As dores de minha mãe foram além dos partos
Aristeu Nogueira Soares
Minha mãe completou oitenta e um anos. Certeza. O mês de natalício é Fevereiro, mas o dia me falha à memória, mas já habitou por lá.
Sei que alguns se ajuntaram no dia treze para comemorar. A notícia não me chegou a tempo, além de desprevenido outros contratempos fizeram-se obstáculos como, por exemplo, hóspedes carnavalescos.
Quando eu era menino não deixava a data passar em branco. A mãe era tudo e algumas engraxadas a mais se transformavam numa linda bandeja. Esta bandeja estampada transformava-se num presente extraordinário. Lembro-me desta bandeja, hoje ainda existente, mas com uma necessária pintura a óleo que cobriu as ferrugens e o inesquecível estampado. É verdade que já dei jogo de sofá ou mesmo cerquei o quintal de lajotas, mas acho que o primeiro presente a gente nunca esquece!
Pobre não faz aniversário, ou seja, não comemora então como guardar a data?
Quando muito o filho traz pra casa um cartão-coração desenhado e recortado da cartolina por ele próprio, num incentivo escolar que gera até nota.
Não sei se tais presentes, em sua maioria, se eram entregues no Dia das Mães ou no aniversário ou ambos, por incrível que possa parecer.
Uma mãe pobre de nove filhos, por mais que se faça presente, alguns deles ficarão à deriva. Este negócio de que filho é tudo igual é a mais pura mentira – Mãe protege os menos aptos à sobrevivência.
Até a idade dela de hoje ainda existem, sob sua dependência exclusiva, filhos sexagenários. Certamente por isto é que insiste em viver, apesar das dores – Eita missão sem fim!
Ela que andava a passos largos pela cidade em busca de ovelhas perdidas tem hoje apenas alguns passos miúdos em torno do fogão, onde o alimento nunca faltou aos filhos. O diabetes talvez seja sua companheira de viuvez, além do peso excessivo mal acompanhado de dores imensas nas articulações.
Meu pai, além da pensão mínima, não ajudou muito no cumprimento da missão. Partiu cedo, embalado aos cinqüenta e um pelo consumo de aguardentes.
Não ficou nenhuma herança aos filhos, mas dívidas genéticas. Eu, a exemplo de outros, já tive perturbações mentais e outros continuam em botecos “limpando a goela”, certamente para descer melhor o pó da terra.
Talvez o desgosto consuma minha mãe e venha à mente que nada valeu a pena com filhos distantes e ausentes, mas engana-se. Quanto mais ausente e distante prova-se que asas foram tecidas para a grande jornada.
Quando perante as dificuldades minha mãe tenha optado por um caminho diferente, com certeza não manchou o heroísmo desmedido.
É verdade que a distância nos desacostumou, mas não esqueço jamais das dores de minha mãe e do meu amor.
Parabéns e muito orgulho!
Minha mãe completou oitenta e um anos. Certeza. O mês de natalício é Fevereiro, mas o dia me falha à memória, mas já habitou por lá.
Sei que alguns se ajuntaram no dia treze para comemorar. A notícia não me chegou a tempo, além de desprevenido outros contratempos fizeram-se obstáculos como, por exemplo, hóspedes carnavalescos.
Quando eu era menino não deixava a data passar em branco. A mãe era tudo e algumas engraxadas a mais se transformavam numa linda bandeja. Esta bandeja estampada transformava-se num presente extraordinário. Lembro-me desta bandeja, hoje ainda existente, mas com uma necessária pintura a óleo que cobriu as ferrugens e o inesquecível estampado. É verdade que já dei jogo de sofá ou mesmo cerquei o quintal de lajotas, mas acho que o primeiro presente a gente nunca esquece!
Pobre não faz aniversário, ou seja, não comemora então como guardar a data?
Quando muito o filho traz pra casa um cartão-coração desenhado e recortado da cartolina por ele próprio, num incentivo escolar que gera até nota.
Não sei se tais presentes, em sua maioria, se eram entregues no Dia das Mães ou no aniversário ou ambos, por incrível que possa parecer.
Uma mãe pobre de nove filhos, por mais que se faça presente, alguns deles ficarão à deriva. Este negócio de que filho é tudo igual é a mais pura mentira – Mãe protege os menos aptos à sobrevivência.
Até a idade dela de hoje ainda existem, sob sua dependência exclusiva, filhos sexagenários. Certamente por isto é que insiste em viver, apesar das dores – Eita missão sem fim!
Ela que andava a passos largos pela cidade em busca de ovelhas perdidas tem hoje apenas alguns passos miúdos em torno do fogão, onde o alimento nunca faltou aos filhos. O diabetes talvez seja sua companheira de viuvez, além do peso excessivo mal acompanhado de dores imensas nas articulações.
Meu pai, além da pensão mínima, não ajudou muito no cumprimento da missão. Partiu cedo, embalado aos cinqüenta e um pelo consumo de aguardentes.
Não ficou nenhuma herança aos filhos, mas dívidas genéticas. Eu, a exemplo de outros, já tive perturbações mentais e outros continuam em botecos “limpando a goela”, certamente para descer melhor o pó da terra.
Talvez o desgosto consuma minha mãe e venha à mente que nada valeu a pena com filhos distantes e ausentes, mas engana-se. Quanto mais ausente e distante prova-se que asas foram tecidas para a grande jornada.
Quando perante as dificuldades minha mãe tenha optado por um caminho diferente, com certeza não manchou o heroísmo desmedido.
É verdade que a distância nos desacostumou, mas não esqueço jamais das dores de minha mãe e do meu amor.
Parabéns e muito orgulho!
Aristeu,
ResponderExcluirgosto muito da forma realista com que você conta as histórias da sua vida. Tem até uma pitada de humor, mesmo que o assunto não seja tão engraçado assim... Sinal de sabedoria, diziam os filósofos, daqueles que sabem rir de si mesmos. Sua mãe deve ser uma pessoa linda e o maior presente que você dá a ela é o seu amor de todos os dias. Abraço. Marília