Aos chorões, como eu
Neiton de Paiva Neves
Antigo ditado diz que “homem que é homem não chora”. Uma sentença que impregnou e ainda molda a formação de gerações.
E é cruel, porque não há quem não chore. Ou há? Mas, o condicionamento induz ao sofisma: “Homem não chora; sou homem, logo não posso chorar”. Daí, os homens em geral quando choram só o fazem em segredo, escondidos, temendo serem tidos como fracos, frouxos, infantis.
Já fui assim. Mas, quem não aprende com a vida, não aprende com nada, e com a vida aprendi e aprendo muito, embora nem tudo o que ela ensina, pois sou mediano aluno.
Sabe-se, só o humano é capaz e programado para chorar, porque, ao contrário dos outros seres, temos canais lacrimais, glândulas lacrimais, nariz proeminente, uma aparelhagem física até complexa para chorar. E diz a ciência, as lagrimas lubrificam, limpam e impedem que as bactérias se instalem. É também reconhecido que o pranto alivia tensões, gera sensação de alívio e de desabafo.
Essa introdução é anteparo do que vou dizer: antes, chorava para dentro, engolia, disfarçava; de tempos para cá, passei a ser grande e convicto chorão e não me constranjo e nem me incomodo com o que possa pensar quem ao vivo assiste às minhas lágrimas.
Sou e me sinto livre para chorar, e isso me tem feito muito bem, obrigado!
É óbvio, não ando por aí a torto e a direito me exibindo ostensivamente como chorão. Apenas não mais me preocupo em me conter ou me esconder para liberar meu choro, que é sempre sincero e honesto, sem demagogia, porque vem lá do fundo.
E tem uma coisa. Como minhas lágrimas não vertem só diante do que é triste ou doloroso, choro também com o que é alegre e prazeroso.
Se choro pela falta daqueles que partiram de minha vida, que são muitos e muito amados, choro com as lembranças alegres que deixaram e não se apagam, e choro pela felicidade que me trazem os que estão presentes em minha vida, como meu filho, meus familiares, meus amigos.
Choro sim quando partem pessoas do meu convívio e afeto, e sofro com aqueles que pranteiam seus mortos. E choro com a felicidade dos futuros pais ao saberem que serão pais, e com o nascimento do filho/a deles, pois não pode haver momento mais sublime do que o alvorecer de uma vida.
Choro, diante de um amor intenso e de seu fim. Minha alma chora diante das tragédias próximas e distantes, às vezes tão longínquas, mas tão presentes nas imagens e páginas exploradas pela imprensa. E diante da injustiça, do abuso da ingenuidade e da exploração da boa-fé das pessoas, coisas assim.
E posso chorar diante de coisas mais comuns, que me falam ao coração: um poema, um livro, um filme, uma peça de teatro, um espetáculo ou apresentação musical, uma celebração, uma oração, uma despedida, uma chegada, um encontro, um desencontro, um abraço, um testemunho de vida, um caso ou uma anedota bem contados etc.
E tem o por do Sol lá onde se encontram o verde do mar e o azul dourado do céu, e outras muitas e deslumbrantes cenas cotidianas, verdadeiros cânticos e hinos da natureza que me encantam e comovem.
Pode parecer que sou “manteiga derretida”, ou pessoa amargurada e infeliz, que não faz outra coisa, senão chorar. Nada disso. Na minha vida, as fases tristes e sofridas perdem longe para as felizes e alegres. E agradeço por isso todos os dias, embalado pelos versículos do Eclesiastes 3:
“Para tudo há uma ocasião certa/ há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu /tempo de nascer e tempo de morrer/ tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou/ tempo de derrubar e tempo de construir/ tempo de chorar e tempo de rir/ tempo de prantear e tempo de dançar/ tempo de calar e tempo de falar ...”
E tendo falado, por aqui me calo, sem chorar.
===========
Em tempo. Estava em dúvida se escreveria sobre o chorão que sou, com receio de que o tema chateasse e desagradasse o leitor. Conversei com dois amigos (daqueles que choramos e rimos muito juntos) e, surpresa, confessaram - se chorões como eu, acrescentando que não estamos sozinhos e nem somos poucos. Escreva sim, incentivaram, em nome de todos nós. Aí está o resultado, irmãos chorões. Os não chorões que me desculpem.
(*) Artigo publicado originalmente na Revista Evidência
Antigo ditado diz que “homem que é homem não chora”. Uma sentença que impregnou e ainda molda a formação de gerações.
E é cruel, porque não há quem não chore. Ou há? Mas, o condicionamento induz ao sofisma: “Homem não chora; sou homem, logo não posso chorar”. Daí, os homens em geral quando choram só o fazem em segredo, escondidos, temendo serem tidos como fracos, frouxos, infantis.
Já fui assim. Mas, quem não aprende com a vida, não aprende com nada, e com a vida aprendi e aprendo muito, embora nem tudo o que ela ensina, pois sou mediano aluno.
Sabe-se, só o humano é capaz e programado para chorar, porque, ao contrário dos outros seres, temos canais lacrimais, glândulas lacrimais, nariz proeminente, uma aparelhagem física até complexa para chorar. E diz a ciência, as lagrimas lubrificam, limpam e impedem que as bactérias se instalem. É também reconhecido que o pranto alivia tensões, gera sensação de alívio e de desabafo.
Essa introdução é anteparo do que vou dizer: antes, chorava para dentro, engolia, disfarçava; de tempos para cá, passei a ser grande e convicto chorão e não me constranjo e nem me incomodo com o que possa pensar quem ao vivo assiste às minhas lágrimas.
Sou e me sinto livre para chorar, e isso me tem feito muito bem, obrigado!
É óbvio, não ando por aí a torto e a direito me exibindo ostensivamente como chorão. Apenas não mais me preocupo em me conter ou me esconder para liberar meu choro, que é sempre sincero e honesto, sem demagogia, porque vem lá do fundo.
E tem uma coisa. Como minhas lágrimas não vertem só diante do que é triste ou doloroso, choro também com o que é alegre e prazeroso.
Se choro pela falta daqueles que partiram de minha vida, que são muitos e muito amados, choro com as lembranças alegres que deixaram e não se apagam, e choro pela felicidade que me trazem os que estão presentes em minha vida, como meu filho, meus familiares, meus amigos.
Choro sim quando partem pessoas do meu convívio e afeto, e sofro com aqueles que pranteiam seus mortos. E choro com a felicidade dos futuros pais ao saberem que serão pais, e com o nascimento do filho/a deles, pois não pode haver momento mais sublime do que o alvorecer de uma vida.
Choro, diante de um amor intenso e de seu fim. Minha alma chora diante das tragédias próximas e distantes, às vezes tão longínquas, mas tão presentes nas imagens e páginas exploradas pela imprensa. E diante da injustiça, do abuso da ingenuidade e da exploração da boa-fé das pessoas, coisas assim.
E posso chorar diante de coisas mais comuns, que me falam ao coração: um poema, um livro, um filme, uma peça de teatro, um espetáculo ou apresentação musical, uma celebração, uma oração, uma despedida, uma chegada, um encontro, um desencontro, um abraço, um testemunho de vida, um caso ou uma anedota bem contados etc.
E tem o por do Sol lá onde se encontram o verde do mar e o azul dourado do céu, e outras muitas e deslumbrantes cenas cotidianas, verdadeiros cânticos e hinos da natureza que me encantam e comovem.
Pode parecer que sou “manteiga derretida”, ou pessoa amargurada e infeliz, que não faz outra coisa, senão chorar. Nada disso. Na minha vida, as fases tristes e sofridas perdem longe para as felizes e alegres. E agradeço por isso todos os dias, embalado pelos versículos do Eclesiastes 3:
“Para tudo há uma ocasião certa/ há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu /tempo de nascer e tempo de morrer/ tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou/ tempo de derrubar e tempo de construir/ tempo de chorar e tempo de rir/ tempo de prantear e tempo de dançar/ tempo de calar e tempo de falar ...”
E tendo falado, por aqui me calo, sem chorar.
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Em tempo. Estava em dúvida se escreveria sobre o chorão que sou, com receio de que o tema chateasse e desagradasse o leitor. Conversei com dois amigos (daqueles que choramos e rimos muito juntos) e, surpresa, confessaram - se chorões como eu, acrescentando que não estamos sozinhos e nem somos poucos. Escreva sim, incentivaram, em nome de todos nós. Aí está o resultado, irmãos chorões. Os não chorões que me desculpem.
(*) Artigo publicado originalmente na Revista Evidência
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