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Eu e Boris Casoy

Aristeu Nogueira Soares

Na virada do ano, enquanto veiculava na TV BANDEIRANTES uma notícia referente à Super Mega-sena, houve um vazamento de áudio.

Na matéria, dois senhores uniformizados em tom laranja, cabelos parcos grisalhos e bocas não completas, mas com sorrisos largos, desejavam aos telespectadores muitas felicidades, muita saúde e muito trabalho. Eram garis, com certeza, com aposentadorias próximas, uma gracinha.

Boris Casoy, o âncora do “é uma vergonha”, despreocupadamente, pensando não estar no ar, comenta com “Joelmir Beting”, seu companheiro de altar: “Que merda... dois lixeiros... do alto de suas vassouras... desejando felicidades... o mais baixo na escala do trabalho...”

Confesso que me desanimei mais uma vez com os homens. Será que Boris, no alto do seu microfone, está na mais alta escala de trabalho? Escala de julgamento?

O trabalho de Boris também é um trabalho sujo, tanto que há bem pouco tempo era um ilustre desempregado.

Ele pediu, no dia seguinte, profundas desculpas aos garis, mas o reparo deveria ser maior.

Eu, por exemplo, sintonizava-o e não sei se o farei novamente. Na minha escala de ídolos ele foi demitido.

Pediu desculpas somente aos garis, mas ele feriu muito mais, inclusive filhos de garis.

Qualquer que seja a dimensão dada à escala do trabalho de gari, ela sempre será a mais elevada sob o meu conceito.

Saiba, Sr Boris, que quando eu vejo um gari, um carrinho, uma vassoura e uma pá, meus olhos vertem o mais puro sentimento.

Meu pai com o salário mínimo obtido ao mês, na Prefeitura de Araguari, recolhendo o lixo nosso de cada dia é que nos proporcionava o pão.

Meu pai era lixeiro e me sorria dizendo – ki cheiro! De tudo que fiz nesta vida o que me trouxe mais gratidão era a tarefa que eu abraçava de lhe levar a marmita com o seu almoço. Fazia o percurso correndo pra comida chegar quentinha.

Na sua hora de almoço, sempre na Rua Marciano Santos confluindo com a Avenida Bahia, às margens do então descoberto Córrego Sanitário, ele era o homem a quem mais eu devia respeito e ensinamento. Ninguém me ensinou mais que ele. Seria uma vergonha sentir-lhe vergonha.

Desculpas, Boris, profundas desculpas... não conterão meu vazamento visual.

Aqui, Boris humilha:



Neste, pede desculpas:

3 comentários:

  1. Boris foi infeliz ao pronunciar aquelas mal cheirosas palavras. Ao menos, reconheceu o erro, talvez não na extensão devida.
    De qualquer forma, não acredito que não será perdoado pelo Aristeu. Afinal, a concessão de um perdão condicionado, por não ser propriamente um perdão, não se mostra compatível com a grande generosidade aristeuniana.
    Aposto que, lá do Céu, também o laborioso gari que deixava a Marciano Santos brilhando saberá varrer esse momento infeliz vivido pelo falível Boris.

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  2. Entendo e compartilho a indignação do amigo Aristeu.
    Quem de nós, vindos de origens muito humildes, não teve lá seus honrosos dias de faxineiro. Vivi, sem qualquer sentimento de pequenez, minha época de faxineiro em oficinas mecânicas, padarias e tipografias (nesse setor acabei chegando a auxiliar de chapista, antes de incorporar ao Exército).
    Até hoje, quando me apresento em palestras ou nas aulas inaugurais aos alunos da faculdade, faço questão absoluta de expor a abertura do currículo com o cargo de faxineiro.
    Boris Casoy apenas reproduziu a média do pensamento geral de uma sociedade hipócrita e rançosa, que avalia o homem pela função ou condição socioeconômica.
    De minha parte, deixei de ser telespectador do Sr. Boris. Não que isso vá lhe fazer alguma falta. Mas pra minha consciência fará muita diferença.
    E... por favor, Boris Casoy, poupe o país do "isso é uma vergonha!!".

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  3. Mais uma vez o Aristeu tira sangue da ferida. E com toda razão. O Sr. Boris escorregou no quiabo ( para não dizer coisa pior...) quando foi pego em flagrante naquela fala infeliz. Também deixei de ser telespectadora do referido senhor, pois a sua imagem leva-me imediatamente à grosseria e elitismo presunçoso de suas palavras.

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