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Os discursos de ódio

José Roberto Peters (*)

Pois é. Guimarães Rosa — grande mineiro — em seu “Grande Sertão Veredas” escreveu:   “Melhor, se arrepare: pois num chão, e com igual formato de ramos e folhas, não dá a mandioca mansa, que se come comum, e a mandioca-brava, que mata?” Sabia muito o Rosa.

Hoje, passadas as eleições, vemos gente — feito as mandiocas — com dois discursos: o de amor e paz e o de ódio e violência.Vale dizer sempre que o ódio é o pior dos conselheiros. Turva a visão e não mede consequências. E é bom não confundir liberdade de expressão com discurso de ódio: vai entre eles uma distância enorme.

Quer ver? Aqueles que pregam o desaparecimento de nordestinos — porque não sabem votar e que-tais — fazem isso em nome da tal liberdade de expressão. Esses mesmos ficam indignados quando a polícia, com autorização da justiça, grava um preso com um celular desde o presídio dizendo que “vai matar o juiz fulano de tal”. Ora, qual a diferença dos dois discursos? Nenhuma. E não são exemplos de liberdade de expressão. Discurso de ódio é crime.

O discurso de ódio é irmão siamês da xenofobia, que existe pelo mundo afora: com os turcos na Alemanha, com os argelinos na França, com os latinos nos Estados Unidos — dica para quem quer se mudar para Miami — e com os nordestinos no Brasil, por exemplo.

E tem remédio? Acho que sim. A educação, para quem não percebeu ainda, é um antídoto para muitos males. Mas é necessário estar aberto ao novo, ao diferente, ao outro. Ter a disponibilidade para sobrepor os obstáculos epistemológicos, como dizia Bachelard, para sair da zona de conforto e ganhar outras visões de mundo.

Para isso há que ter vontade. Paulo Freire falava que “mudar é difícil, mas é possível”. E, como dizia Guimarães, também no Grande Sertão, “burro só não gosta é de principiar viagens.” Depois que começa, vai. Pense nisso.

* Mestre em Educação Científica e Tecnológica, professor universitário e consultor técnico da OPAS no Ministério da Saúde

2 comentários:

  1. Ótimo texto. Geralmente o ódio nasce diante de uma agressão, ou reação oposta. A ironia e a arrogância usadas como ataque também se assemelham ao ódio em proporção, são o fermento que provoca a reação de ira, de ódio. Quando falo da ironia e da arrogância, já que o termo que aflorou o texto foi justamente a politica durante e pós eleição, me refiro aos termos usados como coxinha, imbecis, e tantos outros que denigrem, ofendem tanto quanto quaisquer outras formas de demonstração de ódio, eis que denotam desprezo pelo outro da mesma forma.A liberdade de expressão é o maior dos direitos que adquirimos, e temos que prezar pela sua continuidade. Gostei muito do texto. Nívea Sabino

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  2. O nível das ofensas que insistem em se colocar na web antes, durante e, principalmente, depois das eleições demonstram um crescimento de atitudes facistas dignas dos piores momentos da historia da humanidade. E, estas demonstrações não refletem as lutas pelos direitos de trabalhadores e minorias, refletem a angústia provocada pela falta de argumentação, incentivadas pela falta de respeito ao outro e pelo ressentimento de não ter ganho o lugar que se supunha "de direito". Estas atitudes trouxeram uma nova categoria de ser humano aos palcos das lutas sociais, um tipo de humanos despreparados para suportar perdas e construir caminhos mais democráticos. Destes, o conceito "coxinha" foi a mais singela denominação, leve, macia e palatável. Toda outra significação exigiria dos "nomeados" muito mais massa cinzenta, coisa difícil em tempos de cólera e incompreensão. Vida longa aos professores, nunca antes tão necessários.

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