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Sonhar é bom...


Marília Alves Cunha

Linda praça. Despojada, natural. Pouco cimento, apenas o necessário ao caminhar dos passantes. Que cimento demais escorraça a cor, o cheiro de terra, o barulho crespo da folha que cai. Que cimento demais impede o andar da água da chuva, ansiosa para penetrar o solo, irrigar suas profundezas, tornar seu ventre úmido e fecundo.

Impera o verde, na grama que se espraia ao sol, nas copas frondosas das árvores graciosas, de tronco forte, de sombra benfazeja que chama ao descanso. E como mulheres carinhosas, entregam-se aos afagos do vento e abrem os braços ao aconchego, ao agasalho, à paz. Ipês, cerejeiras, paineiras, muitas, em plena floração, espetáculo cor de rosa, branco, roxo, prateado a inundar a vista, a tinturar a paisagem, a provocar poemas.

Pássaros voam inquietos. É tempo de amar, procurar parceiros para o acasalamento, construir lares quentinhos e resguardados para construir a família, continuar o milagre da vida em meio à profusão de vida. Das intempéries o Criador os proteja, dos homens também...

Flores não faltam. De todas as cores, raças e formatos. Que jardim sem flor é pelas metades, comida sem sabor, luz sem calor. E são beijadas por legião de borboletas faceiras, que agitam as asas num frenesi de alegria.

Tem gente. Um casal de jovens amantes troca beijos demorados, entregues, desligados do mundo em torno, imersos em sensações que os alheia de tudo, menos de si. Alguns arbustos complacentes curvam-se a sua volta, no esforço de abrigar de olhares curiosos o ato amoroso. Um casal de idosos passeia de mãos dadas, apoiando-se, trocando palavras, olhando-se com cumplicidade, cada gesto uma demonstração de amor, daquele amor que nunca envelhece e nunca morre, pois como as árvores da praça fincou raízes profundas. Algumas crianças brincam alegres, rostos vermelhos e suados, gritos incontidos de alegria, energia pura. Muitos carrinhos de bebês, lindos bebês a olhar com olhos descobridores o mundo novo e atraente que se lhes descortina. Jovens ensaiam passos de dança, tentando conjugar-se e inventar coreografia. Sem música, sem barulho, apenas corpos flexíveis movendo-se ao canto do vento.

Esta praça é linda, perfeita. Praça dos meus sonhos. Não existem nela tabuletas com o escrito “proibido pisar na grama”, por serem desnecessárias. Não existem bancos depredados, não se acumula lixo, as plantas estão perfeitamente cuidadas, os velhos podem passear sem cuidados, as crianças brincam livremente, os bebês descobrem o mundo, os donos de cachorrinhos cuidam de limpar “sujeirinhas” que por acaso os amiguinhos possam deixar no caminho. A vida, o cuidado, o amor florescem pelas alamedas. E a mãe natureza, mostrando toda a sua força e beleza, permite que nos aproveitemos de sua magia e nos curvemos respeitosamente ante sua grandeza.

Sonhar é bom e melhor ainda, acreditar que o sonho possa, um dia, transformar-se em realidade. Quem sabe?

2 comentários:

  1. Marília, teu astral está tão alto que se você der um passeio pelo cemitério e narrar tal passeio - convencerá a muitos que a morte não existe!

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  2. Esta é a praça com a qual sonho para as nossas cidades. Só vi nestes moldes na Europa e nos Estados Unidos. Nós brasileiros poderíamos muito bem cuidar melhor de nossas praças e parques...

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