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Gentileza

Neiton de Paiva Neves (*)

Um bom número de veículos circula com um plástico colado no vidro ou no para-choque traseiro impresso com a palavra “GENTILEZA”, iniciativa que parece ser uma proposta e uma súplica.

Há certa confusão quanto ao significado do que é ser gentil, que alguns acham frescura, outros pensam ser coisa de mulher, outros tantos sinal de fraqueza ou de adulação, no geral todos grosseiros e também mal educados, pois gentileza e educação não são sinônimas, embora geralmente andem juntas.

A gentileza facilita as relações sociais e as tornam mais agradáveis. É algo que ninguém é obrigado a fazer, mas faz para melhorar a relação com as pessoas, é um cuidado com o outro que vai além das normas formais de educação – define Maria Eunice Maciel, doutora em Antropologia e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Vida acelerada, correria prá cá e prá lá, pressões de todos os lados, trabalhando doidamente, cercados de problemas de toda a natureza e procedência, preocupados com o futuro próprio e o da família, correndo atrás do pão de cada dia e de contas a pagar, sem tempo para mais nada, cansados, paciência curta, e ainda querem gentileza!

Não há nenhuma novidade nisso. Na realidade da vida, seja qual for, é que a gentileza tem importância e valor, como ingrediente capaz de suavizar a dureza e reacender os valores humanos anestesiados, esquecidos ou suplantados pelos imperativos da sobrevivência ou por opções infelizes.

Um texto cujo autor desconheço, é sempre lembrado quando se deseja realçar a força da gentileza. Segue transcrito:

“Samuel era um Rabino que, por volta de 1930, vivia numa aldeia polonesa. Gostava de dar longas caminhadas pelo campo e era conhecido pela sua gentileza, pela forma com que a todos tratava.

As relações entre cristãos e judeus não eram muito boas, naquela aldeia, mas, mesmo assim, toda a vez que o Rabino passava pelo Sr. Müller, um lavrador cristão, o cumprimentava com um sonoro “bom dia” !

Naturalmente que não havia resposta. O lavrador lhe voltava as costas, em silêncio. Mas, o Rabino não desistia. Todos os dias, nas manhãs de sol, passava e cumprimentava o Sr. Müller.

Finalmente, depois de muito tempo, o lavrador decidiu corresponder ao cumprimento. Primeiro, com um leve toque no chapéu. Depois, acrescentou um sorriso. Mais tarde, gritava de volta: “Muito bom dia Rabino!”.

Muitos anos se passaram. Chegaram os nazistas e o Rabino e toda sua família foram feitos prisioneiros e levados a um campo de concentração.

Enquanto caminhavam ao ritmo da fila de entrada, o Rabino percebeu que lá na frente o comandante do campo, com seu bastão, indicava onde o prisioneiro deveria ir: para a esquerda ou para a direita.

A esquerda queria dizer morte imediata. A direita garantia algum tempo de sobrevivência.

O coração começou a palpitar. A fila avançava e ele pensava: esquerda ou direita? Morrerei ou viverei? E minha família?

Quando estava apenas a uma pessoa de distância do oficial, afastou o medo e olhou com curiosidade para o rosto do comandante. Naquele momento, o homem se voltou e os olhos de ambos se encontraram.

O Rabino se aproximou. Era a sua vez. Olhou fixamente para os olhos que o fitavam e disse baixinho: “bom dia, Sr. Müeller”.

Os olhos do comandante tremeram por um segundo. A seguir, respondeu: “bom dia Rabino”.

Estendeu o bastão para frente, apontou a direita e gritou: “passe”.
E o Rabino passou para direita, para a vida. A guerra acabou e logo em seguida e foi libertado”.

Nessa história, a recompensa pela gentileza foi a vida. Na vida, quem sabe ser gentil já está premiado.

(*) Neiton de Paiva Neves é advogado, Ex Prefeito de Araguari e Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Presidente Antônio Carlos - Unipac Araguari.

Artigo publicado originalmente em Dezembro de 2009.

3 comentários:

  1. A análise fria da "justaposição" ortográfica nos fornece duas palavras que nos traduz um significado da palavra: Gente ilesa. Esta palavra não machuca, mas cura. A única contra-indicação de tal virtude é ser atalho para o mais digno de todos os substantivos: o AMOR.

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  2. Prefeito, algumas pessoas, assim como o Senhor, alcançaram a ventura de serem naturalmente gentis. Mas, infelizmente, a maioria se apresenta com as máscaras da grosseria, da agressividade, da arrogância, da hipocrisia, etc. Bons modos ou não, todos são máscaras que cada um tem para se apresentar ao mundo, opções de imagem de vida. São rótulos da personalidade resguardando suas essências. Desses rótulos ou máscaras que cada um adota para si, como opção para se apresentar ao mundo, a gentileza facilita o trânsito das pessoas entre uma situação e outra ou entre pessoas ou grupos, abrindo portas da comunicação, quebrando preconceitos e favorecendo o ambiente fraternal. É uma virtude, mas é sempre conveniente no exercício das virtudes uma boa dose de malícia para que as demais pessoas não abusem da pessoa gentil e não a julgue falsa ou otária.
    Segundo meus amigos, o Samuel Shapira e o Herr Mueller são do livro “Pequenos Milagres – Coincidências extraordinárias do dia-a-dia” (Yitta Halberstam e Judith Leventhal - Editora Sextante), p.76, 1998, onde os autores narram um caso acontecido na década de 1930 na aldeia polonesa de Prochnik.
    Bom dia, a todos!

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  3. A propósito do que foi dito no início da sua crônica sobre os adesivos nos carros com a palavra gentileza, creio que seja reminiscência da campanha “Rio com Gentileza” vinculada ao paulista José Datrino, chamado Profeta Gentileza (Cafelândia, São Paulo, 11 de abril de 1917 — Mirandópolis, São Paulo, 29 de maio de 1996) tornou-se conhecido a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba. Ele dizia ser o "amansador dos burros homens da cidade que não tinham esclarecimento". José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um consolador voluntário que passou a se chamar "José Agradecido", ou simplesmente "Profeta Gentileza".
    Caso queiram saber mais sobre o Profeta acessem o site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Profeta_Gentileza.
    Caso queiram participar da campanha “Gentileza Gera Amor e Paz” acessem o site: http://www.jornalbemestar.com.br/campanha.php e solicite gratuitamente o adesivo para carro que lhe será mandado pelo correio.

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