, os três primeiros com o ator Mel Gibson e quarto com o ator Tom Hardy, recentemente lançado, e mostram o que sobrou: grupos de desfigurados sobreviventes lutando pela água e pelo petróleo que ainda resta.

Com muita ação, elogiados pela crítica e sucessos de bilheteria, são filmes de ficção científica, é claro.  Por enquanto.

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