Especialistas apontam falhas na organização do futebol
Falta de investimentos nas categorias de base e nos times do interior é a principal reclamação
As razões para os resultados ruins do futebol brasileiro nos últimos anos, assim como propostas para solucionar o problema, foram discutidas no Ciclo de Debates Muda Futebol Brasileiro, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (24/11/14). O tema foi tratado no painel “Recursos humanos: Formação e aprimoramento”.
A falência do futebol brasileiro foi apontada pelo diretor-executivo do Centro de Excelência em Performance de Futebol, Francisco Adolfo Ferreira. Ele, que foi também preparador físico de times como Atlético e Cruzeiro, leu seu artigo produzido logo após a derrota da seleção brasileira por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo. “Essa derrota foi só a gota d'água”, disse. Ele também relembrou maus resultados anteriores da seleção, como a desclassificação para as Olimpíadas de 2003.
Como razões para isso, ele citou a falta de investimento em treinamentos que privilegiem a tática, o pensamento rápido e o trabalho em equipe, que deveria substituir o modelo atual, focado nos treinos físicos. Ele ainda citou a estrutura administrativa do futebol nacional como problema. “Uma confederação sem fins lucrativos que lucra R$ 400 milhões por ano; dirigentes de federações estaduais que se recusam a largar o osso e se perpetuam no poder; dirigentes de clubes que enriquecem durante a gestão enquanto seus clubes se afundam em dívidas”, exemplificou.
Segundo ele, o Brasil ainda revela bons jogadores porque tem “escolas de talento” nas ruas e várzeas, mas o trabalho dos clubes, principalmente nas bases, deixa a desejar. Ele afirmou, ainda, que exigir a frequência dos jogadores em escolas formais e cursos preparatórios pode contribuir para gerar atletas mais inteligentes e capazes de tomar decisões.
Para Ferreira, os únicos trabalhos inovadores que merecem destaque positivo são os dos técnicos Tite, quando levou o Corinthians a ser campeão mundial em 2012, e Marcelo Oliveira, que levou o Cruzeiro a ser campeão brasileiro em 2013 e 2014.
Categorias de base e times do interior devem ser fortalecidos
A falta de investimentos nas categorias de base foi destacada por Ricardo Leão de Andrade, coordenador de Atendimento à Seleção Brasileira na Copa do Mundo 2014. Ele mostrou dados que apontam que o problema é ainda maior em Minas Gerais, em comparação com outros Estados. De acordo com esses dados, dos 12 clubes que disputam a primeira divisão do Campeonato Mineiro, apenas quatro disputam campeonatos de base – sub-20, sub-17 e sub-15. Em Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, cerca de 80% dos clubes participam dessas divisões, segundo Andrade.
Andrade também destacou a importância de se fortalecer os times do interior, o que poderia ser feito com a transmissão de campeonatos locais pela televisão, por exemplo. Essa ação levaria, segundo ele, não apenas à revelação de talentos, mas também à criação de vagas para profissionais da área. Ele destacou, ainda, a necessidade de melhorar a formação desses profissionais. De acordo com Andrade, atualmente os cursos de educação física são muito generalistas e já existem demandas para cursos técnicos, graduações e até mestrados específicos, “universidades do futebol”, como ele chamou.
Arbitragem também precisa de infraestrutura para treinamentos
Também foi apontada a necessidade de melhorar as condições de formação dos árbitros. O ex-presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Mineira de Futebol, José Eugênio, afirmou que o quadro de árbitros em Minas Gerais é hoje insuficiente. Para os jogos amadores da Capital seriam 120 árbitros atualmente, mas a necessidade seria de 200, segundo ele.
José Eugênio destacou a falta de estrutura para capacitação, já que não há espaços para treinamentos físicos nem para reuniões e palestras. O trabalho é sempre feito a partir de parcerias, com o Corpo de Bombeiros ou a UFMG por exemplo, mas isso seria insuficiente. “Precisamos pelo menos de um campo disponível de manhã e à tarde”, disse.
“A cadeia produtiva do futebol se transformou em um negócio milionário e os jovens passaram a enxergar o esporte como meio de ascensão social”, disse o assessor do América Futebol Clube, Carlos Cruz. Em seguida, ele apontou que 82% dos jogadores ganham até dois salários mínimos e apenas 3% dos jogadores profissionais teriam um salário superior a 20 salários mínimos. Mas, na batalha para se transformar em um deles, os jovens acabariam abandonando as escolas e, ao não alcançar o sucesso, voltariam frustrados e sem formação ao mercado de trabalho. Para ele, seria papel da mídia, assim como dos clubes, informar os jovens sobre o real cenário e sobre a importância dos estudos, até para uma atuação melhor como jogadores. Ele disse que a imprensa deveria também trazer informações sobre as categorias de base.
Fonte: Secom/ALMG
As razões para os resultados ruins do futebol brasileiro nos últimos anos, assim como propostas para solucionar o problema, foram discutidas no Ciclo de Debates Muda Futebol Brasileiro, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta segunda-feira (24/11/14). O tema foi tratado no painel “Recursos humanos: Formação e aprimoramento”.
O deputado João foi o autor do requerimento que deu origem ao ciclo de debates - Foto: Guilherme Bergamini |
Para Francisco Ferreira, a estrutura administrativa do futebol nacional é um problema - Foto: Pollyanna Maliniak |
Como razões para isso, ele citou a falta de investimento em treinamentos que privilegiem a tática, o pensamento rápido e o trabalho em equipe, que deveria substituir o modelo atual, focado nos treinos físicos. Ele ainda citou a estrutura administrativa do futebol nacional como problema. “Uma confederação sem fins lucrativos que lucra R$ 400 milhões por ano; dirigentes de federações estaduais que se recusam a largar o osso e se perpetuam no poder; dirigentes de clubes que enriquecem durante a gestão enquanto seus clubes se afundam em dívidas”, exemplificou.
Segundo ele, o Brasil ainda revela bons jogadores porque tem “escolas de talento” nas ruas e várzeas, mas o trabalho dos clubes, principalmente nas bases, deixa a desejar. Ele afirmou, ainda, que exigir a frequência dos jogadores em escolas formais e cursos preparatórios pode contribuir para gerar atletas mais inteligentes e capazes de tomar decisões.
Para Ferreira, os únicos trabalhos inovadores que merecem destaque positivo são os dos técnicos Tite, quando levou o Corinthians a ser campeão mundial em 2012, e Marcelo Oliveira, que levou o Cruzeiro a ser campeão brasileiro em 2013 e 2014.
Categorias de base e times do interior devem ser fortalecidos
Ricardo de Andrade destacou a importância de se fortalecer os times do interior - Foto: Pollyanna Maliniak |
Andrade também destacou a importância de se fortalecer os times do interior, o que poderia ser feito com a transmissão de campeonatos locais pela televisão, por exemplo. Essa ação levaria, segundo ele, não apenas à revelação de talentos, mas também à criação de vagas para profissionais da área. Ele destacou, ainda, a necessidade de melhorar a formação desses profissionais. De acordo com Andrade, atualmente os cursos de educação física são muito generalistas e já existem demandas para cursos técnicos, graduações e até mestrados específicos, “universidades do futebol”, como ele chamou.
Arbitragem também precisa de infraestrutura para treinamentos
Também foi apontada a necessidade de melhorar as condições de formação dos árbitros. O ex-presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Mineira de Futebol, José Eugênio, afirmou que o quadro de árbitros em Minas Gerais é hoje insuficiente. Para os jogos amadores da Capital seriam 120 árbitros atualmente, mas a necessidade seria de 200, segundo ele.
José Eugênio destacou a falta de estrutura para capacitação, já que não há espaços para treinamentos físicos nem para reuniões e palestras. O trabalho é sempre feito a partir de parcerias, com o Corpo de Bombeiros ou a UFMG por exemplo, mas isso seria insuficiente. “Precisamos pelo menos de um campo disponível de manhã e à tarde”, disse.
“A cadeia produtiva do futebol se transformou em um negócio milionário e os jovens passaram a enxergar o esporte como meio de ascensão social”, disse o assessor do América Futebol Clube, Carlos Cruz. Em seguida, ele apontou que 82% dos jogadores ganham até dois salários mínimos e apenas 3% dos jogadores profissionais teriam um salário superior a 20 salários mínimos. Mas, na batalha para se transformar em um deles, os jovens acabariam abandonando as escolas e, ao não alcançar o sucesso, voltariam frustrados e sem formação ao mercado de trabalho. Para ele, seria papel da mídia, assim como dos clubes, informar os jovens sobre o real cenário e sobre a importância dos estudos, até para uma atuação melhor como jogadores. Ele disse que a imprensa deveria também trazer informações sobre as categorias de base.
Fonte: Secom/ALMG
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