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Jogo do Contente


Neiton de Paiva Neves

Estou entre os poucos (3% dos brasileiros) que assistimos na Rede Bandeirantes de Televisão ao primeiro debate de quatro dos candidatos a presidência da República.

Um deles usou seu tempo para, com grande e densa ironia, acusar os outros três de esconderem posições sobre o que está bom e o que está ruim no país, fugindo da abordagem mais profunda e evitando falar sobre os problemas, como se estivessem jogando o “Jogo do Contente”.

No tempo em que não havia televisão e nem internet, como hoje (e não me refiro há mil anos atrás, mas nos anos 50/60), a moçada frequentava cinema, ouvia rádio e lia um pouco (ou muito?) mais do que os jovens de hoje.

Lia-se desde as revistas em quadrinhos, passando pelas coleções de livros de mistérios e aventuras (para os garotos) e de romances (para as garotas). Os mais exigentes, com a então salutar mediação da escola, chegavam aos clássicos da literatura portuguesa, brasileira e universal.

Um livrinho de literatura infanto-juvenil, anos antes publicado, naquela época ganhou grande destaque e era comentado nas rodas. “Pollyanna”, da escritora norte-americana Eleanor H. Porter, o livro, exerceu profunda influência no público leitor para o qual foi escrito e ainda em formação, especialmente as moças, mas também os rapazes e adultos, que o liam para não ficarem por fora do assunto.

Pollyanna , jovem semi-adolescente e órfã vai morar com sua tia, rica e desiludida, triste e mal humorada, descrente e desmotivada. Aos poucos, a menina vai influenciando as pessoas da casa, da cidade e mais além, com o que ela chama de “Jogo do Contente”, a que se referiu o candidato.

O "Jogo do Contente", (a definição não é minha) consiste “em encontrar um lado positivo em todas as situações adversas, é sempre considerar que as coisas poderiam estar piores e esperar pelas boas conseqüências de algo aparentemente ruim. Nesse jogo não há oponentes externos, pois a luta é interna, contra os nossos próprios temores e preconceitos”.

É um bom jogo e é um jogo perigoso. Bom, pois, quase sempre as coisas ruins podem piorar e, se não piorarem, já existe motivo de ficar contente. Perigoso, pois, o que eventualmente existir de bom naquilo que é ruim, pode impedir o desfrute das coisas já boas.

E, há situações nas quais o melhor é encarar de frente a realidade dura e sofrida posta no caminho, e, se estiver além de nossas possibilidades mudá-la, aceitá-la, simples e serenamente, e quem sabe com ela aprender alguma coisa útil.

Vale lembrar que o conceito do bom e do ruim, do mal e do bem, do certo e do errado, precisa sempre ser questionado (e sempre foi e sempre será, felizmente), pelo risco se basear numa posição maniqueísta e preconceituosa, apontando para a direção do sectarismo e da intransigência. E Deus nos livre do “quanto pior, melhor”!

Este ano republicado com o nome aportuguesado – Poliana - (juntamente com sua continuação, Poliana Moça) pela Ediouro Publicações, com tradução de Paulo Silveira, contém lições de otimismo e de pensamento positivo que podem não ser a solução e não ajudar e até mesmo confundir, mas contém histórias singelas que, segundo uma amiga, levam às lágrimas e aos sorrisos. Não faz mal algum ler. Acho.

Descendo para o andar de baixo, figurativa e literalmente, entretanto no contexto de eterno dualismo, leio notícia recente de que o Hamas, ativo grupo fundamentalista islâmico que domina a Faixa de Gaza, no Oriente Médio, dentro de sua política antidrogas, esses dias queimou em praça pública grandes quantidades de álcool, maconha, cocaína, Viagra e similares. Ou seja, a famosa pílula azul, que aqui no nosso hemisfério tem sido o bem e a felicidade dos machos, e também das fêmeas, suponho, lá é droga equiparada às outras citadas e incineradas.

Ah!, O bom e o ruim, o bem e o mal, o certo e o errado, o branco e o preto!”

E existe quem pense: “Eu estou certo e você está errado!”

2 comentários:

  1. Dr Neiton,

    Na minha última postagem por aqui eu estava desiludido e um tanto quanto pessimista, mas poucos sóis levantaram-se e me sinto a mais feliz das criaturas. Diga-se de passagem que não tem nada a ver com a pílula azul. A felicidade reside em sair do fundo do poço e não em escalar a mais alta montanha.

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  2. Essa história deveria ser chamada de o jogo do consolo, aplicado quando a gente não encontra uma boa resposta e dá esperança ao cobrador para diminuir sua ânsia de solução imediata. É mais ou menos a mesma do ditado que diz: se não há remédio, remediado está. Ou, se não há solução, solucionado está. O objetivo é consolar, se o político não encontra a resposta para aplacar a ansiedade do contribuinte em ver solucionado qualquer problema é melhor mostrar o lado bom, porque o lado ruim todo mundo já esta sabendo. O negócio é não ficar calado e nem revelar que não sabe a resposta. Ainda bem que eu faço parte dos 87% que não viu esse dabate e assim não preciso ficar descontente com a enrolação de quem prega sonhos. Esse é um lado bom. Mas a história da Pollyanna surgiu com um incidente num Natal, quando ela estava achando que ia ganhar uma linda boneca do pai e ele lhe deu de presente um par de muletas. Sinistra a tentativa de consolo criada pelo pai. Diante da decepção dela, o pai acabou criando o método do contente, dizendo a ela para ver somente o lado bom do presente e das coisas, ou seja, deveria ficar contente porque "nós não precisamos delas!"...

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