Palavras ao vento
O dicionário define: “fofoca é o ato ou efeito de fofocar; dito maldoso; mexerico; especulação; aquilo que é comentado em segredo sobre outrem”. Segundo ele, fofocar é “fazer fofoca, mexericar; bisbilhotar etc.”
“Olha, estou vendendo pelo preço que comprei, não vi e não sei de nada, mas...”. Essa é a frase que anuncia a fofoca. Depois, vem o estrago na vida pessoal, profissional, geral, da vÃtima, pois o que dela se fala em seguida raramente é positivo ou elogioso, embora o mexerico do bem possa eventualmente ocorrer.
O ouvinte, quase sempre, se deleita com a fofoca, e, tendo-a como verdade ou não, sabendo ou sequer imaginando as conseqüências, transmite-a para outro e este para outro e assim a coisa vai crescendo, a ponto de adquirir vida própria e de se libertar de seu criador, como um Frankenstein verbal/virtual. Em polÃtica, então, é famosa a afirmação de que “mais importante do que o fato é a versão”.
Ninguém pode dizer que não foi, não é ou não será vÃtima da fofoca. Não existe vacina contra, porque a fofoca trata exatamente do que não existe. É história inventada, a mentira criada com propósitos diversos que vão desde a vontade deliberada de prejudicar, de criticar ou de diminuir alguém, até a estratégia para colocar ou manter alguém em evidência, na boca do povo ou na mÃdia.
A fofoca é uma praga e uma instituição. Praga, porque não respeita nada e ninguém, vivo ou morto, e porque se alastra insidiosa e traiçoeira, pérfida e deslealmente. Instituição, porque ..., bem, basta ver a quantidade de revistas especializadas em fofocas que está nas bancas e o número de programas de rádio e de televisão tendo-a como matéria prima.
Há quem diga que a fofoca é um instrumento de regulação e de contensão social. O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, em seu clássico estudo “Tratado Geral da Fofoca”, editora Summus, 1978, conclui que a fofoca é o sintoma mais universal de dissociação (desagregação) psicossocial.
Na verdade, para o fofoqueiro, fofocar é prazeroso, pois assim se comunica e se diverte, além de passar uma imagem de pessoa bem informada e que sabe das coisas, pouco se importando com o veneno que destila.
A fofoca pode se caracterizar, penalmente, como injúria, calúnia ou difamação, os chamados crimes contra a honra, e é capaz de destruir uma reputação, uma vida, e por conta de um “disse que me disse” já se matou e já se morreu. Morte fÃsica ou morte moral e social.
Quando a fofoca vem da mÃdia, pode ser arrasadora. Há anos, parte da imprensa divulgou que numa escola de São Paulo, Capital, as crianças eram molestadas pelos proprietários. Depois de demoradas investigações, ficou provado que era fofoca. Os donos da escola, entretanto, tiveram que fechá-la, faliram e nunca mais puderam ser os mesmos.
Por isso, está milenarmente certo o poeta latino Horácio, que viveu antes de Cristo, quando disse: “E uma vez lançada, a palavra voa irrevogavelmente” (Epistolas, I, 18,71).
“Quando um vizinho perguntou a Maomé como poderia penitenciar-se por haver acusado falsamente um amigo, foi aconselhado a colocar uma pena de ganso em cada porta da aldeia. No dia seguinte, Maomé disse: ‘Agora vá recolher as penas’. O homem protestou: ‘Mas isso é impossÃvel! Ventou a noite inteira e as penas foram irremediavelmente espalhadas’. ‘Exatamente – respondeu Maomé – o mesmo aconteceu com as palavras irrefletidas que você pronunciou contra o seu vizinho’".
AtribuÃda a um jornalista norte-americano, essa história resume tudo, mesmo impregnada de visão vinculada ao moralismo, corrente filosófica que sempre desperta controvérsia.
Pareceu-me que o psiquiatra José Ângelo Gaiarsa concluiu corretamente: a fofoca é o sintoma mais universal de dissociação (desagregação) psicossocial. Por que as pessoas chegam a fazer fofoca? Nas empresas a fofoca causa repercussões imediatas entre os empregados. Os consultores já conhecem as técnicas de superação. Talvez o Senhor concorde comigo: hoje todas as instituições estão demasiadamente sendo questionadas em tudo e também sendo alvos de interpretações falsas ou notÃcias equivocadas. Quem passou por isso agora busca o antÃdoto contra fofocas e recuperação de boa imagem. Qual é? É a credibilidade e a transparência. Talvez por isso tenha surgido a nova lei da transparência dos gastos públicos por meio de comunicação eficiente. A boa comunicação, aliada à palavra confiável dos chefes e das autoridades, pode diminuir equÃvocos, ressentimentos e intrigas entre as pessoas.
ResponderExcluirViva o fofoqueiro! Uma vez eu me safei de uma função asquerosa no Exército apenas alegando que era fofoqueiro. Tratava-se de uma seção, dita de PolÃcia, onde a função é denunciar comportamentos de companheiros. Ele chamam de S2. Lógico que vai além desta função de delator evoluindo-se até fazendo investigações criminais, registro de armas, etc. Era ótimo, pois se trabalhava civil e podia deixar a barba crescer. Não me seduzi por este caminho e disse que era fofoqueiro de marca maior. Ainda reforcei que qualquer investigação iria por água abaixo com a minha lÃngua solta. Fofoqueiros existem tantos, mas ninguém assume...
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