O toque da Sensibilidade no Direito
João Baptista Herkenhoff (*) - Dura lex, sed lex – a lei é dura, mas é lei. O dÃstico romano simboliza o que deve ser o império universal da lei. Não distingue as pessoas envolvidas no caso particular.
A Justiça representada pela figura do juiz com os olhos vendados traduz o mesmo significado. O juiz está de olhos vendados para exercer a judicatura com dignidade, para não a prostituir sob o tráfico de influência. O sentido simbólico dessa expressiva figuração é este de condenar, de maneira fulminante, favorecimentos ou perseguições.
Se por olhos vendados se entende a Justiça sem alma, a Justiça insensÃvel, incapaz de perceber as dores humanas, cega diante da viúva miserável, surda ao grito de socorro do desvalido, se por olhos vendados se entende a Justiça-mecânica, creio que essa visão da Justiça deforma e destroi o sentimento de Justiça.
Um teólogo, e não um jurista, deu as diretrizes para a boa interpretação das leis: “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social do outro: como vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam.” (Frei Leonardo Boff).
Um artista, um dos maiores de todos os tempos, e não um jurista, lançou um anátema decisivo contra a Justiça cega: "JuÃzes, não sois máquinas! Homens é o que sois!" (Charles Chaplin).
Um poeta, e não um jurista, produziu estes versos que são um convite à resistência permanente contra a injustiça: “Morder o fruto amargo e não cuspir / mas avisar aos outros quanto é amargo, / cumprir o trato injusto e não falhar / mas avisar aos outros quanto é injusto, / sofrer o esquema falso e não ceder / mas avisar aos outros quanto é falso; / dizer também que são coisas mutáveis… / E quando em muitos a noção pulsar / - do amargo e injusto e falso por mudar - / então confiar à gente exausta o plano / de um mundo novo e muito mais humano.”(Geir Campos, poeta brasileiro, nascido em nosso Estado, na cidade de São José do Calçado).
Suzete Habitzreuter Hartke, num livro doutrinário de Teoria Geral do Direito, escreveu).m dignidade e npara a boa interpretaos se entende a Justi exercer a judicatura com dignidade e n: “o ato de conjugar a Razão e a Sensibilidade não descaracteriza o ato judicial”.
No cotidiano das varas e tribunais, há um conflito permanente entre Lei e Direito, interpretação rÃgida e elástica, fronteiras demarcadas do Direito e horizonte infinito da Sensibilidade.
O que deve prevalecer?
A meu ver, a Sensibilidade, como Chaplin percebeu e vaticionou.
* João Baptista Herkenhoff é professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá do EspÃrito Santo e escritor. Autor de Dilemas de um juiz – a aventura obrigatória (GZ Editora, Rio de Janeiro).
E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
A Justiça representada pela figura do juiz com os olhos vendados traduz o mesmo significado. O juiz está de olhos vendados para exercer a judicatura com dignidade, para não a prostituir sob o tráfico de influência. O sentido simbólico dessa expressiva figuração é este de condenar, de maneira fulminante, favorecimentos ou perseguições.
Se por olhos vendados se entende a Justiça sem alma, a Justiça insensÃvel, incapaz de perceber as dores humanas, cega diante da viúva miserável, surda ao grito de socorro do desvalido, se por olhos vendados se entende a Justiça-mecânica, creio que essa visão da Justiça deforma e destroi o sentimento de Justiça.
Um teólogo, e não um jurista, deu as diretrizes para a boa interpretação das leis: “A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social do outro: como vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam.” (Frei Leonardo Boff).
Um artista, um dos maiores de todos os tempos, e não um jurista, lançou um anátema decisivo contra a Justiça cega: "JuÃzes, não sois máquinas! Homens é o que sois!" (Charles Chaplin).
Um poeta, e não um jurista, produziu estes versos que são um convite à resistência permanente contra a injustiça: “Morder o fruto amargo e não cuspir / mas avisar aos outros quanto é amargo, / cumprir o trato injusto e não falhar / mas avisar aos outros quanto é injusto, / sofrer o esquema falso e não ceder / mas avisar aos outros quanto é falso; / dizer também que são coisas mutáveis… / E quando em muitos a noção pulsar / - do amargo e injusto e falso por mudar - / então confiar à gente exausta o plano / de um mundo novo e muito mais humano.”(Geir Campos, poeta brasileiro, nascido em nosso Estado, na cidade de São José do Calçado).
Suzete Habitzreuter Hartke, num livro doutrinário de Teoria Geral do Direito, escreveu).m dignidade e npara a boa interpretaos se entende a Justi exercer a judicatura com dignidade e n: “o ato de conjugar a Razão e a Sensibilidade não descaracteriza o ato judicial”.
No cotidiano das varas e tribunais, há um conflito permanente entre Lei e Direito, interpretação rÃgida e elástica, fronteiras demarcadas do Direito e horizonte infinito da Sensibilidade.
O que deve prevalecer?
A meu ver, a Sensibilidade, como Chaplin percebeu e vaticionou.
* João Baptista Herkenhoff é professor pesquisador da Faculdade Estácio de Sá do EspÃrito Santo e escritor. Autor de Dilemas de um juiz – a aventura obrigatória (GZ Editora, Rio de Janeiro).
E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br
Homepage: www.jbherkenhoff.com.br
Segundo a história judaica, entre os anos 1228 a 879, antes da era cristã, os juÃzes exerciam suas funções com dinamismo e eram tidos como lÃderes do povo, observando sempre a lei judaica, permitindo estabilidade e governabilidade ao Estado. E parece que hoje alguém sempre levanta a voz para confessar o sonho com um sistema parecido, com juÃzes eleitos pelo povo ou com promoções por mérito, tal é o poder que exercem e suas responsabilidades sociais. E algo deve ser feito para corrigir um sistema que não protege nem a imagem da Justiça e nem a imagem dos JuÃzes. Segundo entrevista publicada pela Veja, a ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, declarou que é comum a troca de favores entre magistrados e polÃticos. Ela ainda declarou que é fruto de um sistema, onde para entrar num tribunal como o Superior Tribunal de Justiça, ela teve seu nome aprovado por ministros, depois do presidente da república e depois pelo Senado, dando a entender que o ministro escolhido sai devendo a todo mundo. E não ficou somente nisso e nem vou repetir palavras mais graves. Segundo ela, existe uma relação de subserviência da Justiça ao mundo da polÃtica dizendo que para ascender na carreira, o juiz precisa dos polÃticos e nos tribunais superiores esse caminho é exclusivamente polÃtico. Portanto, se ela estiver certa, o Judiciário pode contribuir muito para a redução da corrupção e maior proteção dos direitos. Concluindo, emoção/sensibilidade e razão é dever, mas é pouco; é necessário em nossos dias isenção e autonomia.
ResponderExcluir